Conhecido na América Latina por suas opiniões claras e diretas e com mais de 40 anos de experiência no setor diplomático, o embaixador dos Estados Unidos William Brownfield não hesita em descrever a crise humanitária na Venezuela como “algo jamais visto na história desse hemisfério”.
Em entrevista exclusiva ao programa Venezuela 360 da VOA, o embaixador Brownfield defendeu a atual política norte-americana em relação à Venezuela, destacando a inclusão de elementos que administrações anteriores dos EUA não haviam incorporado.
Rotulando a Venezuela do governo em disputa como um estado-máfia, o embaixador explicou que o país “já é muito mais do que tráfico de drogas ilegais. É lavagem de dinheiro, é mineração ilegal, é apoio às organizações criminosas que operam fora da Venezuela, mas que têm suas bases no país. É talvez o governo mais corrupto do mundo inteiro. É pior do que um narcoestado. É um narcoestado, porém com esteroides!”, afirmou.
Com base nessas considerações, o embaixador fez um novo apelo em caráter de urgência, solicitando que a comunidade internacional leve a sério “esse desastre humanitário da Venezuela”.
Abaixo, a entrevista completa com o embaixador William Brownfield:
VOA: Embaixador William Brownfield, em 40 anos de experiência diplomática, a maioria deles na América Latina, o senhor já tinha visto uma crise como a da Venezuela, com tantos elementos juntos?
Embaixador William Brownfield:
Acredito que não. Na verdade, não apenas nos últimos 40 anos, talvez nos últimos 200 anos. Jamais, na história deste hemisfério, vimos um país tão tragicamente nessa situação.
VOA: Na sua opinião, onde o governo dos Estados Unidos tem acertado em sua abordagem da crise na Venezuela? E o que estaria faltando?
Brownfield: Eu acho, e o digo seriamente, que a política dos EUA para a Venezuela tem sido correta e bastante efetiva. Essa política inclui vários elementos essenciais que provavelmente não tenhamos visto na administração anterior. A ideia de sanções, não apenas para punir instituições e agências, mas para punir indivíduos e para mostrar ao povo venezuelano quem está enriquecendo em função de seus cargos governamentais com a riqueza natural da Venezuela, [é] importante, positiva.
Em segundo lugar, está a sua política de combinar com outros da comunidade internacional. O terceiro elemento, na minha opinião, não é apenas a ajuda e o apoio humanitário, mas também a utilização desse desastre de mais de cinco milhões de cidadãos venezuelanos e, possivelmente, até 10 milhões mais que queiram escapar da Venezuela, para projetar uma luz sobre os abusos e as ações absurdas do governo, que permitiram que o país se transformasse na pior crise humanitária, não só do hemisfério, [mas] talvez de todo o mundo.
VOA: Quanto à questão do narcotráfico: quais os elementos que o senhor considera já consolidados na Venezuela para que o país seja considerado um estado-máfia?
Brownfield: A Venezuela já é muito mais do que o tráfico de drogas ilícitas. É lavagem de dinheiro, é mineração ilegal, é apoio às organizações criminosas que operam fora da Venezuela, mas que têm suas bases no país. É talvez o governo mais corrupto do mundo inteiro. É pior do que um narcoestado. É um narcoestado, porém com esteroides!
VOA: Como o senhor avalia a transformação da América Latina nesses últimos três anos com essa crise migratória?
Brownfield: É triste, mas é hora de a comunidade internacional levar a sério esse desastre humanitário na Venezuela. Há dois ou três anos, as Nações Unidas falavam da Síria como a crise do mundo, o Afeganistão ou os constantes problemas no Iraque. Na verdade, nesse momento existem mais refugiados venezuelanos do que de qualquer outro país no mundo. E eu digo isso com uma certa tristeza, porque, na minha opinião, os esforços, os sacrifícios dos governos das Américas, em seu apoio a milhões e milhões de cidadãos venezuelanos, vêm sendo incrivelmente nobres.