O narcotráfico, a mineração ilegal e o tráfico de madeira na América Latina não só causam violência, mas também destroem o meio-ambiente.
“O ano de 2020 registrou um recorde na destruição da Amazônia, com uma perda de terrenos de selva equivalentes quase ao território de Belize, e o panorama se mostra ainda mais desolador para 2021”, publicou em dezembro de 2021 a InSight Crime, uma organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina.
“O desmatamento está mais do que nunca interligado às atividades criminosas”, acrescentou. “Aqueles que participam da mineração ilegal de ouro, do narcotráfico e do tráfico de madeira trabalham […] lado a lado […] para destruir os pulmões do planeta […]. A terra [é] retirada para construir pistas de pouso para as aeronaves do narcotráfico […], [e] as estradas clandestinas construídas no meio da selva podem ser utilizadas para o transporte dos entorpecentes, minerais, madeira e contrabando.”
Guatemala
Na Guatemala, o Grupo Gênesis, unidade do Conselho Nacional de Áreas Protegidas que combate os crimes ambientais nas zonas de mais difícil acesso da Reserva da Biosfera Maya, no norte do país, é vítima de ameaças de morte pelos narcotraficantes, madeireiros ilegais e caçadores clandestinos, revelou em dezembro a plataforma de jornalismo ambiental Mongabay Latam.
Na América Latina, as organizações do narcotráfico são a “vanguarda do desmatamento”; estima-se que até 60 por cento do corte de árvores na região seja “narcodesmatamento”, publica o portal de jornalismo independente The Conversation, com sede na Austrália. A Guatemala perdeu nos últimos 20 anos 22,3 por cento de suas matas e deixou de ser uma nação rica em florestas para ser um país desmatado, informou a agência de notícias espanhola EFE.
Colômbia
Nos últimos cinco anos, a Colômbia vem sofrendo com o desmatamento e a retirada de terras para o cultivo de coca, a mineração e o corte ilegal de árvores, que aceleram a perda das matas e selvas. A destruição é liderada pelo Exército de Libertação Nacional e pelas dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, segundo o site da ONG Crisis Group, da Bélgica.
Os cultivos ilegais não são o único dano ambiental causado pela produção de drogas. Por exemplo, os produtos químicos para processar a folha de coca nos laboratórios são despejados no lugar, contaminando o solo e as fontes de água da selva amazônica, de acordo com a Crisis Group. São necessários cerca de 500 quilos de substâncias químicas para se produzir 1 kg de droga, garante o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, em inglês).
Graças a operações constantes, a Colômbia é o país com os maiores volumes de substâncias químicas apreendidas, informa o UNODC. Em 2021, as autoridades apreenderam mais de 640.000 kg de cocaína e mais de 55 toneladas de insumos sólidos, informou o Ministério da Defesa da Colômbia no Twitter, no dia 14 de janeiro de 2022. Com a campanha Artemisa, iniciada em abril de 2019, foram recuperados mais de 22.600 hectares de selva que estavam sendo degradados, acrescentou Deisy Jaramillo, diretora nacional especializada em Direitos Humanos da Procuradoria da Nação.
Peru
Em janeiro de 2022, o site Mongabay Latam publicou que “a escalada de violência que enfrentam os povos indígenas no Peru está relacionada à mineração e ao corte ilegal de árvores, mas principalmente ao narcotráfico, um crime que, além de causar desmatamento, mantém muitas comunidades nativas encurraladas.
As atividades ilegais afetam o meio-ambiente e ameaçam os defensores ambientais. “Durante esse tempo de pandemia [2020-2021] ocorreram 10 assassinatos de pessoas e líderes indígenas que defendiam suas florestas”, disse Lissette Vásquez, assessora de Meio-Ambiente, Serviços Públicos e Povos Indígenas da Defensoria do Povo do Peru, ao Mongabay Latam.
No entanto, as nações parceiras trabalham incansavelmente contra esses flagelos. A Colômbia e o Peru, por exemplo, fizeram um acordo no dia 13 de janeiro de 2022 para fortalecer o combate ao crime organizado transnacional, informou à imprensa o Ministério da Defesa da Colômbia. O acordo permitirá o trabalho conjunto contra crimes transnacionais, narcotráfico e grupos armados organizados; o intercâmbio de inteligência para combater as ameaças; a proteção ao meio-ambiente; e as operações contra a mineração ilegal.