As fronteiras amazônicas peruanas entre Colômbia, Brasil, Bolívia e Equador são assoladas pelo narcotráfico, pela mineração ilegal e pelo crime ambiental, gerando uma escalada de ameaças, medo e perda de biodiversidade, relatou a plataforma de jornalismo ambiental Mongabay, no início de maio.
“Muitos fatores estruturais, como a vulnerabilidade social, a fraca presença do Estado nas áreas mais pobres e de difícil acesso e o vínculo entre o narcotráfico e um remanescente do Sendero Luminoso, tornam o narcotráfico um problema difícil de erradicar”, disse à Diálogo Gonzalo Paredes, especialista em questões de segurança do Centro de Altos Estudos Nacionais do Uruguai, em 28 de maio. “A selva alta e as montanhas do Peru criam áreas de difícil acesso tanto para a polícia quanto para os militares. O cultivo de coca e a produção de cocaína se tornam o modo de vida nessas regiões vulneráveis.”
A plataforma ambiental descobriu que mais de 46 comunidades indígenas, que vivem em quatro dos territórios fronteiriços peruanos, compartilham a crescente violência liderada por grupos armados. Em Alto Putumayo, na fronteira com a Colômbia, dragas de mineração atravessam o rio sem controle, contaminando a água e os peixes.
O narcotráfico avança sobre o território indígena peruano, enquanto os grupos armados colombianos, que dominam o rio Putumayo, restringem o movimento das comunidades e as forçam a plantar culturas ilícitas, observou Mongabay. A mineração ilegal também é um problema sério para as comunidades de Madre de Dios, na fronteira com a Bolívia.
O córrego Palma Real, na Reserva Nacional de Tambopata, está tomado por mineradores ilegais, informou Mongabay. As comunidades Awajún, situadas nas margens do rio Cenepa, estão ameaçadas pela crescente presença da mineração ilegal. Estima-se que mais de 60 dragas operem na área.
Em Ucayali, na fronteira com o Brasil, os povos indígenas que vivem nas bacias dos rios Yurúa e Breu enfrentam ameaças que vão desde a caça, pesca e extração ilegal de madeira, até invasões de estrangeiros e narcotráfico, informou a plataforma. As operações criminosas se expandem com total impunidade ao longo das fronteiras entre esses quatro países.
Ameaça e morte
InSight Crime, uma organização que estuda o crime organizado na América Latina, ressalta que, como o tráfico de drogas se expandiu na Amazônia peruana nos últimos anos, ele se tornou um dos principais impulsionadores da violência que persegue os povos indígenas. Desde 2019, quase 20 líderes foram assassinados.
Somente em 2021, foram assassinados sete indígenas amazônicos que denunciaram o aumento do cultivo ilegal de folhas de coca e o avanço de mineradores e madeireiros ilegais em seus territórios, relata o site peruano Ojo Público.
Além desses assassinatos, muitos líderes indígenas e ambientalistas vivem sob ameaça, principalmente em regiões onde o narcotráfico, a extração de madeira e a mineração ilegal estão em ascensão. A fronteira entre Huánaco, Ucayali e Pasco é a área mais perigosa para esses líderes, informou Mongabay.
A mineração ilegal gerou o desmatamento de mais de 3.680 hectares de floresta entre 2019 e março de 2022, ressaltou.
Progresso constante
O cultivo peruano de folhas de coca aumentou de 61.777 hectares em 2020 para 80.381 hectares em 2022, relatou a agência de notícias espanhola EFE.
Além disso, os negócios ilícitos do denominado Neo Sendero Luminoso com os cartéis de drogas do México e os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estão florescendo. A área do VRAEM tem os níveis mais altos de produtividade da folha de coca no país, informa a Revista de Ciência e Investigação em Defesa do Centro de Altos Estudos Nacionais do Peru.
“Do ponto de vista do Estado peruano, existem programas estratégicos que têm efeitos positivos na luta contra o narcotráfico. Mas esse plano de governo deve ir além da tentativa de desestabilizar os grupos de traficantes de drogas”, declarou Paredes.
“Uma das maiores capacidades do narcotráfico é a estratégia da barata. Coloca-se veneno para o inseto em um lugar e ele vai para outro. Ele está sempre fugindo, procurando lugares para entrar; é assim que os grupos do narcotráfico operam, especialmente em áreas de selva de difícil acesso”, indicou.
Cooperação contra a criminalidade
O Peru conta com o apoio dos países vizinhos para combater o crime organizado em suas fronteiras comuns. Além das numerosas operações realizadas em conjunto, as nações fronteiriças também realizam vários treinamentos, incluindo o exercício anual BRACOLPER nos rios e afluentes da floresta amazônica, para promover o intercâmbio de experiências entre Peru, Brasil e Colômbia e aumentar a capacitação na luta contra o crime transnacional. O exercício deste ano será a 48ª edição.
O Peru e os Estados Unidos também têm um longo histórico de colaboração na luta contra o narcotráfico. Os Estados Unidos oferecem treinamento e capacitação às autoridades peruanas envolvidas em iniciativas antinarcóticos, apoiam os esforços manuais de erradicação de cultivos de coca e incentivam cultivos alternativos, informou na internet o Departamento de Estado dos EUA. Juntos, eles financiam a erradicação da coca, a interdição e os esforços de desenvolvimento alternativo.
Além disso, os Estados Unidos apoiam a Polícia Nacional do Peru em operações táticas, aviação, criminologia, segurança cidadã e em sua capacidade para fornecer acesso à justiça para as populações mais vulneráveis, incluindo defensores dos direitos das comunidades indígenas, bem como para a proteção do meio ambiente e o combate ao desmatamento.