O Centro de Monitoramento Antidrogas (CMA) Comalapa, localizado na Base Aérea salvadorenha do mesmo nome, fornece apoio logístico, de segurança e infraestrutura à nação parceira e frota aérea dos EUA nas operações internacionais de combate ao narcotráfico, 24 horas por dia, os sete dias da semana. Os Estados Unidos e o governo de El Salvador assinaram um acordo cooperativo de 10 anos em março de 2000, que foi renovado até 2010, para operar a base. Enquanto o Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) supervisiona as operações, a Marinha dos EUA se encarrega das atividades diárias.
O Capitão de Fragata da Marinha dos EUA Addison G. Daniel, comandante do CMA Comalapa, conversou com Diálogo, durante a visita à instalação, sobre a missão e a importância da parceria entre os Estados Unidos e El Salvador, entre outros tópicos.
Diálogo: Qual é o principal foco do CMA Comalapa em relação à América Latina e ao Caribe?
Capitão de Fragata da Marinha dos EUA Addison G. Daniel, comandante do CMA Comalapa: Nossa missão é fornecer apoio operacional tanto às unidades de aviação tripuladas quanto às não tripuladas, que participam da missão de detecção e monitoramento da Força-Tarefa Conjunta Interagencial Sul (JIATF Sul). A JIATF Sul mantém as nossas tarefas operacionais. O CMA dá apoio através de diversos fluxos de recursos, como segurança, operações, administração, logística e medicina. Nosso principal foco na área de operações do SOUTHCOM é interceptar os contatos no âmbito do domínio marítimo do Pacífico Oriental e também podemos estender as operações ao Caribe, ocasionalmente. Nossa missão apoia os esforços de segurança do SOUTHCOM ao destruir as redes de ameaças.
Diálogo: Quais são as capacidades do CMA Comalapa?
CF Daniel: A nossa principal capacidade é fornecer operações de voo 24 horas por dia, os 365 dias do ano. Nós apoiamos com uma vasta gama de aeronaves, tripuladas e não tripuladas, bem como de asa rotativa e fixa. Não seríamos capazes de realizar nossa missão sem as fortes parcerias com a nação anfitriã e o trabalho interagências do Departamento de Segurança Interna e do Departamento de Justiça dos EUA, entre outras agências.
Diálogo: O CMA Comalapa foi criado em 2000 nas instalações da Base Aérea salvadorenha. Como isso beneficiou sua relação e a relação do SOUTHCOM com o governo de El Salvador?
CF Daniel: O CMA, o SOUTHCOM e El Salvador se beneficiam todos com esse acordo. O CMA é um dos diversos programas implementados através dos [esforços] interagências dos EUA para melhorar a segurança em El Salvador, na região e lá em casa [nos Estados Unidos]. El Salvador tem uma taxa de 100 por cento de condenação daqueles que são descobertos traficando narcóticos, com uma média de 12 anos de detenção. Os esforços combinados entre os EUA e El Salvador ocasionam um grande impacto sobre as organizações criminosas transnacionais. Como parte da nossa sólida parceria com El Salvador, oferecemos muitas oportunidades diferentes à comunidade salvadorenha, através de ofertas de emprego aos habitantes locais, eventos comunitários e operações diárias. Em 2018, o CMA injetou US$ 11 milhões na economia local.
Quanto ao SOUTHCOM, o CMA representa um compromisso tangível para El Salvador, persistente e visando o futuro. O CMA mostra o compromisso do SOUTHCOM de ser um parceiro preferencial no hemisfério ocidental entre nossos aliados e nos propicia o espaço operacional para que sejamos eficazes ao determinar a distribuição de recursos em toda a região. Além disso, devido à nossa localização geográfica, estamos em uma posição central para muitos dos nossos parceiros.
Diálogo: Como vocês interagem com as nações parceiras durante uma operação específica?
