As operações de narcotráfico, contrabando de ouro e gasolina, bem como corrupção nos portos e alfândegas da Venezuela, têm aumentado nos últimos anos, à medida que o país sul-americano se torna um dos epicentros do crime organizado na região. Estas foram algumas das conclusões de um estudo realizado pela filial venezuelana da ONG Transparência Internacional, que afirma que essas atividades trazem anualmente mais de US$ 9,4 bilhões para organizações criminosas apoiadas por funcionários corruptos.
“Eles estruturaram na Venezuela uma organização criminosa bem planejada e dirigida pelo mais alto nível” de líderes do regime, disse à Diálogo Jorge Serrano, assessor da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru, em 13 de julho de 2022. “É claramente uma ditadura civil-militar que dirige um regime abertamente focalizado na gestão do crime organizado internacional.”
O estudo Economias ilícitas amparadas pela corrupção, de 26 de junho, destaca o apoio de funcionários corruptos a organizações criminosas, enquanto a qualidade de vida de 90 por cento da população continua a deteriorar-se. De acordo com dados da empresa venezuelana de economia e finanças Ecoanalítica, o volume das operações criminosas representa 21 por cento do produto interno bruto nacional, que é de US$ 43,44 bilhões, informa a empresa.
Grupos criminosos
Uma das principais conclusões do estudo é a confirmação da existência de 13 organizações criminosas que operam em 13 estados venezuelanos, apoiadas por funcionários e militares corruptos. A Venezuela se tornou um dos epicentros do crime organizado na região, e os grupos criminosos usam principalmente a violência para levantar fundos através do controle de economias ilícitas.
Entre essas organizações criminosas estão: o Exército de Libertação Nacional; dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia; Tren de Guayana; Tren de Aragua; gangue do Negro Fabio; gangue de Juancho; Grupo Armado Yeico Masare; Esquadrão da Paz (Cuadrillas de Paz); e gangue de Toto e Zacarías.
Embora essas organizações movimentem a maior parte da cocaína, são os funcionários estatais que moldam e controlam as operações, diz Insight Crime, uma organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe. As células de traficantes de drogas no exército e na polícia, coletivamente chamadas de Cartel dos Sóis, movimentam drogas por todo o país, declarou.
O Departamento de Justiça dos EUA estima que entre 200 e 250 toneladas métricas de cocaína deixam a Venezuela a cada ano, representando entre 10 e 15 por cento da produção global estimada, afirmou Insight Crime.
Proliferação e expansão
Segundo a Transparência Internacional, a proliferação e expansão do crime organizado na Venezuela se deve à falta de cooperação do regime de Nicolás Maduro com organizações internacionais para combater o narcotráfico; à falta de esforços para coletar e distribuir informações sobre atividades criminosas; à centralização do poder militar e judiciário; e ao clima de corrupção generalizado.
No entanto, a principal causa para a consolidação do estado criminoso na Venezuela, declarou Serrano, “é a estrutura geopolítica do eixo Havana-Moscou-Caracas […], através dos serviços de inteligência. Esta estrutura de alianças para o mal e o crime permite que este estado criminoso se consolide”.
O eixo tem um protagonista principal extra regional, sem ser uma parte direta deste eixo, que é a China, que fornece recursos econômicos à ditadura venezuelana em troca de petróleo, acrescentou Serrano. Também instalou dois satélites e tecnologia para espionagem interna e controle cidadão.
Transição e destruição
A InSight Crime mostra que a Venezuela produz cocaína na região fronteiriça de Zulia, um ponto-chave para o envio de carregamentos de drogas para a América Central e o Caribe. Há também evidências da expansão do cultivo de coca em Apure e laboratórios para a produção de cocaína, afirmou.
“A Venezuela se tornou um produtor de folha de coca há uns dois anos”, disse Serrano. “Poderá tornar-se em três anos o quarto maior fornecedor de cocaína do mundo, junto com a Colômbia, o Peru e a Bolívia; não dependerá mais da cocaína colombiana. É o pior dos cenários.”
Ouro e poluição
O relatório se aprofunda na acelerada e dramática exploração de ouro no chamado Arco Mineiro do Orinoco (AMO). Nos últimos dois anos, durante a pandemia da COVID-19, a atividade destrutiva e ilegal se aprofundou no AMO; o desmatamento e a erosão do solo aumentaram, assim como a poluição.
O negócio do ouro no sul da Venezuela, longe de ser uma fonte sustentável de rendimentos, tornou-se manchado de sangue e viciado com as práticas mais ilícitas, como o contrabando de ouro, combustível, drogas, armas e munições, ressalta o documento.
Também destaca que os direitos humanos dos venezuelanos são violados para garantir o benefício econômico de estruturas corruptas, sua permanência ao longo do tempo e a impunidade de seus atos.
“A Venezuela e a Rússia devem ser impedidas de avançar impunemente em toda a América Latina”, declarou Serrano.
“Temos que trabalhar com os exércitos e as forças de defesa de nossos parceiros e aliados, tornando-os mais fortes e ajudando-os a superar esses desafios transversais e essas ameaças”, disse à Voz da América a General de Exército Laura J. Richardson, do Exército dos EUA, comandante do Comando Sul dos EUA, em 4 de julho.