Fortalecer o capital humano, manter e aumentar o alistamento operacional e o planejamento estratégico são os desafios estabelecidos pelo General de Exército Javier Eduardo Iturriaga del Campo, comandante do Exército do Chile, que assumiu o comando em 9 de março de 2022.
O Gen Ex Iturriaga falou com Diálogo sobre sua visão de comando, o capital humano e as capacidades institucionais para o sucesso da missão militar.
Diálogo: O senhor é o 61º comandante-em-chefe do Exército do Chile. Qual é seu desafio mais importante como comandante-em-chefe?
General de Exército Javier Eduardo Iturriaga del Campo, comandante do Exército do Chile: Tenho a missão de promover os processos de modernização que nos permitirão enfrentar os desafios que nos apresentam os tempos modernos, de acordo com o mandato que nos é imposto pela Constituição e pelas leis, bem como com as exigências que nos são feitas diariamente pelos cidadãos que servimos.
O desafio mais importante está focado em nossos soldados, em prepará-los, motivá-los, instruí-los, treiná-los, dar-lhes o respeito e as possibilidades de crescimento tanto profissional quanto pessoal que eles merecem. O Chile tem um Exército de profissionais formado por pessoas motivadas e com alta vocação para servir seu país, o que devemos não apenas manter, mas também fortalecer, pois somente com eles poderemos enfrentar com sucesso qualquer desafio que o futuro nos imponha.
Diálogo: Em seu discurso de posse, o senhor anunciou quatro linhas principais de ação: capital humano, exercer o comando com sentido humano em todos os níveis, manter e aumentar o alistamento operacional e o planejamento estratégico. Que estratégias o senhor está implementando para o sucesso de sua ação?
Gen Ex Iturriaga: A estratégia e a responsabilidade central pela implementação dessas quatro linhas de ação são múltiplas e vão desde nosso sistema educacional até a gestão apropriada dos comandos em cada unidade. Não podemos concentrar-nos neste comando-em-chefe, mas ele deve ser entendido como uma missão a ser cumprida por todos nós que fazemos parte do Exército. É por isso que, em minhas primeiras semanas, visitei uma grande parte das unidades do país para conversar diretamente com todos os oficiais, graduados e soldados que as compõem, a fim de transmitir-lhes este conceito de comando e explicar-lhes que, dentro dele, todos nós temos uma missão a cumprir.
Essas visitas incluem as unidades que estão destacadas no terreno e, sendo fiel à mensagem que quero transmitir de confiança e exemplo, envolveram passar vários dias com nossos soldados para conhecer em primeira mão suas aspirações, dificuldades e projetos.
Nossa verdadeira força, como instituição militar, reside em nosso povo, em sua unidade, coesão e eficiência, em que todos possamos exercer plenamente nossa vocação de serviço, com base no mérito e no esforço pessoal.
Posso dizer que, nesta jornada que manterei durante todo o meu período de comando, pude constatar que o Chile não só possui um dos exércitos mais profissionais e bem equipados da região, que é reconhecido tanto interna quanto externamente, mas também é formado por homens e mulheres de grande vocação e de altíssimo nível profissional.
Diálogo: Que novas capacidades tem a Brigada de Aviação do Exército do Chile?
Gen Ex Iturriaga: A Brigada de Aviação do Exército desempenha um papel fundamental dentro da nossa instituição em matéria de defesa, mas também é uma grande ferramenta para que possamos socorrer a comunidade em caso de desastres ou emergências, razão pela qual potencializamos suas capacidades de caráter polivalente.
Nossos helicópteros foram equipados com sistemas de contêineres de água Bambi Buckets de 1.000 e 1.300 litros para o combate a incêndios florestais, bem como sistemas de gancho de carga externa para o transporte de alimentos e forragem para animais, entre outros objetos, para que possamos levar rapidamente ajuda a áreas isoladas. Também os capacitamos para que possam cumprir sua função de busca e resgate com câmeras térmicas (FLIR) e outras ferramentas especializadas. A Brigada conta com uma unidade específica e altamente treinada para realizar essas tarefas, que é a Unidade de Resgate Aéreo.
Nossos helicópteros e aeronaves foram equipados com macas para transportar doentes e feridos, bem como pacientes de distinta complexidade, capacidades que foram extremamente úteis na recente pandemia.
Finalmente, o objetivo é que nossas tripulações possam voar as 24 horas do dia e em qualquer condição climática, se for necessário; por isso também as equipamos com viseiras noturnas.
Diálogo: A Academia de Guerra do Exército conta com oficiais estrangeiros. Como se realizam esses intercâmbios internacionais?
Gen Ex Iturriaga: O Exército do Chile tem orgulho de ter uma das academias de guerra mais antigas do mundo e está prestes a comemorar seu 136º aniversário. Nessa longa trajetória, ela foi fundamental não só para a formação de nossos oficiais, mas também para a criação de academias similares em vários países da América Latina (Equator, Colômbia e El Salvador), onde muitos de seus professores fizeram cátedras, como fizeram e continuam fazendo nas universidades nacionais.
