Em um livro recém-publicado, o think tank Diálogo Político, com sede no Uruguai, adverte que os regimes de esquerda na América Latina estão corroendo as instituições democráticas e ameaçando a estabilidade do hemisfério. A chamada “maré rosa” na América Latina, argumenta Diálogo Político, tornou-se uma “galáxia rosa” de atores, instituições e associações, dominada por seus “planetas” mais autoritários, com o apoio da China, Rússia e Irã, que exploram a galáxia rosa para seus próprios interesses geopolíticos.
Luis Fleischman, professor de sociologia e ciência política da Universidade Estadual de Palm Beach, na Flórida, consultado em 10 de maio por Diálogo, observou que “a deterioração democrática na América Latina é uma preocupação séria apoiada por atores com uma agenda clara, como a Rússia, a China e o Irã, que demonstram pouco interesse na democracia”.
Em A galáxia rosa, Como o Foro de São Paulo, o Grupo de Puebla e seus aliados internacionais minam a democracia na América Latina, Diálogo Político sugere que a galáxia rosa opera como um partido transnacional da esquerda autoritária, apoiado por uma ampla rede de indivíduos e organizações que atuam em conflitos legais e apoiam candidaturas internacionais. Também se opõe ao neoliberalismo e apoia ditaduras, tendo Cuba como ator central.
Diálogo Político argumenta que as ditaduras, seja na América Latina, na China ou no Irã, compartilham características comuns: violação dos direitos humanos, repressão estatal, concentração de poder, existência de presos políticos, uso de tortura e exílio e crimes.
Direitos e liberdades
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De acordo com essas preocupações, o relatório anual da ONG Anistia Internacional, publicado em abril, mostra um quadro preocupante em países alinhados com a galáxia rosa, como Cuba, Nicarágua, Venezuela e Bolívia, ressaltou Diálogo Político.
A ONG destaca o assédio e a perseguição de ativistas em Cuba, as detenções arbitrárias e a impunidade por crimes contra a humanidade na Nicarágua, o uso indevido da força e as violações dos direitos econômicos e sociais na Venezuela, bem como a falta de independência judicial para proteger os direitos humanos na Bolívia.
Esses países, de acordo com Diálogo Político, são considerados por China, Irã e Rússia como áreas-chave para expandir sua influência. Esses atores externos compartilham uma visão contrária aos valores democráticos, buscando promover uma multipolaridade que desafia os princípios democráticos e os direitos humanos, de acordo com a revista espanhola Política Exterior.
O controle social exercido por regimes autocráticos na Venezuela e na Nicarágua está em ascensão. Esses regimes mantêm uma forte aliança com a Rússia, que descarta qualquer forma de dissidência como “fascista”, observa Diálogo Político. “Estamos diante de uma urgência imperativa para desenvolver uma estratégia para combater essa situação”, alertou Fleischman.
Fleischman também destacou a complexa situação na Venezuela, especialmente no contexto das próximas eleições presidenciais. “As eleições de julho na Venezuela vão terminar mal, pois o regime de Maduro está buscando perpetuar-se no poder. Esse será um momento para exigir uma resposta da sociedade civil, em um ambiente onde a repressão e o controle são abundantes.”
Abraçando o Irã
O Irã está cada vez mais buscando fortalecer sua cooperação em defesa na região, principalmente com Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela, informa o diário nicaraguense La Prensa. A Bolívia não só está demonstrando interesse em adquirir drones iranianos para “melhorar a segurança nas fronteiras”, como também recebeu mais de 700 membros da Força Quds, o braço armado de elite do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, acrescentou La Prensa.
Além disso, La Paz criou uma escola anti-imperialista para as forças armadas latino-americanas, com instrutores do Irã, Cuba e Rússia, informou o diário venezuelano El Nacional. A Venezuela, por sua vez, vem fortalecendo sua aliança com o Irã, assinando 25 acordos bilaterais em setores como petroquímica, mineração e transporte. Cuba e Irã assinaram seis acordos em áreas como tecnologia da informação, telecomunicações e serviços portuários, informa La Prensa.
Sem pausa
De acordo com a revista espanhola Política Exterior, a China e a Rússia estão fazendo progressos constantes na América Latina. Pequim está investindo pesadamente em laços econômicos, culturais e de segurança, para fortalecer sua influência.
A presença da Rússia na América Latina é baseada em dois pilares, de acordo com o Real Instituto Elcano, da Espanha. Por um lado, a colaboração político-militar com Cuba, Nicarágua e Venezuela facilita a instalação de bases e destacamentos militares na região. Por outro lado, a Rússia emprega uma intensa propaganda por meio de sua mídia RT e Sputnik Mundo, com programas em espanhol e uma forte presença nas redes sociais. Essa estratégia busca culpar o Ocidente pelos problemas políticos, sociais e econômicos da região e do mundo.
Outro fator
Além disso, outro fator se soma à deterioração da democracia na região. A tendência autoritária de esquerda “está entrelaçada com os interesses dos cartéis de drogas”, observou Fleischman. “Esses grupos criminosos se aproveitam da proteção oferecida por esses regimes.”
Para Fleischman, essa situação na América Latina representa uma ameaça à segurança regional. Atores como Rússia, China, Irã, Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela “buscam minar a ordem democrática liberal, o que implica a destruição dos direitos dos cidadãos”, concluiu.