O Brasil registrou, nos primeiros três meses deste ano, a entrada recorde de 51.838 migrantes e refugiados venezuelanos. O total é o maior já registrado nos três primeiros meses do ano desde 2020. Os dados são do Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgados pela Operação Acolhida, executada e coordenada pelo Governo Federal, com o apoio de entes federativos, agências das Nações Unidas (ONU), organismos internacionais, organizações da sociedade civil e entidades privadas, totalizando mais de 100 parceiros. As ações ocorrem no estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela, para receber, prestar ajuda humanitária e realizar a interiorização dos venezuelanos.
De janeiro de 2017, quando os dados passaram a ser organizados, até abril deste ano, o Brasil contabilizou 903.279 entradas de venezuelanos.
O diretor de relações institucionais da ONG Casa Venezuela, Alejandro Guzmán, relaciona o alto número de migrantes no primeiro trimestre do ano ao endurecimento da atual situação econômica no país vizinho. A ONG trabalha com a capacitação e a inserção socioeconômica dos migrantes, encaminhando para vagas de empregos oferecidas por rede de empresas. Os venezuelanos participam do processo de seleção e, se aprovados, são contratados. Guzmán diz também que o perfil dos novos ingressantes em território brasileiro é de “extrema vulnerabilidade” social, o que dificulta a ONG em conseguir empregos para eles no Brasil.
“Sentimos o impacto desse aumento nos três meses do ano porque percebemos que estavam chegando pessoas agora em condições muito vulneráveis, sem quase nenhuma capacitação, sem profissão, numa condição que fica muito difícil para a gente colocar no mercado de trabalho. Alguns quase só conseguem falar. Estamos tentando capacitá-los em algumas áreas como cabeleireiros, manicures, para ver se conseguimos que sejam empregados”, declara Guzmán à Diálogo.
Atualmente, a ONG está em parceria com o projeto Cerzindo, um laboratório de moda multicultural para imigrantes e refugiados, promovendo um curso de corte e costura para venezuelanas em São Paulo. A Casa Venezuela também oferece cursos para o aprendizado da língua portuguesa e atende entre 2.000 e 3.000 pessoas por mês, com ajuda de todo o tipo para o ingresso no mercado de trabalho.
“Esse número de pessoas aumentou nos três primeiros meses do ano porque houve uma desvalorização de 300 por cento da moeda venezuelana. A situação atual da Venezuela está ainda mais assustadora. O salário mínimo atual corresponde a R$ 35,00 por mês, em torno de US$ 7,00, o que não é suficiente nem para comprar 12 ovos no mercado. Então, outras pessoas resolveram sair do país. Até abrigos que estavam fechados tiveram que ser abertos para recebê-los”, afirma Gusmán, que vê com pessimismo a situação na Venezuela. “A própria ONU entende que o que se passa na Venezuela é uma crise complexa humanitária, econômica e política”, finaliza.
Apesar de toda a dificuldade, a Operação Acolhida atingiu no dia 30 de março a marca de 100.000 pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela interiorizadas pelo Brasil. São mais de 930 municípios brasileiros que receberam os cidadãos do país vizinho em quase cinco anos.
No dia 14 de junho, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome editou uma portaria destinando R$ 8,9 milhões (mais de US$ 1.800.000) para 15 municípios e dez estados brasileiros para fortalecer o atendimento da rede sócio assistencial a imigrantes e refugiados.
“Nosso papel é auxiliar os municípios e estados a proverem necessidades básicas desses grupos vulneráveis, sem deixar de lado as diferenças culturais. Além de acolher, é preciso criar um caminho de novas oportunidades”, destacou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias.