A Marinha da Colômbia foi a anfitriã do UNITAS LXIV, o exercício marítimo multinacional mais antigo do mundo, em Cartagena, de 11 a 21 de julho de 2023.
Vinte e seis navios de guerra, três submarinos, 25 aeronaves (de asa fixa e helicópteros) e aproximadamente 7.000 participantes de 20 nações parceiras estiveram presentes para realizar operações marítimas de adestramento conjunto, que melhoram a proficiência tática e aumentam a interoperabilidade.
Ao mesmo tempo, a Marinha da Colômbia celebra um marco histórico que comemora seus 200 anos de existência.
O Almirante de Esquadra Francisco Hernando Cubides Granados, comandante da Marinha da Colômbia, conversou com Diálogo sobre a importância do UNITAS e os novos desenvolvimentos do exercício.
Diálogo: Qual é a importância para a Marinha Nacional da Colômbia de ser a anfitriã do Exercício Multinacional UNITAS?
Almirante de Esquadra Francisco Hernando Cubides Granados, comandante da Marinha da Colômbia: O UNITAS é a operação naval multinacional que ocorre anualmente e permite verificar os níveis de interoperabilidade de todas as unidades participantes, a fim de otimizar as capacidades de cada uma delas, para combater eficientemente as ameaças de ordem assimétrica ou de guerra regular no hemisfério. Ser o anfitrião tem um grande significado, pois é sob essa designação que se realiza toda a organização, liderança das reuniões de planejamento e execução do exercício, o que permite à Marinha da Colômbia fortalecer seus conhecimentos e capacidades operacionais, para liderar uma força multinacional em uma situação de crise.
Este ano também tem uma conotação especial, pois a Marinha da Colômbia comemora o 200º aniversário da vitória de nosso maior herói naval, o Grande Almirante de Esquadra José Padilla López e seus bravos marinheiros, na batalha decisiva do Lago Maracaibo, um triunfo que representou a consolidação da independência de toda a América Latina. Portanto, em meio a essa celebração histórica, foi uma honra para a Colômbia ser a anfitrião da versão LXIV do exercício multinacional UNITAS.
A heroica Cartagena das Índias teve a honra de receber os nobres e corajosos marinheiros de 20 países, tripulantes de 23 navios, bem como as tripulações de 29 aeronaves e os membros dos grupos de forças especiais, grupos de desminagem, mergulhadores e fuzileiros navais. Também tivemos o privilégio de sediar a SOLIDAREX 2023, em sua terceira versão, mas a primeira no Caribe. De fato, pude presenciar em Coveñas os diferentes exercícios de assistência humanitária, testemunhando as capacidades e a eficiência de uma Força-Tarefa Multinacional composta por oito países com 12 navios, unidades aeronavais, grupos de mergulho e busca e resgate, em um total de 2.275 tripulantes. Essa assistência constitui a versão com o maior número de participantes, prontos para atuar de forma coordenada como primeira resposta a desastres naturais de grande magnitude no hemisfério.
Diálogo: A Colômbia sediou o UNITAS em 2002, 2005, 2013 e 2018. Quais são as lições aprendidas no planejamento de exercícios no nível de Forças-Tarefa Multinacionais?
Alte Esq Cubides: Cada operação é diferente, embora treinemos exercícios típicos. Os avanços tecnológicos e as diferentes ameaças estão mudando e, portanto, devemos nos adaptar. No planejamento do UNITAS 2023, tivemos que pensar em como realizar exercícios relevantes com veículos não tripulados, de defesa contra ameaças híbridas, bem como defesa cibernética e segurança cibernética. Durante o planejamento, também pensamos em incluir simpósios de especialistas, guarda-costas, por exemplo, para que o pessoal especializado pudesse compartilhar seus conhecimentos e experiências.
Diálogo: O UNITAS reúne unidades navais da América Latina e do Caribe, tanto navios de guerra quanto submarinos. Qual é o propósito fundamental desse intercâmbio naval?
Alte Esq Cubides: O exercício UNITAS representa uma oportunidade para fortalecer a interoperabilidade entre as diferentes forças participantes, bem como uma ocasião inigualável para fomentar a confiança entre as Forças Militares das Américas, identificando desafios comuns à segurança hemisférica e trabalhando em conjunto para enfrentar as ameaças transnacionais.
