No final de março de 2019, a Marinha do Equador detectou 245 barcos pesqueiros chineses em seu limite marítimo, perto das Ilhas Galápagos. A situação disparou alertas no país, já que essa não é a primeira vez em que isso ocorre. Os pesqueiros chineses aproveitam a pouca vigilância na região para destruir a fauna marinha.
Por exemplo, em 2018, já haviam sido detectados cerca de 60 barcos chineses de pesca industrial no Equador, nas cercanias das Ilhas Galápagos; em 2017, as autoridades detiveram o cargueiro Fu Yua Yu Leng 999 dentro da reserva marinha. O barco transportava 300 toneladas de barbatanas de tubarão, tubarões martelo e tubarões sedosos. A tripulação foi condenada por crimes ambientais.
Outros países como Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai também sofrem com a voracidade da pesca de empresas chinesas em seus mares. Segundo Juan Carlos Sueiro, diretor de pesca da ONG internacional Oceana, o problema vem aumentando na América Latina e a reação das autoridades é fraca.
“Essas embarcações chinesas funcionam da mesma forma: rondam as águas internacionais próximas ao limite do domínio marítimo das nações latino-americanas”, disse Sueiro à Diálogo. Em quase todos os países se detecta a entrada ilegal de embarcações chinesas. Isso não é novidade e ocorre diariamente.”
Rodrigo García Pingaro, diretor da Organização para a Conservação de Cetáceos, uma ONG com sede no Uruguai, explica que os barcos chineses não se importam que a fauna esteja em risco de extinção. Eles buscam os grandes cardumes; são especialistas em dizimar as espécies que têm alto valor na Ásia, devido aos seus supostos efeitos medicinais. Entre as espécies mais atingidas pela voracidade pesqueira chinesa estão a lula gigante, o bacalhau, o atum, a merluza negra, o tubarão e a totoaba.
“O que interessa à China são as espécies que já se extinguiram em outros mares; aqui ainda existem stocks [reservas] valiosas de pesca”, disse García à Diálogo. “Eles utilizam redes ‘fantasmas’ e pescam tudo sem distinção, as espécies que sejam, contanto que sejam bem pagos por elas”. As redes fantasmas são redes que outros pescadores abandonaram ou perderam em alto mar.
Destruição marinha
O diretor executivo da Fundação Patagônia Natural, Guillermo Caille, disse que a situação da América Latina faz parte de um ataque sistemático que a China pratica nos mares de todo o mundo, para sustentar o consumo da nação asiática e a exportação.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura declara no seu relatório O Estado Mundial da Pesca e Aquicultura 2018 que a China é o principal produtor e que desde 2002 é também o maior exportador de peixes e produtos pesqueiros.
Essa situação significa que, para satisfazer suas necessidades, a nação asiática não busca apenas regiões ricas em recursos, mas também pretende estabelecer bases logísticas como portos, estaleiros e fábricas para processamento de pescado perto das regiões que deseja explorar.
Na América Latina, por exemplo, a empresa chinesa ShanDong BaoMa pretende construir uma zona franca com porto, estaleiro e fábrica para processamento e congelamento de pescado, na região de Punta Yeguas, ao oeste de Montevidéu, Uruguai. A empresa espera iniciar as obras antes do final de 2019.
“A principal razão pela qual a China pretende construir o porto em Montevidéu é porque essas frotas estão desprovidas de uma base terrestre de pesca fora da Ásia. Eles dependem das companhias estrangeiras para a reparação dos barcos pesqueiros, bem como para o seu acondicionamento e fornecimento, além da elaboração e preparação para as suas capturas. Isso gera uma perda de eficiência e de benefícios, o que aumenta o custo da produção”, explica o relatório Histórico do projeto de investimento do Terminal China no Porto de Montevidéu 2016-2019, elaborado pela ONG Oceanosanos.
Apoio dos EUA
Diante da ameaça chinesa, os Estados Unidos apoiam as autoridades latino-americanas para evitar uma maior agressão ao ecossistema. Por exemplo, as marinhas do Equador e dos Estados Unidos realizaram nas águas do Oceano Pacífico, no dia 22 de novembro de 2018, o exercício rápido PASSEX, enfocado em prevenir, desestimular e eliminar a pesca ilegal.
“Combater a pesca não declarada e não regulamentada é uma das principais prioridades internacionais”, disse à imprensa o Capitão de Fragata da Marinha dos EUA Jamie Hopkins, comandante do USS Wayne E. Meyer, um dos navios americanos que participou do exercício. “Trata-se de um problema global que custa à indústria pesqueira mundial bilhões de dólares por ano.”
No entanto, a luta não é simples. A China dizima as espécies marinhas e tenta se expandir em terra firme com portos e processadoras de pescado. Para fazer frente às intenções do país asiático é necessário um compromisso regional que aumente a vigilância e evite que a China elimine os recursos marinhos da região.