Os cartéis mexicanos estão expandindo suas operações na América do Sul, comprando e traficando cocaína através de conexões estabelecidas em vários países para sua distribuição nos Estados Unidos e na Europa.
Na Colômbia, os cartéis mexicanos de Sinaloa, Jalisco Nueva Generación (CJNG), Los Zetas e Beltrán Leyva seriam, segundo informações, os principais compradores e traficantes da cocaína produzida por alguns grupos armados ilegais de tráficantes de drogas.
“Em geral, quase todos os grupos armados ilegais estão envolvidos com o narcotráfico. Alguns desses grupos têm contatos no exterior, ou seja, eles sim traficam. Outros são mais precários e tudo o que fazem é vender a cocaína”, disse à Diálogo o Dr. Gustavo Duncan, especialista em temas de narcotráfico e professor no departamento de Governo e Ciências Políticas da Universidade EAFIT de Medellín, Colômbia. “Vê-se o Clã do Golfo como mais organizado, não tanto os guerrilheiros ou os dissidentes [das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC] do Pacífico (…), [eles] são vistos mais como fornecedores para outros traficantes de drogas.”
Um dos lugares afetados pelas atividades ilícitas dos grupos criminosos é o Norte de Santander. Organizações de direitos humanos confirmam a penetração dos cartéis mexicanos e sua relação com o incremento dos cultivos de folhas de coca, atualmente estimados em 40.083 hectares plantados, informou o Canal 1 estatal da Colômbia, em 15 de julho de 2022.
“O crescimento descontrolado dos cultivos da folha de coca e a presença dos cartéis mexicanos como grandes compradores de pasta de coca dinamizou o mercado, e eles são os grandes financiadores dos grupos ilegais”, disse a Noticentro 1 da Colômbia Wilfredo Cañizares, diretor da ONG colombiana defensora de direitos humanos, Fundación Progresar.
As autoridades colombianas estão cortando os fluxos financeiros desses grupos e seus principais vínculos com os cartéis mexicanos. Um dos golpes mais recentes ocorreu em 14 de julho, segundo a revista colombiana Semana; as autoridades colombianas apreenderam 175 propriedades e veículos de Néstor Alonso Tarazona, considerado o principal sócio na Colômbia de Joaquín El Chapo Guzmán, chefe encarcerado do Cartel de Sinaloa.
“As propriedades foram aparentemente adquiridas com os lucros da lavagem de bens de [Tarazona]”, informou a Promotoria Geral da Nação. “Esse homem está sendo investigado por dar aparência de legalidade aos rendimentos ilícitos obtidos do tráfico transnacional de cocaína pelos então cartéis de Cali, Sinaloa e Jalisco Nova Geração, do México, e pela estrutura criminosa Los Puntilleros.”
A polícia também desmantelou outra das conexões entre o Exército de Libertação Nacional e o Cartel de Sinaloa, ao capturar Juan Carlos López, conhecido como El Sobrino, responsável pela exportação de 3 toneladas de cocaína por mês por barcos para o Caribe e os Estados Unidos, explicou no Twitter o General Jorge Luis Vargas, diretor da Polícia Nacional da Colômbia.
Duncan salienta que, embora nem todos os grupos criminosos estejam relacionados com o narcotráfico, eles estão gerando violência nas comunidades. “Alguns até têm laboratórios, outros simplesmente controlam as colheitas e se envolvem mais com o pequeno crime organizado: extorsão, praças de vício e outras coisas muito locais”, acrescentou.
Expansão do narcotráfico
O Relatório Mundial sobre Drogas 2022 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime adverte que o Equador é um dos países exportadores de cocaína para a Europa. O ministro do Interior Patricio Carrillo reconheceu que o Equador “deixou de ser um país de trânsito e se tornou um país exportador de drogas”.
Estima-se que mais da metade da produção de drogas da Colômbia sai do Equador para três grandes cartéis: o Cartel de Sinaloa e o CJNG no México, e a máfia de Albânia na Europa, informou a rede de televisão Ecuavisa.
De fato, em 15 de junho, a Polícia do Equador apreendeu 2 toneladas de cocaína e prendeu nove membros de uma rede criminosa colombiana ligada a cartéis mexicanos, que traficava 5 toneladas de cocaína por mês, noticiou o jornal mexicano Milenio.
No Chile, as autoridades relataram a presença do Cartel de Sinaloa e do CJNG. “O crime que antes era cometido por uma pessoa é agora realizado por organizações sofisticadas que planejam em larga escala o tráfico de narcóticos, de imigrantes, de pessoas, além do contrabando ou crimes de cibersegurança”, disse ao canal nicaraguense TN8 o subsecretário do Interior do Chile, Manuel Monsalve. “Nosso país era primeiramente passagem da droga para a Europa e Ásia, depois [nos tornamos] consumidores de drogas, e agora somos um lugar onde grandes organizações criminosas se estabeleceram.”
A Promotoria chilena alertou sobre a presença de grupos criminosos mexicanos em setembro de 2021. “Três das cinco organizações mais perigosas do mundo se encontram neste continente: o Trem de Aragua, [o Cartel] Jalisco Nova Geração e o Cartel de Sinaloa. Todas essas organizações já têm influência ou presença no Chile”, confirmou Monsalve ao diário chileno Las Últimas Noticias.
A Promotoria do Chile afirma que a América Latina exige a máxima observação, considerando que existe um mercado crescente para esse tipo de substância, além da liderança e especialização que grupos mexicanos adquiriram na produção e síntese de metanfetaminas e outras substâncias.