Nos últimos meses, especialistas vêm alertando quanto à estreita relação entre o tráfico de drogas e o comércio de madeira ilegal na América do Sul – uma realidade que está começando a ser cada vez mais notada na Argentina. Das três maiores apreensões de drogas realizadas pela Gendarmaria Nacional Argentina em fevereiro de 2022, duas foram de maconha oculta em carregamentos de madeira.
No dia 17 de fevereiro, os gendarmes faziam um patrulhamento nas imediações de Puerto Avellaneda, província de Missões, quando observaram o deslocamento suspeito de um caminhão. Ao perceber a presença dos militares, o motorista saltou do veículo, que seguiu sua marcha e colidiu com uma colina a poucos metros dali.
“Os agentes detectaram à primeira vista uma grande quantidade de toras de madeira, das quais emanava um forte cheiro característico de maconha”, informou a Gendarmaria. Ao todo, havia 1.507 pacotes com 1.002 quilos de cannabis sativa entre o carregamento de madeira.
No dia 1º de fevereiro, os gendarmes detiveram um caminhão com mais de 3 toneladas de maconha entre vigas de madeira que circulava na rota provincial 17, na altura da localidade de 9 de julho, na província de Buenos Aires. Os agentes do Esquadrão 10 Eldorado detiveram um veículo com o apoio da Unidade de Investigações de Delitos Complexos e Procedimentos Judiciais.
“Os oficiais detectaram à primeira vista um grande carregamento de madeira, mas a cadela farejadora de drogas ‘Vera’ confirmou a presença de entorpecentes”, informou a Gendarmaria em um comunicado. Durante a vistoria do caminhão, os agentes encontraram 3.348 kg de maconha embalados em pacotes retangulares escondidos embaixo da madeira.
Narcotráfico e meio-ambiente
As apreensões na Argentina mostram uma tendência já observada na Amazônia, onde os traficantes utilizam madeira ilegal para transportar cocaína e maconha. “[Há] uma crescente superposição das rotas das facções criminosas do narcotráfico com as dos grupos vinculados aos crimes ambientais”, informou o site InSight Crime, especializado em crime organizado na América Latina, em um relatório publicado no final de 2021.
“O crime ambiental pode estar servindo como uma nova forma de capitalização para os narcotraficantes, com documentos de uso de carregamentos de origem florestal para disfarçar o envio de drogas ao exterior”, disse a InSight Crime.
Fiscalização de madeira
Enquanto os gendarmes apreendiam drogas em carregamentos de madeira na Argentina, especialistas em segurança se reuniam no Brasil, entre os dias 7 e 11 de fevereiro, para um curso sobre inspeção de madeiras, oferecido pelo Gabinete das Nações Unidas para Drogas e Crimes (UNODC, em inglês).
O evento foi realizado no Centro de Integração e Aperfeiçoamento em Polícia Ambiental, uma base da Polícia Federal (PF) do Brasil no coração da selva amazônica. Participaram do curso 30 policiais federais e representantes da Colômbia, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Panamá, Paraguai e Portugal.
“O objetivo da capacitação foi fortalecer uma rede de policiais e agentes aduaneiros de países importadores e exportadores de madeiras tropicais para melhorar a governança ambiental”, disse o UNODC.
Segundo a Interpol, os grupos do crime organizado lucram até US$ 150 bilhões por ano com a exploração ilegal e o tráfico de madeira, informou o UNODC. “Os crimes florestais também estão estreitamente relacionados ao tráfico de drogas e armas e às violações aos direitos humanos”, concluiu o UNODC.