A Força Terrestre da Nicarágua detectou e prendeu dois cidadãos egípcios e dois iraquianos que pretendiam entrar ilegalmente em território nicaraguense, no dia 25 de junho de 2019, através de uma passagem não permitida na fronteira, no município meridional de Cárdenas, no estado de Rivas. Na investigação preliminar, as autoridades descobriram que os detidos, que seguiam para os Estados Unidos, eram procurados na América Central e no México sob suspeita de pertencerem ao grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS, em inglês).
Os quatro supostos terroristas foram entregues às autoridades judiciais, informou à imprensa a Polícia Nacional da Nicarágua. As identidades de três dos quatro capturados coincidiam com os alertas do Departamento de Segurança Interna do governo dos EUA, que haviam advertido na semana anterior que os extremistas estavam na região centro-americana. O escritório do Departamento de Imigração e Controle de Fronteiras dos EUA detectou os indivíduos no Panamá no dia 12 de maio, através da base de dados biométrica BITMAP, e na Costa Rica no dia 9 de junho, informou a agência de notícias Reuters.
O jornal Reforma, do México, informou que a Polícia Federal respondeu ao alerta no dia 21 de junho para ajudar a deter os terroristas que, ao que parece, passariam pelo território mexicano.
“A identificação e a detenção dos supostos integrantes do Estado Islâmico, uma corrente mais radical que o Al Qaeda e rival do Hezbolá, representam um avanço”, disse à Diálogo Jorge Serrano, professor do Centro de Altos Estudos Nacionais do Peru. “O objetivo fanático a longo prazo desse grupo, que semeia o terror em todo o mundo, é obter armas de destruição em massa para praticar um mega-atentado, seja em solo dos EUA ou em cidades importantes dos países aliados aos EUA, incluindo os latino-americanos.”
“O ISIS é um dos grupos terroristas internacionais com mais probabilidades de realizar um ataque em grande escala no futuro”, alertou António Guterres, secretário geral da Organização das Nações Unidas. “Eles controlam entre 14.000 e 18.000 militantes, dos quais cerca de 3.000 são estrangeiros.” Cifras do relatório Global Terrorism in 2017, publicado pela Universidade de Maryland, mostram que o grupo praticou 1.321 ataques terroristas em todo o mundo, somente naquele ano.
“Todos os alertas estão acionados para deter as atividades do grupo radical sanguinário. Os [quatro] detidos podem pertencer a uma grande estrutura vinculada aos cartéis de drogas mexicanos”, acrescentou Serrano. “Essas organizações do narcotráfico facilitam a entrada dos terroristas infiltrados através das mesmas rotas de passagem asseguradas para a distribuição logística de drogas e armas pelas fronteiras em direção ao território dos EUA.”
O Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento, ONG com sede em Washington, informa que nos últimos anos o ISIS tentou se infiltrar no território dos EUA para organizar ataques financeiros e desestabilizar o país.
A secretaria de imprensa da Casa Branca informou no dia 7 de janeiro à rede de emissoras de televisão Fox News que, em 2018, os EUA impediram que 4.000 suspeitos terroristas cruzassem seu território.
“Os golpes desferidos pela coalizão global liderada pelos EUA para desmanchar e derrotar o grupo terrorista islâmico dispersaram muitos de seus membros, entre eles grupos latino-americanos que, depois de retornarem aos seus países de origem com treinamento, são bombas-relógio porque, a qualquer momento, podem unir-se a um atentado”, ressaltou Serrano. “Tampouco devemos descartar a ideia de que os suspeitos detidos possam ser combatentes deslocados, um fato que é alarmante. Felizmente, desta vez eles foram detidos na Nicarágua.”
O relatório Foreign Fighters do instituto de inteligência Soufan Group, com sede em Nova York, menciona a América Latina como uma região atraente para o recrutamento e treinamento de novos combatentes para o ISIS. “A região representa para o islã radical um campo repleto de oportunidades”, informa a Oriente Medio News em sua página na internet. “Acredita-se que já existam bases de treinamento na região do Caribe.”
Depois de encerrado o procedimento investigativo policial dos detidos na Nicarágua, os suspeitos foram entregues às autoridades da Costa Rica em condições de segurança máxima, enquanto as autoridades desse país, inclusive as de inteligência e segurança, trabalham com organizações internacionais na investigação, informou o jornal costarriquenho AM Prensa.
“A melhor maneira de deter as células terroristas na região é fazer com que os países da América Latina tomem consciência do problema, fortaleçam a cooperação regional e incrementem o intercâmbio fluido de informação de inteligência com os países que possuem mais experiência, tecnologia e recursos, e que conhecem melhor os grupos terroristas radicais”, concluiu Serrano. “Um exemplo disso é a cooperação efetiva entre a Argentina, o Brasil e o Paraguai com os Estados Unidos, Israel e o Reino Unido, para neutralizar a reincidência da penetração de células dos grupos fundamentalistas islâmicos na tríplice fronteira sul-americana.”