O Irã, com a ajuda da organização terrorista Hezbollah e grupos pró-iranianos, está buscando expandir sua influência ideológica na América Latina através da internet, de redes sociais e pontos de convergência, de acordo com o estudo Propaganda, narrativas e influência na América Latina: Irã, Hezbollah e Al-Tajammu, do Instituto Internacional para a Luta Contra o Terrorismo (ICT), da Universidade Reichman, de Israel.
“É uma guerra psicológica em grande escala, utilizando redes sociais, satélites e meios de comunicação em espanhol, que promovem os interesses [iranianos] para atacar o ocidente e a América Latina”, disseà Diálogo Jorge Serrano, membro da equipe de assessores da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru, em 10 de agosto de 2022. “Atrás disso, está o VEVAK (Ministério de Inteligência e Segurança Nacional do Irã).”
A América Latina é uma área em que o Irã está procurando expandir sua influência e seu escopo de ação, diz o relatório publicado em 3 de julho. Isso incluinarcotráfico, lavagem de dinheiro, arrecadação de fundos, recrutamento,proselitismo e até mesmo ataques terroristas, indica.
A América Latina também serve comocampo de batalha da propaganda para o Irã, Hezbollah e organizações pró-iranianas com a ajuda da tecnologia do século XXI, aproveitando uma narrativa compartilhada com a esquerda revolucionária latino-americana, afirma.
“A República Islâmica do Irã é uma [enorme] ameaça […], devido à sua inflexãoe capacidade de perpetrar atos terroristas em nível internacional”, declarou Serrano. “Com a ajuda de Cuba, Venezuela e do Fórum de São Paulo, ela se infiltra em toda a América Latina”, acrescentou.
Rede Rabbani
Desde a década dos anos 1990, algunscanais de comunicação pró-iranianos na Argentina e no Chile têm sido promovidos pelo ex-conselheiro cultural do Irã na Embaixada iraniana em Buenos Aires, Mohsen Rabbani. A Rede Rabbani cresceu ao longo de 30 anos, passando para o YouTube, sites e redes sociais, mostra a análise do ICT.
Também indica que dentro da rede está a plataforma AnnurTV, com notícias em espanhol sobre o Islã e o Oriente Médio. A plataforma pertence à Organização Islâmica Argentina. Outro canal é o chileno ARABTV, publicado em espanhol, que se descreve a si mesmo como um canal para os amantes das tradições árabes.
A mídia Hispan TV, um canal de notícias em espanhol da cadeia estatal iranianaRadiodifusão da República Islâmica do Irã, que tem como alvo o público latino-americano, tem transmissões de televisão e rádio, websites e uma grande variedade de contas em redes sociais. Os discípulos de Rabbani estão ativamente envolvidos nela, afirma o relatório.
Rabanni tem um mandado de prisão internacional da Interpol por sua participação no atentado na Argentina contra a Associação Mutual Israelita, em1994, relata o diário argentino Página12.
Hezbollah
O Hezbollah traduz seus portais e canais de comunicação para o espanhol. Um deles é a estação de televisão Al-Manar, que destaca as atividades do Hezbollah e da Bolívia, China, Cuba, Irã, Nicarágua, Rússia e Venezuela, afirma o ICT.
Al Mayadeen, um meio de comunicação pró-Hezbollah, opera na América Latina. Sua diretora, Wafica Ibrahim, colabora com TeleSur, o canal de televisão vinculado à ditadura venezuelana, e com Cubavisión Internacional e o Canal Caribe, dependentes do regime cubano, mostra o estudo.
“Essas mídias que foram criadas, assim como as mesquitas que abrem na América Latina, do México até a Tierra del Fuego, infiltram grupos e células dedicados a promover planos subversivos [iranianos] na região”, comentou Serrano.
Modus Operandi
O Instituto contra o Terrorismo também analisa dois casos para mostrar como o Irã, o Hezbollah e grupos pró-iranianos operam entre si, e como eles trabalham em cooperação com outros protagonistas para expandir suas mensagens e explorar os meios de comunicação de esquerda.
O primeiro caso é do canal Tertulias en Cuarentena, no YouTube, criado por dois espanhóis membros da Frente Anti-Imperialista Internacionalista (FAI), um grupo anti-imperialista. Embora tenha sido criado na Espanha, o conteúdo de seus vídeos tem uma projeção clara para o público latino-americano; eles utilizam entrevistas realizadas por Hispan TV, TeleSur, RT e Al Mayadeen.
Os vídeos apresentam os Estados Unidos e Israel como o inimigo. “É mais fácil para eles [Irã-Hezbollah] espalhar mensagens de ódio e divisão nos países onde eles querem se infiltrar”, disse Serrano.
Resumen Latinoamericano (RL), criado na Argentina, é o outro caso analisado pelo ICT. RL afirma em seu portal ser “a outra face das notícias da América e do Terceiro Mundo”, e trabalhar contra a desinformação ou o “terrorismo da mídia”. Utiliza veículos de mídia como Al Mayadeen, Hispan TV, Al Manar e Tertulias en Cuarentena como fontes para seus artigos. Sua narrativa ataca aqueles que consideram o Hezbollah uma organização terrorista.
“Eles incentivam essas correntes esquerdistas, sabendo que a América Latina está duramente atingida pela crise econômica e social”, disse Serrano. “Eles aproveitam esse cenário e exacerbam os ressentimentos da população marginalizada ou deslocada contra o sistema.”
Irã, Hezbollah e grupos pró-iranianos “continuarão a criar mais canais no YouTubee nas redes sociais para expandir essa guerra psicológica na América Latina e na Espanha”, concluiu Serrano. “Eles poderiam produzir nos meses ou anos seguintes atentados terroristas nos países onde vêem que há um cenário de maior vulnerabilidade para perpetrá-los.”