CF Daniel: Nós trabalhamos com diversos parceiros interagentes, os quais, com o seu trabalho de base, descobrem redes ilícitas. Todos os dias eles coletam inteligência para obter informações e abrir um processo, desenvolver e priorizar as remessas de interesse, e então transmitir a informação através da JIATF Sul. Dali a informação chega ao CMA Comalapa. Em seguida, nossa tripulação de voo recebe a informação e inicia a fase de detecção e monitoramento. Ao entrarem no domínio marítimo, as tripulações monitoram os ‘contatos de interesse’ e passam as informações para que a Guarda Costeira dos EUA ou a nação parceira possa proceder com a interdição. Quando a fase de interdição começa, nós dependemos da Guarda Costeira dos EUA ou da nação parceira para realizar a parte de imposição da lei, visto que a interdição e o processo legal são feitos através de seus respectivos departamentos de justiça. Quando trabalhamos com qualquer nação parceira, precisamos garantir o cumprimento do Estado de direito.
Diálogo: Quais são as iniciativas combinadas que o CMA Comalapa realiza com outras nações parceiras na América Central para combater as organizações criminosas transnacionais?
CF Daniel: Nós combatemos o tráfico ilícito por, com e através de todas as nossas nações parceiras na região, especialmente as nações centro-americanas. Temos também uma parceria combinada com o Canadá, que sempre envia recursos aéreos ao CMA Comalapa para atuar sob o âmbito das missões de detecção e monitoramento do JIATF Sul. Também trabalhamos ocasionalmente com a Força-Tarefa Conjunta Bravo em Honduras.
Diálogo: O CMA Comalapa desempenha uma função importante no combate ao narcotráfico na região. Como essa missão ajuda a reduzir o impacto das organizações do narcotráfico transnacional?
CF Daniel: Em 2018, nós confiscamos narcóticos avaliados em US$ 6 bilhões; esta quantia reflete apenas o valor de mercado das drogas, sem considerar os custos da assistência de saúde ou outras despesas relacionadas com a economia derivada das drogas. Em fevereiro de 2019, o CMA Comalapa realizou uma missão com as autoridades mexicanas que no cômputo final resultou em um confisco de US$ 32 milhões. Nossa localização e a proximidade tanto com os países fonte como com os vetores nos torna particularmente eficientes para confiscar drogas das redes ilícitas que pretendem movimentar o contrabando no mundo inteiro.
Diálogo: Qual a importância das comunicações em tempo real para que as operações sejam bem-sucedidas no combate às atividades do crime transnacional?
CF Daniel: Na comunidade da aviação, nós praticamos a Gestão de Recursos da Tripulação (CRM, em inglês), um sistema projetado para promover a segurança, que é útil para lidar com recursos em qualquer sistema organizado. A comunicação é o núcleo da CRM. Sem comunicações em tempo real, a organização do sistema se torna no mínimo degradada ou, na pior das hipóteses, caótica. Para nossas operações, as comunicações em tempo real são cruciais, pois significam a diferença entre salvar vidas ao deter as drogas, ou desperdiçar recursos valiosos por estarmos procurando no lugar errado, na hora errada.
Diálogo: Como o CMA Comalapa trabalha com as nações parceiras para responder às missões humanitárias e de busca e resgate?
CF Daniel: O CMA é capaz de apoiar muitos aspectos das missões humanitárias e de salvamento, seja atuando como área de preparação ou centralização do apoio logístico, ou como um tipo de coordenador da missão de resgate para dar apoio operacional. Mais recentemente, atuamos como uma central de logística durante o Mais Além do Horizonte, um exercício anual conjunto que presta serviços médicos, odontológicos e de engenharia na América Latina e no Caribe. Em nível local, também trabalhamos com a Embaixada dos EUA para preparar e responder perante uma crise humanitária.
Diálogo: O senhor teria algo mais a acrescentar para os leitores da Diálogo?
CF Daniel: Essa missão foi para mim uma das funções mais gratificantes que já exerci na minha carreira militar. O CMA está no centro de muitos debates importantes que estão sendo realizados em Washington D.C. relativos à segurança nacional. Não há um único dia em que não vemos um impacto direto sobre a segurança do povo salvadorenho, da região e dos Estados Unidos em geral. Não encontro as palavras para agradecer suficientemente a El Salvador pelo papel que esse país representa nessa extraordinária parceria.