Ao longo da entrada do Oceano Pacífico ao Canal do Panamá, unidades das Forças Públicas panamenhas realizaram uma operação em resposta a uma ameaça simulada de ataque terrorista, no início de julho de 2019. O exercício PANAMAX Alpha, coordenado com a Guarda Nacional de Missouri (MONG, em inglês), buscou fortalecer a resposta a crises das forças de segurança panamenhas, para proteger essa importante rota comercial.
Mais ou menos ao mesmo tempo, na região andina de Tolemaida, Colômbia, um destacamento de 100 soldados da Guarda Nacional da Carolina do Sul (SCNG, em inglês) realizou exercícios de fogo real combinados com o Exército colombiano. A operação Together Forward tem o objetivo de fortalecer táticas, técnicas e procedimentos dos militares colombianos.
Alguns meses antes, militares da Guarda Nacional do Exército da Dakota do Sul fizeram parceria com o Exército Nacional do Suriname, para prestar assistência médica e odontológica aos residentes de uma comunidade rural na fronteira com a Guiana Francesa. O objetivo era contribuir para melhorar a saúde da população.
Todos os anos, a Guarda Nacional dos EUA realiza centenas de exercícios similares com as nações parceiras no mundo inteiro, sob a égide do Programa de Parceria Estatal (SPP, em inglês) do Departamento de Defesa dos EUA, administrado pelo Gabinete da Guarda Nacional (NGB, em inglês). Desde 1993, o SPP, que vincula uma guarda nacional estadual com as forças armadas ou públicas de uma nação parceira, vem criando relacionamentos bem-sucedidos e facilitando a cooperação através de engajamentos militares em apoio a objetivos de defesa, segurança e humanitários.
“A importância da interoperabilidade e da cooperação está relacionada a parcerias e criação de confiança”, disse o Capitão do Exército dos EUA Raymond Youngs, diretor do SPP da Guarda Nacional de New Hampshire (NHNG, em inglês), que tem parceria com El Salvador desde 2000. “Trata-se de compreendermo-nos melhor mutuamente, conhecer as expectativas e fortalecer o profissionalismo e a interoperabilidade, para que possamos cumprir melhor nossas missões.”
Em 2019, o SPP fez parcerias com 76 nações em todo o mundo, entre as quais 24 sob a supervisão do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM). De acordo com o Tenente-Coronel do Exército dos EUA Juan Mora, chefe do SPP no SOUTHCOM, em 2018, mais de 140 eventos foram realizados na América Latina e no Caribe e, novamente, em 2019.
As origens do SPP
Segundo a Sucursal de Serviços Históricos do NGB, o SPP foi desenvolvido a partir de uma decisão do Comando Europeu dos EUA para iniciar engajamentos para ajudar as antigas repúblicas controladas pela União Soviética e as nações do leste europeu a restabelecerem suas forças armadas. Na iniciativa de 1991, a Guarda Nacional desempenhou um papel proeminente ao cooperar em questões como a educação militar, o gerenciamento de desastres e as relações civis-militares. Dois anos mais tarde, nascia o SPP, criando uma parceria entre Estônia e Maryland, Letônia e Michigan e Lituânia e Pensilvânia.
Segundo o NGB, O SOUTHCOM em seguida solicitou que a Guarda Nacional se comprometesse formalmente com os países sob o seu comando e, em 1996, surgiram quatro parcerias: Belize e Luisiana, Equador e Kentucky, Panamá e Missouri e Peru e Virgínia Ocidental. No entanto, pode-se dizer que na América Latina o SPP tem suas próprias origens.
Um relatório de 1988, emitido pelo Escritório de Contabilidade Geral dos EUA sobre as atividades da Guarda Nacional dos EUA na América Central, indicou que membros da Guarda realizaram exercícios de treinamento com as forças armadas centro-americanas desde a década de 1980. As missões incluíram a construção de estradas, escolas e clínicas, além da prestação de assistência médica à população.
Esses exercícios se tornaram modelo para o trabalho que a Guarda Nacional realizaria durante seu destacamento sob a responsabilidade do SOUTHCOM nas Américas. Até hoje, o desenvolvimento médico e de engenharia continua a ser o foco principal das atividades do SPP.
Atividades para fortalecer a cooperação
As iniciativas do SPP são específicas para cada país e planejadas anualmente entre os parceiros. Por exemplo, segundo o Major do Exército dos EUA Richard Sambolin, oficial de assuntos bilaterais da MONG na Embaixada americana no Panamá, nos últimos anos os exercícios priorizaram a prontidão para o gerenciamento de emergências.
