Sessenta por cento das empresas privadas na Venezuela fecharam nos últimos 20 anos, segundo dados apresentados pela Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras, em espanhol) à Assembleia Nacional da Venezuela, em meados de 2019. A Fedecámaras informou que 370.000 empresas das 620.000 existentes em 1998 desapareceram.
Entre elas, cerca de 1.500 caíram nas mãos do governo através de expropriações, no âmbito do plano de estatização de áreas estratégicas iniciado por Hugo Chávez, disse à Diálogo Carlos Fernández, ex-presidente da Fedecámaras, em exílio nos EUA. Empresas petrolíferas, companhias de eletricidade, de finanças e construtoras, entre outras, foram estatizadas.
A partir de 2007, sob o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social da Nação, o Estado começou a assumir o poder em vários setores que até então eram privatizados. O Estado também utilizou seu plano para sancionar empresas multinacionais que se negaram a negociar e permanecer como sócios minoritários. Em junho de 2007, por exemplo, as petrolíferas norte-americanas Exxon Mobil e ConocoPhillips tiveram seus projetos retirados do território venezuelano, os quais passaram a ser controlados pela estatal PDVSA.
Em 2010, Chávez acelerou os procedimentos de expropriações, reduzindo os trâmites burocráticos e permitindo o confisco de bens sem a autorização do parlamento. As reformas das leis foram apresentadas como necessárias para o interesse social e a segurança do Estado. Através do seu programa de televisão semanal Alô Presidente, Chávez ordenou a tomada de controle de várias companhias, como no caso da empresa norte-americana de produção de vidros Owens-Illinois e da siderúrgica venezuelana privada Sidetur.
“Os grandes parques industriais do país […] estão quase 90 por cento paralisados, devido à política de violação da propriedade privada e à expropriação das empresas”, disse à Diálogo o deputado Carlos Berrizbeita, membro da Comissão Permanente da Controladoria da Assembleia Nacional da Venezuela.
Muitos gigantes do setor industrial perderam suas instalações durante o regime de Chávez. Segundo Berrizbeita, a expropriação em 2010 da empresa Agroisleña, que era a principal fornecedora de insumos e serviços de comercialização dos produtos agrícolas da Venezuela, foi o ponto de partida da crise alimentar que aflige o país.
“Contava com mais de 60 filiais em toda a Venezuela, com uma ampla rede de silos, betoneiras, lojas, laboratórios, mercados de sementes e fertilizantes, e montaram uma rede de financiamento para as pequenas e médias indústrias agrícolas do país, para fazer produzir as terras que representavam 80 por cento da produção agrícola da Venezuela”, disse o deputado.
A crise econômica forçou o fechamento de milhares de companhias, enquanto empresas estrangeiras tiveram que decidir se ficariam na Venezuela ou se arriscavam a perder seus investimentos locais. Sob o regime de Maduro, as expropriações continuam, com o fechamento, em 2015, de armazéns das multinacionais Nestlé, Pepsi e Cargill (para construir umas poucas residências) e, em 2018, da Kellogg, quando a corporação anunciou que planejava encerrar suas operações. Durante a série de apagões que atingiram o país no primeiro trimestre de 2019, 96 por cento das empresas reduziram sua produção, enquanto 14 por cento encerraram por completo suas atividades, informou a Confederação Venezuelana de Indústrias.
“O que houve aqui foi um roubo utilizando o poder do Estado, já que as instituições do Estado foram sequestradas”, declarou Berrizbeita. “Bastava uma ordem de Chávez, e agora de Maduro, para que as empresas fossem arrancadas dos seus proprietários sem qualquer tipo de pagamento.