Hoje a Academia recebe estudantes e professores da Alemanha, Argentina, Brasil, Colômbia, Coréia [do Sul], Equador, Espanha, Estados Unidos e México, bem como oficiais da Marinha e da Força Aérea do Chile.
Os intercâmbios e atividades com os exércitos dos países amigos são realizados em conformidade com nosso papel de cooperação em assuntos internacionais e no âmbito da política permanente do Chile de contribuir para a paz entre as nações, em plena coordenação com os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores.
A Academia de Guerra está aberta ao mundo civil e, desde 2015, temos tido funcionários chilenos pertencentes ao Ministério da Defesa e das Relações Exteriores incorporados em nossos cursos; ensinamos mestrado em História Militar e Pensamento Estratégico; em Planejamento e Gerenciamento de Riscos de Desastres; e em Planejamento e Gerenciamento Estratégico, para todos aqueles que queiram fazê-los.
Diálogo: O exercício de treinamento Vanguarda Sul é realizado com o Exército Sul dos EUA. Que outros tipos de intercâmbio realizam e quais são os benefícios?
Gen Ex Iturriaga: Uma de nossas áreas de missão é contribuir para a cooperação internacional e a política externa de nosso país e, nesse contexto, o Exército mantém uma ampla agenda de conhecimento e cooperação a nível regional e internacional com as nações parceiras. As Forças Armadas do Chile estão atualmente participando de várias missões de paz, especificamente na Bósnia-Herzegovina, Chipre, Colômbia e Oriente Médio, e nesta área também participam de exercícios como o Vanguarda Sul do Comando Sul.
No ano passado [2021], fizemos esse exercício em nossas montanhas, a uma altitude de quase 3.000 metros, oportunidade na qual os soldados norte-americanos compartilharam experiências com nossos soldados na área de Portillo (a aproximadamente 100 quilômetros de Santiago), durante 13 dias de treinamento de alto nível de exigência para os participantes.
Temos o Exercício Volcano entre Chile e Argentina, o Exercício de Operações Especiais Estrella Austral entre Chile e Estados Unidos e o Exercício Worthington Challenger, organizado pelo Exército do Canadá. Há também intercâmbios entre as academias militares dos EUA e do Chile, como a de West Point e a Escola Militar Bernardo O’Higgins, a competição Sandhurst e o exercício de ajuda e assistência humanitária organizado pelas Forças Armadas francesas no Pacífico.
Na Europa, assistimos a vários exercícios de treinamento, como o Cambrian Pastrol, do Exército do Reino Unido, e os exercícios de operações espaciais e de defesa cibernética com Espanha e Portugal.
Os benefícios dessas operações são muito relevantes, porque nos permitem confraternizar com militares de outros países, para que nos conheçam e saibamos como eles operam. Esses exercícios proporcionam aos nossos soldados uma experiência de vida insubstituível, como operar com militares de outros países e em um idioma diferente, o que está de acordo com um dos principais objetivos de nosso comando, que é aumentar suas capacidades e conhecimentos e abrir novas expectativas para suas carreiras militares.
Diálogo: Que progressos foram feitos na profissionalização dos graduados?
Gen Ex Iturriaga: A inovação curricular que envolve nossos graduados, que são o coração de nossa força, é a prioridade do Sistema de Educação Institucional do Exército, que estabeleceu esses novos padrões de capacitação para estar de acordo com as capacidades exigidas pela força terrestre, que se tornou muito exigente, de acordo com os sistemas de armas que operamos e as funções que desempenhamos.
A carreira na Escola de Graduados foi atualizada através do Plano Rebolledo, que modificou a formação profissional dos futuros cabos e sargentos da instituição não apenas em termos de tempo, que passou de um a dois anos de formação comum e manteve um ano profissional, mas também homologou seus respectivos níveis ao conteúdo da malha curricular dos oficiais.
Essa mudança originou uma série de atualizações na carreira profissional: hoje existe um novo curso básico para graduados de Arma e Serviços, que seria o terceiro ano de treinamento, no qual o cabo recebe sua especialização para continuar com um processo de sequência de formação do quadro permanente que, por sua vez, termina em um diploma concedido pela Academia Politécnica Militar.
Esta nova seqüência de capacitação articula diferentes conhecimentos e cursos de ensino de requisitos, tais como o Curso de Aspirante a Graduado de Arma ou Serviço, onde o perfil do sargento enfatiza a área de assessoria, seja como assistente de Estado-Maior ou como chefe de gabinete. É importante notar que a promoção a graduado sênior, a maior honra a que nossos graduados podem aspirar, é composta de outra série de requisitos e elementos, sendo um deles um teste de conhecimento que outorga uma maior objetividade ao processo.