“Os intercâmbios de assuntos específicos abordaram todas as respostas a emergências na Cúpula das Américas [2015], na expansão do Canal [2016] e na visita da Santa Sé [2019]”, disse o Maj Sambolin. “A MONG pode compartilhar as lições e os métodos aprendidos para agilizar a comunicação, as solicitações de apoio e desenvolver as práticas comuns de operação.”
Entre as muitas atividades realizadas pelo SPP, estão: manutenção e logística de aeronaves; segurança de fronteiras, portos e aviação; assistência humanitária e formação de capacidades para responder a desastres; formação de capacidades para as operações de apoio à paz; apoio aos direitos humanos; e desenvolvimento de lideranças. As atividades também têm como objetivo fortalecer os laços de amizade e confiança entre os parceiros.
Em 2020, por exemplo, o Exército de El Salvador enviará soldados a New Hampshire para participar da Competição Best Warrior, um evento amistoso que busca testar a capacidade de combate dos soldados. Em 2019, a SCNG enviou quatro F-16 para participar da F-AIR na Colômbia, um espetáculo internacional de exibição aérea dedicado às indústrias aeroespaciais e de defesa, marcando o terceiro destacamento dos F-16 na Colômbia desde o início da parceria, em 2012.
Interesses mútuos
Os esforços duradouros para criar confiança e cooperação entre os parceiros também se evidenciam no momento de vincular a guarda nacional de um estado a uma nação. De acordo com o Ten Cel Mora, os recursos, as semelhanças geográficas, os laços culturais compartilhados, as ameaças comuns vindas de desastres naturais e os esforços de engajamento anteriores são alguns dos critérios considerados.
A parceria de longa data entre o Panamá e a MONG, por exemplo, remonta a um projeto de meados da década de 1980 para construir estradas, pontes, escolas e poços de água. A parceria feita em 2011 entre o Haiti e a Guarda Nacional da Luisiana, surgida com os esforços de ajuda dos reservistas depois do furacão devastador de 2010, também leva em consideração a história de colonização francesa que ambos compartilham.
Quando o SPP se concentra nas necessidades da nação parceira, os benefícios são mútuos. Como explica o General de Brigada do Exército dos EUA David Boyle, diretor do Estado-Maior Conjunto da MONG, “com o SPP todos ganhamos”.
No Panamá, os reservistas dos EUA puderam utilizar as características geográficas do país para fortalecer as habilidades de combate na selva. Na Colômbia e no Peru, os soldados enriqueceram seus conhecimentos sobre operações militares de guerrilha. As características da parceria em si também contam.
“A parceria Missouri-Panamá é singular e importante, porque o Panamá é um dos dois únicos países da América Central sem uma força militar tradicional”, disse o Gen Bda Boyle. “Isso torna o SPP ainda mais relevante, pois conecta a missão de resposta em casos de emergências e a experiência [da MONG] com as forças de segurança panamenhas: polícia, bombeiros, gerenciamento de emergência e segurança marítima, aérea e terrestre na fronteira.”
Ao mesmo tempo em que os parceiros aproveitam os conhecimentos uns dos outros, as nações também podem se beneficiar das habilidades e capacidades da Guarda Nacional dos EUA. “A capacidade está lá para que a Guarda Nacional se apoie em outras forças para obter ajuda”, disse o Capitão da Força Aérea dos EUA Stephen Hudson, diretor do SPP da SCNG, que comentou que a SCNG já pediu ajuda à Guarda Nacional de Connecticut para atender a uma solicitação das Forças Armadas da Colômbia de apoio para seu programa de adestramento de cães de trabalho.
Os EUA e as nações parceiras compartilham uma visão de longo prazo dos interesses comuns. Desde seu início na América Latina, o SPP já preservou parcerias essenciais, criando, ao mesmo tempo, laços mais fortes para um futuro mais seguro. Nos últimos anos, o SPP incluiu dois novos países: Argentina, em parceria com a Geórgia (2016) e Brasil em parceria com Nova York (2019).
“Sem sombra de dúvida, o SPP é uma iniciativa bem-sucedida e continua a superar as expectativas. Desde a sua criação, o programa vem se mantendo firme no que agora é tema estratégico do Comando, ‘Promessa Duradoura das Américas’”, disse o Ten Cel Mora. “O SPP funciona como um catalizador para fortalecer e manter nossas alianças e parcerias no hemisfério ocidental, o que ajuda a acelerar e moldar a expansão global do espaço competitivo, de forma a promover os nossos interesses mútuos.”