A invasão da Rússia à Ucrânia está afetando o abastecimento de grãos, a aquisição de fertilizantes e o custo dos alimentos no mundo inteiro, devido ao fechamento de portos e ataques a navios no Mar Negro, indica a mídia internacional.
De acordo com o site de notícias alemão DW, as forças russas impediram até 300 navios de sair do Mar Negro, bloqueando uma das principais rotas de comércio de grãos do mundo.
“Atualmente, são exportados zero [grãos] dos portos ucranianos: nada está saindo do país”, disse Jörg-Simon Immerz, chefe de marketing de grãos do maior comerciante agrícola da Alemanha, BayWa, acrescenta DW.
Tanto o Mar Negro quanto o Mar de Azov adjacente são rotas fundamentais para a exportação de alimentos e, desde o início da invasão da Ucrânia, cinco navios petroleiros e cargueiros do Japão, Turquia, Moldávia e Estônia foram atingidos por mísseis russos, informou o diário argentino Cronista, em 9 de março de 2022.
A Autoridade Marítima do Panamá (AMP) confirmou que 10 navios com bandeira panamenha estão presos no Mar Negro, e três deles foram atingidos por mísseis russos.
“Dos três navios [atacados], um afundou e os outros dois ainda estão flutuando com danos materiais”, disse Noriel Araúz, administrador da AMP, em um vídeo do jornal La Estrella de Panamá, em 16 de março.
“Não houve nenhum precedente que se aproximasse de algo assim desde a Segunda Guerra Mundial”, disse David M. Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (WFP, em inglês), a agência da Organização das Nações Unidas que alimenta 125 milhões de pessoas por dia, a The New York Times.
Furacão da fome
“Uma porção crucial de trigo, milho e cevada do mundo está presa na Rússia e na Ucrânia por causa da guerra, enquanto uma porção ainda maior de fertilizantes do mundo está imobilizada na Rússia e em Bielorrússia. O resultado é um aumento vertiginoso dos preços dos alimentos e fertilizantes”, detalhou The New York Times.
Os agricultores do Texas ao Brasil estão reduzindo os gastos com fertilizantes e isso ameaça o volume das próximas safras; em todo o mundo, o resultado será refletido em custos mais altos nos supermercados, acrescentou o jornal.
A Ucrânia e a Rússia são responsáveis por mais da metade do fornecimento global de óleo de girassol e cerca de 30 por cento do trigo mundial, enquanto a Ucrânia proporciona mais da metade do fornecimento mundial de trigo ao WFP, a maior agência humanitária do mundo.
“Devemos fazer todo o possível para evitar um furacão de fome e o colapso do sistema alimentar mundial”, disse o secretário geral da ONU, António Guterres, em 14 de março. “O conflito vai além da zona de confronto; é um assalto aos países mais pobres”, acrescentou.
“Não se trata de saber se estamos caminhando em direção a uma crise alimentar global, mas sim quão grande será a crise”, disse à BBC Svei Tore Holsether, presidente executivo da Yara International, uma produtora norueguesa de fertilizantes que opera em mais de 60 países.
Efeitos na Colômbia
A invasão da Rússia à Ucrânia tem trazido efeitos devastadores. A América Latina não é exceção, diz um vídeo da Voz da América (VOA). A chegada na Colômbia de alguns insumos agroquímicos da Ucrânia afetou os custos dos produtos da cesta básica de alimentos, segundo a VOA.
“Se as condições atuais continuarem daqui a três, quatro meses, os custos de produção dos agricultores colombianos sofrerão. Isto poderia levar a uma redução no uso de fertilizantes e […] menos semeadura”, disse à VOA Jorge Bedoya, presidente da Sociedade Colombiana de Agricultores.
De acordo com o Ministério das Finanças da Colômbia, os produtos que poderiam sofrer a maior escassez são vegetais, batatas, arroz, cana de açúcar e milho, informou a VOA. Hoje em dia, as cadeias de produção são globais e nenhum país pode sobreviver por si só, destaca o site da Universidade Tecnológica de Bolívar, na Colômbia.
Os preços internacionais dos alimentos poderiam aumentar outros 22 por cento se a interrupção do comércio mundial causada pela invasão russa da Ucrânia for prolongada, projetou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Os preços globais dos fertilizantes também poderiam aumentar em até 13 por cento.