O UNITAS nos oferece uma oportunidade para que as forças navais de nossos países treinem em uma ampla variedade de cenários e aprimorem sua capacidade de operar como uma única força multinacional. O treinamento intensivo se concentra no fortalecimento das coalizões e da cooperação em segurança marítima, bem como em aprofundar o entendimento mútuo e os laços profissionais e de amizade.
Diálogo: A Colômbia é a única nação latino-americana que tem participado de maneira ininterrupta das edições do UNITAS, desde 1959. A que se deve esse interesse?
Alte Esq Cubides: Depois de 200 anos de história e poder naval, a Marinha da Colômbia continua comprometida com a segurança regional, construindo a paz e promovendo o desenvolvimento das Américas, especialmente como uma nação central, próxima ao Canal do Panamá, um ponto geográfico estratégico para a economia mundial. Portanto, faremos nossos melhores esforços para continuar fortalecendo a cooperação, para enfrentar as ameaças comuns no ambiente marítimo, aumentando a interoperabilidade sob os mais altos padrões navais militares, e nossa participação ininterrupta no UNITAS é prova disso. Dessa forma, estamos sempre prontos e dispostos a combater ameaças como o narcotráfico, a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, o tráfico de pessoas, a migração ilegal ou as mudanças climáticas.
Diálogo: O UNITAS é promovido pelo Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM). Por que é importante para a Colômbia trabalhar com o SOUTHCOM no exercício naval mais antigo do mundo?
Alte Esq Cubides: Acredito que a Colômbia deve trabalhar lado a lado com nossos aliados mais valiosos, para manter a paz e os valores democráticos no hemisfério. O SOUTHCOM mantém o mesmo compromisso e, portanto, é dever e trabalho da Marinha da Colômbia fortalecer os laços de cooperação, especialmente em torno do planejamento e da execução contínua de um exercício multinacional tão importante como o UNITAS.
Diálogo: O que há de novo no UNITAS em sua 64ª iteração?
Alte Esq Cubides: Esse exercício tem evoluído ano após ano, ampliando seus objetivos de treinamento, passando de manobras estritamente navais a outros campos, entre os quais se destacam os exercícios anfíbios, fluviais, de Forças Especiais, de mergulho e de desminagem. De fato, a presente 64ª versão é considerada a mais abrangente na história do UNITAS, pois contamos com diferentes especialidades disponíveis, permitindo realizar operações navais, aéreas e expedicionárias e fortalecer a assistência humanitária e a resposta a desastres. Juntos, realizamos mais de 80 exercícios nos domínios marítimo, fluvial, aéreo, terrestre e cibernético.
Pela primeira vez na história da Operação UNITAS, a inclusão de um exercício de operações cibernéticas (defesa cibernética, segurança cibernética e inteligência cibernética) foi proposta e aprovada pelos diversos países participantes. Em um mundo em constante mudança e avanço, os ataques no ciberespaço se tornaram mais frequentes, buscando afetar o comando e o controle ou a infraestrutura crítica, para gerar o caos ou acessar informações confidenciais. Esse exercício foi dirigido pela Marinha da Colômbia, liderada pela chefatura de Inteligência Naval com seu Comando Cibernético, em duas fases. A primeira foi para a tomada de decisões sob ameaças cibernéticas e a segunda com um componente técnico, em que especialistas de diferentes países desenvolveram um cenário de ataque e defesa de um navio em um ambiente simulado no espaço cibernético. O objetivo desse exercício é blindar as operações navais no espaço cibernético e intercambiar experiências e melhores práticas nesse domínio, para o qual ainda não existe um padrão totalmente definido.
Diálogo: Como o UNITAS fortaleceu as operações navais entre as nações parceiras para combater as ameaças no mar, especialmente na luta contra o narcotráfico?
Alte Esq Cubides: A interoperabilidade e as relações multilaterais que são fortalecidas no UNITAS foram extrapoladas no âmbito da luta contra o narcotráfico. Uma das iniciativas que deram origem a essa interoperabilidade foi a Campanha Naval Orión contra o Narcotráfico, da qual a Colômbia é líder desde sua criação em 2018. Em 2023, acabamos de encerrar a versão número XI, com mais de 1.000 toneladas de drogas apreendidas desde a primeira campanha entre os 40 países, com participantes de 101 instituições e seis organizações multilaterais. Estamos, inclusive, tomando todas as providências necessárias para incluir países da área de influência do Indo-Pacífico. Dessa forma, as Américas estão se tornando um centro de liderança contra o narcotráfico e outras ameaças transnacionais.