Em 2021, a Marinha da Colômbia quebrou seu recorde histórico de apreensões de drogas com 403 toneladas de substâncias ilícitas confiscadas. A Colômbia é responsável por dois terços da área global de cultivo de folhas de coca e produção de cocaína, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2021, um estudo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. A maior parte do cultivo de coca ocorre nos departamentos de Antioquia, Caquetá, Guaviare, Meta, Nariño, Putumayo e Vichada, em áreas de fronteira com a Venezuela – onde grupos armados e traficantes de drogas operam –, que estão vendo um recente aumento. O regime de Maduro “demonstra uma completa relutância em efetuar as mudanças políticas mais do que necessárias para fazer cumprir as leis existentes. Isso cria um nível extremo de impunidade exacerbada pela falta de transparência e altos níveis de corrupção”, relatou o PanAm Post. Isso funciona como um incentivo aos produtores de coca, que veem a Venezuela como um porto seguro, e o país outrora mais rico da América Latina, principalmente por causa do petróleo, está agora se tornando um ponto central não só para a venda de narcóticos no mundo ocidental, mas também para a produção de cocaína.
A InSight Crime, uma fundação dedicada ao estudo das principais ameaças à segurança nacional e interna da América Latina e do Caribe, descobriu evidências da presença de quantidades significativas de plantações de coca em pelo menos três municípios de Zulia, e mais dois ao sul, no estado de Apure, cujas informações são verificadas e corroboradas cada vez por múltiplas fontes confiáveis. Além disso, fontes no campo, agências internacionais e os próprios relatórios do regime venezuelano mostram que os laboratórios de cristalização usados para processar a pasta de coca em hidrocloreto de cocaína têm proliferado nas mesmas áreas, de acordo com o mesmo relatório da Insight Crime, do começo de maio de 2022.
O quarto maior país produtor de cocaína do mundo
Há algum tempo, a Venezuela está sendo considerada um importante país de trânsito de cocaína, através de rotas aéreas e marítimas, como mostra o Relatório de Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos do Departamento de Estado dos EUA de 2022. O mesmo relatório afirma que quase 24 por cento da produção global de cocaína transita pela Venezuela. O tráfico de cocaína da Venezuela para os Estados Unidos está em alta, mesmo estando o país sul-americano em colapso. Autoridades dos EUA e de outros países da região dizem que é a própria elite militar e política da Venezuela que está facilitando a passagem de drogas dentro e fora do país em centenas de pequenos aviões não identificados, informa o site da CNN.
Por mais incipiente que seja, a produção de cocaína na Venezuela não deve ser ignorada. A região fronteiriça do país, pobre, isolada, abandonada pelo Estado e dominada por grupos armados, especialmente grupos guerrilheiros colombianos, representa um prato feito para que isso se espalhe e, em um país aprisionado em uma crise econômica, governado por um regime corrupto e devastado pela criminalidade, isso é algo muito perigoso, diz a Insight Crime. O relatório intitulado Revolução da Cocaína na Venezuela afirma que “hoje, a Venezuela está em risco de se tornar o quarto maior país produtor de cocaína do mundo”.
Mildred Camero, ex-presidente da Comissão Nacional contra o Uso Ilícito de Drogas da Venezuela (o atual Escritório Nacional Antidrogas), disse em uma entrevista de 2020 à Diálogo que as mudanças não estão relacionadas apenas ao uso do território nacional para produzir drogas, mas também à participação dos venezuelanos em diferentes partes desse processo, desde o cultivo da coca até a distribuição e o comércio. “Há grupos dentro da juventude venezuelana que estão envolvidos no cultivo da coca”, disse Camero. “São rapazes que recebem US$ 10 por cada bolsa de folhas de coca.” Muitos deles cruzam a fronteira para trabalhar nas lavouras e colher folhas de coca. Mas, segundo Camero, esta dinâmica “criará na Venezuela uma população que se dedica ao cultivo [de drogas] em seu próprio país. São os que abandonam a escola que podem criar um problema geracional a longo prazo, com consequências para a estabilidade democrática do país”, disse ela.
O regime de Maduro está supostamente operando como um regulador desse mercado ilícito. “Organizações criminosas infiltraram-se em todas as instituições do Estado [da Venezuela]”, disse um ex-funcionário da Procuradoria Geral, que falou à InSight Crime sob a condição de anonimato. “Todos eles têm uma série de funcionários pagos para que possam movimentar suas remessas.”
“Para ser um narcotraficante na Venezuela, é preciso a bênção do regime de Maduro, conexões com os militares para transportar as drogas e ligações com as guerrilhas colombianas para a produção”, concluiu Jeremy McDermott, diretor executivo e co-fundador da InSight Crime.