Os Estados Unidos sancionaram a Empresa Nicaraguense de Minas (ENIMINAS) e o presidente do seu conselho diretor por seus crescentes laços com a Rússia.
O decreto de 17 de junho de 2022 doEscritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA proíbe qualquer transação de ativos norte-americanos com a empresa e seu presidente do conselho diretor, Ruy Delgado López, minando assim um dos pilares financeiros do regime de Ortega-Murillo.
A sanção vem depois que “o regime deOrtega-Murillo manipulou as eleições presidenciais da Nicarágua em novembro [de 2021], prendendo arbitrariamente a oposição política, bloqueando os partidos políticos, fechando a mídia independente e intimidando a sociedade civil”, informou o Departamento do Tesouro em um comunicado. Além disso, “eles estão aprofundando seu relacionamento com a Rússia, enquanto faz a guerra contra a Ucrânia, e usando os rendimentos do ouro para continuar oprimindo o povo da Nicarágua e participando de atividades que representam uma ameaça à segurança do hemisfério”.
A ENIMINAS nasceu em 2017, graças a uma lei que permitiu uma maior participação do Estado nos negócios de mineração com empresas privadas. De acordo com pesquisas realizadas pelo grupo de especialistas norte-americano The Oakland Institute, somente no primeiro mês da nova lei, o total de terras sob concessão mineira aumentou de 1,2 milhões a 2,6 milhões de hectares. Cerca de 853.800 hectares estão na zona intermediária da Reserva Ecológica de Bosawás.
A ONG Fundación del Río, dedicada à defesa da Reserva Biológica Indio Maíz, na fronteira com a Costa Rica, vem denunciando o avanço da mineração em zonas ecológicas protegidas desde 2016, relata a revista de investigação Divergentes, da Nicarágua. Seu presidente, Amaru Ruiz,considera positiva a sanção dos EUA, pois a mineração indiscriminada não só sustenta o regime, mas também destrói os recursos naturais e viola os direitos humanos dos povos indígenas.
“A sanção […] representa uma das ações mais contundentes em termos econômicos para derrubar os pilares que sustentam a ditadura de Ortega-Murillo”, disse Ruiz àDiálogo. “Além disso, é uma das principais áreas que, em meio à crise sócio-política e da COVID-19, está crescendo exponencialmente, tanto em termos de áreas de concessões de mineração quanto na quantidade de toneladas de extração de ouro exportadas pela Nicarágua, o que só beneficia os altos escalões do negócio damineração.”
“Uma das fontes de riqueza crescente [da ditadura de Ortega-Murillo], além dos empréstimos de instituições multilaterais,que por alguma razão não param, apesar do clamor internacional e da Lei NICA [Lei de Condicionalidade das Inversões da Nicarágua] dos EUA, foi sua exportação de ouro, tanto nicaraguense quanto venezuelano, o qual é empacotado novamente e vendido como nicaraguense”, disse à Diálogo Ryan C. Berg, diretor da Iniciativa do Futuro da Venezuela, doCentro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de especialistas baseado em Washington. “Embora ainda existam outros pontos de venda para lavar oouro venezuelano e nicaraguense, esses pontos de venda são administrados por organizações criminosas, como as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] e o ELN [Exército de Libertação Nacional].”
No mesmo dia do anúncio do Departamento do Tesouro, o ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, Denis Moncada, viajou para a Rússia para participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
No início de junho, o regime de Ortega-Murillo também autorizou a entrada de pessoal, navios e aviões russos na Nicarágua, a partir de 1º de julho até 31 de dezembro de 2022. Segundo o BoletimOficial da Nicarágua, as tropas russas participarão de ajuda humanitária, exercícios militares e operações contra atividades ilícitas no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico.
“Como o regime de Ortega-Murillo se envolve cada vez mais com a Rússia e continua enchendo seus cofres com importantes rendimentos explorados do setor do ouro nicaraguense, o regime virou as costas para o povo nicaraguense, negligenciando seus meios de subsistência para obter ganâncias do regime”, disse Brian Nelson, subsecretário do Tesouro dos EUA para Terrorismo e Inteligência Financeira.
Na opinião de Ruiz, mais ações contra a ditadura devem ser consideradas, para que “todo o apoio que tem sido mantido com base em influências políticas, falta de transparência, ilegitimidade e corrupção do Estado, não contribua para a manutenção econômica desse regime. São necessárias mais ações para continuar ‘torpedeando’ os pilares econômicos que a ditadura tem no país”.