O regime venezuelano construiu um “super cartel” de narcotráfico, para lançar uma guerra assimétrica contra os Estados Unidos, adverte o think tank norte-americano de expertos Center for a Secure Free Society (SFS), em um estudo publicado no final de 2022.
De acordo com o SFS, o regime venezuelano e seu infame Cartel dos Sóis distribuem cerca de 450 toneladas de cocaína do mercado global de cocaína de cerca de 1.800 toneladas. Isto significaria que o Cartel dos Sóis passou de uma participação de cerca de 1 por cento do mercado mundial em 2010 a cerca de 25 por cento na atualidade.
“O tráfico de drogas pode existir para outros fins que não o lucro”, adverte o estudo. “Isto é especialmente verdadeiro quando se considera a Revolução Bolivariana da Venezuela, que inicialmente se dedicou ao desenvolvimento e distribuição de drogas ilícitas para fins de guerra assimétrica contra os Estados Unidos.”
O relatório atribui a Hugo Chávez a normalização das redes de narcotráfico e o trânsito da cocaína produzida na Colômbia, Peru e Bolívia através da Venezuela, transformando o país sul-americano em uma superautoestrada da cocaína”. Chávez concedeu aos militares leais (que passaram a ser conhecidos como o Cartel dos Sóis) jurisdição exclusiva sobre portos, aeroportos, ferrovias, estradas e territórios em geral, de modo que os lucros da distribuição de drogas beneficiassem o regime.
Em um relatório do final de 2022, a InSight Crime, uma organização que estuda o crime organizado na América Latina e no Caribe, referiu-se a Nicolás Maduro como um “chefe do crime” que trabalha em conluio com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e algumas facções dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Além disso, o relatório do SFS observa que, devido à sua dependência da cocaína, o regime de Maduro forjou laços profundos com os cartéis Jalisco Nueva Generación e Sinaloa, do México.
As FARC e o Hezbollah
“A questão da droga como arma é uma ideia originada pelo [ex-presidente cubano] Fidel Castro: intoxicar o povo norte-americano”, disse à Diálogo Luis Fleischman, professor de sociologia da Universidade Estadual de Palm Beach, na Flórida.
Em seu livro América Latina na Era Pós-Chávez, Fleischman advertiu sobre a aliança da Venezuela com elementos foragidos das FARC e do Hezbollah e os cartéis de drogas, como parte de uma guerra assimétrica. “Hoje as FARC estão divididas e o Hezbollah tem uma agenda cheia com os problemas na Síria. Isto não quer dizer que este perigo não continue vigente, afirma Fleischman, acrescentando que as drogas são administradas por todo o regime venezuelano, incluindo os militares.
Cuba, Rússia, Irã e China
O relatório do SFS também observa que os membros do regime de Maduro receberam treinamento de contrainteligência de Cuba, Rússia, Irã e China, dando-lhes uma capacidade avançada para utilizar o engano em muitas de suas operações para penetrar em governos adversários, como na Colômbia e nos Estados Unidos.
Fleischman acrescenta outros problemas a este cenário. “A Rússia está cada vez mais envolvida na Venezuela, particularmente com a reação da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] à sua invasão da Ucrânia”, afirma. O especialista também advertiu sobre a aliança entre o regime venezuelano e o Grupo Wagner, uma organização paramilitar de origem russa.
“O Grupo Wagner, um grupo assassino nesta guerra desumana contra a Ucrânia, participou da repressão realizada por Maduro contra seus próprios cidadãos no início de 2019. Isto é algo que o estabelecimento de segurança dos EUA precisa levar em conta”, disse Fleischman.
“Várias investigações da mídia independente afirmam que cerca de 400 membros do Grupo Wagner operam na Venezuela, os quais estão encarregados, entre outras atividades, de projetar o círculo de segurança de Nicolás Maduro junto com agentes cubanos”, disse Infobae em uma nota de setembro de 2022.
“Irã e Cuba também apoiaram Maduro no aparelho repressivo, algo que, como aponta o SFS, também se torna uma ameaça à segurança nacional dos EUA”, explicou Fleischman. Segundo o especialista, a aliança entre Venezuela, Irã e Rússia não só inclui a evasão de sanções, mas também poderia incluir acordos militares.
“A Venezuela poderia servir não apenas como base para uma guerra defensiva assimétrica, mas também como uma plataforma de lançamento de mísseis e outros meios de agressão direta [aos Estados Unidos], que poderiam até incluir armas nucleares”, afirmou.
“Se este ainda não é um cenário real totalmente desenvolvido, deve ser considerado como um cenário potencial. Nesse sentido, o relatório do SFS deve ser levado muito a sério”, concluiu Fleischman.