Diante das sanções internacionais e das crescentes tensões no Oriente Médio, o Irã está tentando diversificar suas alianças na América Latina, implementando uma estratégia de “poder brando”, para consolidar sua influência na região, informou o jornal Latinoamérica21.
Teerã incrementou sua aproximação com a América Latina em 2005, com Mahmoud Ahmadinejad como presidente, que estabeleceu laços com Hugo Chávez, da Venezuela. Essa aliança surgiu durante o isolamento internacional do Irã, devido ao seu programa nuclear, destacou o jornal. Em busca de novos parceiros, o Irã encontrou uma aliança com a esquerda bolivariana.
“O Irã busca não apenas fortalecer suas alianças na região, mas também se posicionar como uma nação injustamente perseguida pelo Ocidente”, comentou Luis Fleischman, professor de sociologia e ciências políticas da Universidade Estatal de Palm Beach, na Flórida, em entrevista à Diálogo, em 15 de abril. “Essa tática faz parte de um esforço mais amplo do Irã para consolidar sua imagem de vítima no cenário internacional e ganhar simpatia e apoio político e estratégico na América Latina.”
Latinoamérica21 destacou que, apesar das diferenças culturais e políticas, Irã e os regimes latino-americanos, Cuba, Nicarágua e Venezuela, compartilham uma ambição similar de estabelecer uma nova ordem mundial.
Para isso, o Irã emprega uma abordagem multifacetada para consolidar sua posição como aliado-chave, escreve Latinoamérica21. O Irã implementou um sofisticado programa de “poder brando” em três dimensões principais: atividades das embaixadas, influência da mídia e uma forte presença nas redes sociais.
Centros de espionagem
A estratégia de usar as embaixadas para fins além da diplomacia formal não é uma inovação recente. Essa tática tem suas raízes na época da União Soviética, quando as representações diplomáticas russas geralmente funcionavam como centros de espionagem.
“É fundamental lembrar”, enfatizou Fleischman, “que após o atentado contra a Asociação Mutual Israelita Argentina em 1994, a Embaixada iraniana em Buenos Aires foi identificada como um dos lugares de onde o ataque foi orquestrado”. Esse é o mesmo caso dos atentados contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992, de acordo com um relatório do Instituto Espanhol de Estudos Estratégicos (IEES).
Um sistema que faz soar o alarme e levanta suspeitas sobre as reais intenções do Irã por trás de suas missões diplomáticas é a prática de designar um número desproporcional de funcionários para suas embaixadas em países onde o Irã não parece ter interesses significativos, revela IEES. Um exemplo é a Bolívia, onde até 150 diplomatas foram credenciados.
Além disso, o ataque a uma instalação anexa à embaixada iraniana em Damasco, em 1º de abril, “revelou a existência de um centro operacional para a Guarda Revolucionária Islâmica, considerada um grupo terrorista. Esse crime ressalta a necessidade de os governos de todo o mundo manterem uma vigilância constante”, declarou Fleischman.
“Os verdadeiros objetivos do Irã vão além da simples busca de aliados”, alertou Fleischman. “Teerã pretende garantir sua liberdade de movimento, sem restrições, através desses territórios; essa é uma estratégia que facilita atividades ilícitas e compromete ainda mais a segurança global.”
Hispan TV
A Hispan TV, um canal de televisão iraniano em espanhol que transmite regularmente em vários países, incluindo Argentina, Cuba, Espanha e Venezuela, concentra-se em condenar as ações e atividades promovidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, enquanto tenta desenvolver uma linha editorial alinhada com os interesses da esquerda bolivariana, diz Sergio Castaño, pesquisador de História e Relações Internacionais da Universidade de Valladolid, na Espanha. “Além disso, a estação de televisão iraniana procura projetar uma imagem amigável para ganhar a simpatia do seu público.”
Hispan TV investiu muito para atrair o público, contratando personalidades conhecidas. “Apesar de seus esforços para ganhar credibilidade, o canal iraniano enfrenta críticas constantes, por transmitir conteúdo considerado falso ou tendencioso. Sua transmissão foi sujeita à censura na Europa e nos Estados Unidos”, escreve Castaño.
“Os antagonismos em relação ao Ocidente são claramente refletidos em certos meios de comunicação, como Telesur, uma emissora fundada sob o chavismo e que se uniu com Hispan TV. Ambas compartilham e disseminam as mesmas mentiras e desinformações que estão sendo publicadas atualmente na América Latina”, acrescentou Fleischman.
Esse fenômeno não se limita ao âmbito da mídia, mas se estende a atores políticos e sociais na América Latina. A convergência entre a mídia e esses atores reflete uma estratégia de influência regional, em que a narrativa e a ideologia iranianas desempenham um papel importante na opinião pública e nas atitudes políticas, diz Fleischman.
Redes sociais
Como parte de uma estratégia para fortalecer as relações bilaterais e aumentar sua influência na América Latina, o Irã está incursionando nas redes sociais, apesar das restrições auto-impostas em seu próprio país, reconhecendo assim a importância de moldar a opinião pública na região, detalhou Latinoamérica21.
Os maiores obstáculos para o Irã na região são os governos que descobrem essas intenções sujas e não se tornam seus aliados, embora isso possa depender das lideranças que chegam ao poder nesses países. “A médio e longo prazo, é provável que vejamos uma maior expansão da influência iraniana, se a mentalidade de segurança que prevaleceu após o 11 de setembro não for retomada para combater o radicalismo”, concluiu Fleischman.