Uma investigação publicada no dia 24 de setembro de 2021 pela Associated Press (AP) e pela cadeia Univisión, que acompanharam o navio patrulha de investigação Ocean Warrior, da ONG defensora do meio-ambiente Sea Shepherd Global, com base em Amsterdã, revelou que embarcações chinesas se aproximam cada vez mais das águas do Pacífico ao largo da costa da América do Sul, com práticas que alertam sobre a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN).
Os jornalistas identificaram 30 embarcações pesqueiras com bandeira chinesa, 24 delas acusadas de práticas trabalhistas abusivas ou de violar as leis marítimas.
Eles também descobriram que 16 embarcações navegavam com seus transponders desligados, que transmitiam diversas identificações eletrônicas incompatíveis com o nome ou a localização da embarcação, bem como com discrepâncias associadas à pesca INN.
Segundo a investigação, seis barcos são propriedade de empresas acusadas de trabalhos forçados, incluindo o Chang Tai 802, cuja tripulação indonésia revelou que estavam há quatro anos em alto mar. Outras nove embarcações identificadas enfrentam acusações de pesca ilegal em outras partes do mundo.
Na última década, o número de embarcações com bandeira chinesa dedicadas à pesca de lulas gigantes no Pacífico Sul aumentou quase 10 vezes, de 54 barcos ativos em 2009 para 557 em 2020, detalhou a investigação. E o volume da pesca subiu de 70.000 para 358.000 toneladas.
A frota chinesa pode pescar durante anos seguidos porque descarrega suas redes em alto mar em gigantescas embarcações cisterna refrigeradas, capazes de transportar mais de 15.000 metros cúbicos de peixes (o equivalente a seis piscinas olímpicas). Outros barcos cisterna garantem o combustível subsidiado pelo governo chinês, informou a AP.
A AP e a Univisión relataram que 12 embarcações refrigeradas ativas no Pacífico receberam pelo menos 196 descarregamentos de barcos pesqueiros em julho, segundo dados de satélites analisados pela Global Fishing Watch, uma ONG norte-americana que apoia a pesca sustentável.
Unidos contra a INN
Os governos das Américas temem que a pesca INN chinesa no Pacífico extermine espécies em risco e ameace inclusive espécies abundantes, concluiu a investigação jornalística. Argentina, Chile e Equador aplicam medidas para combater o flagelo.
A Argentina modificou as sanções por pesca ilegal. “Incorporamos novos conceitos: além da multa e da apreensão dos produtos que o barco possa ter em seu depósito, é preciso pagar todas as despesas que o Estado incorreu para sua captura”, disse o presidente do Conselho Federal Pesqueiro da Argentina, Carlos D. Liberman, ao portal argentino Pescare, no dia 5 de outubro.
Ele disse ainda que estão em processo para incorporar mais dois navios patrulheiros para levar uma mensagem muito clara à frota que se encontra na milha 201. “Se entrarem em nossas águas, nós os buscaremos e sancionaremos com multas que hoje são extremamente mais significativas do que as que existiam há dois anos”, acrescentou.
O Chile, através do Serviço Nacional de Pesca, implementou um sistema de inteligência artificial para identificar e classificar imagens de peixes capturados para combater a pesca ilegal. Após três meses, o sistema desenvolvido pela Universidade de Concepción e pela empresa suíça SICPA conseguiu identificar 99 por cento dos recursos marinhos desembarcados, revelou o site Innovación Chilena, no dia 13 de setembro.
Em junho, o Equador legislou para que o Ministério da Defesa monitorasse permanentemente as embarcações em sua zona econômica exclusiva e em alto mar, bem como estabelecesse comunicação constante para obter informação atualizada da posição dos pesqueiros estrangeiros, informou o jornal equatoriano El Universo.
Nesse contexto, a Guarda Costeira e a Marinha dos EUA prestam assistência e capacitação em segurança marítima aos parceiros dos Estados costeiros em todo o mundo, como parte das alianças regionais de segurança marítima contra a pesca INN, destacou a organização norte-americana Council on Foreign Relations em seu site.
Fechamento de portos
“Pequim está exportando seu problema de pesca excessiva para a América do Sul”, disse à AP e à Univisión o Capitão de Mar e Guerra Peter Hammarstedt, diretor de campanhas da Sea Shepherd. “Quanto mais portos se fecharem à pesca INN, mais sãos serão nossos oceanos”, disse a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura em seu site. “A pesca sustentável começa por cada um de nós.”