No início de 2016, o General e comandante-em-chefe do Exército da Nicarágua Julio César Avilés e o General-de-Brigada do Exército de Honduras Francisco Isaías Álvarez Urbina, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, assinaram um protocolo de trabalho pelo qual foi criada a Força-Tarefa Conjunta Sandino-Morazán. Isso significou um passo adicional na luta dos países centro-americanos contra as organizações do crime organizado transnacional. Para tratar desse e de outros temas, Diálogo conversou com o Gen Brig Álvarez durante a Conferência Centro-Americana de Segurança 2017 (CENTSEC, por sua sigla em inglês), realizada em abril, em Cozumel, México.
Diálogo: Qual é seu principal desafio como chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas de Honduras?
General-de-Brigada Francisco Isaías Álvarez Urbina: Um dos principais desafios de qualquer chefe de Estado-Maior é ter uma força capaz de enfrentar ameaças. É manter uma força capaz de cumprir as missões de forma eficiente. Estamos trabalhando nesse sentido, a fim de orientar nossas forças para que possam enfrentar estas ameaças. Desde o início é preciso conhecer e estudar a ameaça para então desenvolver as forças e capacitações para poder operar.
Diálogo: A ameaça a que o senhor se refere é o crime organizado transnacional?
Gen Brig Álvarez: Sim, e creio que não seja apenas em Honduras. É uma ameaça muito forte, em especial o narcotráfico. Vendo-o como narcotráfico em si, é uma cabeça, um monstro bem forte, com muito poder econômico. Transcende não só no que se refere a uma nação, ao contrário, não tem fronteiras. Este poder econômico lhes permite influenciar as autoridades, comprar vontades… então, creio que estamos diante de um oponente muito forte; é uma força que precisa ser combatida com vontade. Um soldado que enfrenta a ameaça do narcotráfico tem que saber o que está enfrentando. O soldado também tem que rechaçar qualquer tentação que possa vir desse monstro.
Diálogo: E o senhor está de acordo com o que disse o Almirante-de-Esquadra Kurt Tidd, comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, e outros participantes durante a CENTSEC, de que esse é um desafio comum de todos os países, e que é preciso trabalhar em conjunto para combater essa praga?
Gen Brig Álvarez: Sim. Creio que todos nós compartilhamos a mesma visão, e também nos alegramos que haja países interessados nessa luta conjunta. O Triângulo Norte, formado pela Guatemala, El Salvador e Honduras, apresentou uma iniciativa do mais alto nível, com a responsabilidade que todos temos de enfrentar qualquer ameaça. São nossas populações que estão sofrendo. Então temos esta responsabilidade. Daí surge a preocupação do nível mais alto. Nós captamos essa preocupação, que é transmitida às instituições, pois nos preparamos para enfrentá-la, e é o que estamos fazendo. Temos uma frente comum, não só na América Central; também colaboraram com isso países que também têm corresponsabilidade nessa questão da luta contra o narcotráfico. A Colômbia é um grande apoio para a América Central; os Estados Unidos são um grande apoio para a América Central; o Canadá é um grande apoio. O Brasil é um grande apoio para nós. Assim, creio que precisamente essas reuniões nos permitem conhecer o tamanho da ameaça que estamos enfrentando. Devemos ter consciência de uma visão global, maior do que podemos perceber como Estado ou como país, extraindo experiências e ensinamentos para poder enfrentar isso da melhor maneira.
Diálogo: Como se dá essa luta em Honduras?
Gen Brig Álvarez: Em Honduras, trabalhamos como uma operação conjunta. Criamos uma força interinstitucional na qual as Forças Armadas cooperam por meio de nossos soldados, de nossos meios, e aí estamos. Contudo, na verdade, quem controla isso em Honduras não são exatamente as Forças Armadas. A luta está a cargo de uma força de segurança interinstitucional nacional, da qual participam todas as instituições do Estado que têm a ver com os operadores da justiça. O que acontece é que, na minha opinião, as pessoas veem nas Forças Armadas o rosto visível; um rosto que denotamuita credibilidade. Porém, não podemos tampouco subestimar o grande trabalho feito pelos operadores da justiça, como os fiscais do Ministério Público, os juízes, os órgãos de investigação do Estado e a Polícia Nacional.
Diálogo: Em 2016, o senhor teve reuniões bilaterais com o General do Exército da Nicarágua Julio César Avilés Castillo, chefe do Exército, nas quais formalizou-se o cumprimento dos acordos para a realização de operações coordenadas em setores de fronteira. O senhor poderia falar um pouco sobre isso?
Gen Brig Álvarez: Temos acordos com todos os países com que temos fronteiras para enfrentar essa ameaça em todos os âmbitos: político, econômico e no âmbito da segurança nacional. São forças militares operando nas áreas de fronteira, no limite internacional para evitar que pessoas não muito boas possam transitar de um país para outro. Então, esse é o acordo que temos com esses países. Com a Nicarágua estabelecemos alguns acordos iguais dentro do marco da Conferência das Forças Armadas Centro-Americanas (CFAC), da qual também faz parte a Nicarágua, para podermos realizar algumas operações. Realizamos a primeira, segunda, terceira e quarta fase da Operação Sandino-Morazán. Quando for necessário, trocaremos informações. Isso é feito no marco da CFAC, não apenas com a Nicarágua, mas também com a Guatemala e El Salvador. Ou seja, isso faz parte das medidas de fomento à confiança entre os países, de realizar patrulhamento e operações na zona de fronteira. Cada um em seu setor, para que a população também possa se sentir protegida pelos órgãos de segurança e de defesa.
Diálogo: Qual é a importância de o México ser o coanfitrião dessa conferência de segurança pela primeira vez?
Gen Brig Álvarez: Achamos isso muito bom. Hoje mesmo o Ministro da Defesa de Honduras Díaz Celaya disse: “Esperamos que o México seja parte integrante da CFAC.” É importantíssimo quando o Estado e as forças armadas podem se juntar a esses órgãos regionais para poder combater as ameaças. Assim, o México é sempre bem-vindo. Sempre vimos no México, e também no Brasil, um enorme potencial de cooperação. Isso já acontece na área educacional. Aqui, como eu disse, devemos unir esforços para enfrentar essa ameaça comum.