Os balões espiões chineses que entraram no espaço aéreo dos Estados Unidos e de pelo menos três países da América Latina, no final de janeiro e início de fevereiro, e que captaram a atenção do mundo, expuseram o crescente interesse da China por dispositivos de baixo custo e difíceis de detectar pelos sistemas de vigilância e defesa, relatou o diário espanhol El País.
“Quanto mais informação a China tiver, mais vantagens terá no mundo”, disse à Diálogo Antonio Alonso, especialista em relações internacionais e professor da Universidade CEU San Pablo, de Madri, Espanha, em 20 de fevereiro. “As informações coletadas são transmitidas ao serviço de inteligência chinês.”
O secretário de Estado dos EUA, Antony J. Blinken, advertiu o conselheiro diplomático chinês Wang Yi, durante a Conferência de Segurança de Munique, em 18 de fevereiro, que o incidente do balão nunca mais deve acontecer, pois os Estados Unidos não tolerarão qualquer violação de sua soberania. Os Estados Unidos abateram o balão espião chinês em 4 de fevereiro.
As ferramentas estratosféricas chinesas que sobrevoavam o espaço aéreo dos EUA e da América do Sul eram dispositivos de espionagem, embora a China tenha afirmado que eram apenas aparelhos de pesquisa meteorológica que se desviaram por engano, informou o diário mexicano La Jornada.
“O incidente do balão fazia parte de um programa chinês de coleta de inteligência de longa data”, disse o professor de ciências políticas do Instituto de Massachusetts, Taylor Fravel, à revista New Yorker. “O programa em si estava muito mal coordenado, não apenas dentro do ELP [Exército de Libertação Popular] chinês, mas entre o ELP e outras partes do Estado.”
“A China aspira a ser uma superpotência global, não mais apenas em seu crescimento econômico, mas para ter sua própria voz no cenário internacional”, ressaltou Alonso. “Pequim está se preparando para isso […], enfrentando a América do Norte e expandindo seus tentáculos […] na América do Sul.”
A inteligência norte-americana, como noticiado pela rede de notícias CNBC, acredita que balões espiões chineses entraram no espaço aéreo de mais de 40 países nos últimos anos.
Apoio estratégico
A Força de Apoio Estratégico do ELP, que é a força de guerra espacial, cibernética e eletrônica, tem entidades do setor privado operando os balões espiões para complementar sua vigilância por satélite em missões militares, informou o diário Japan News.
Esses são dispositivos cheios de gás hélio; podem alcançar altitudes semelhantes ou superiores às das aeronaves comerciais. Eles estão equipados com câmeras de alta sensibilidade, painéis solares, radares, sensores e coletam informações sobre o que está acontecendo na terra, relata o diário colombiano El Tiempo.
Apesar de seu tamanho e vulnerabilidade, os aerostatos deste tipo oferecem vantagens sobre os satélites e as aeronaves tripuladas. Eles são lentos e podem permanecer sobre uma área durante muito mais tempo do que um satélite passando em velocidade orbital, informou a plataforma britânica BBC Mundo.
Voando a apenas 20 quilômetros (60.000 pés) de altitude, suas câmeras podem alcançar uma resolução mais alta do que as que estão em órbita a 160 km. São mais baratos do que os satélites, drones ou aeronaves tripuladas, podem fazer uso de grandes cargas e representam um lado menos agressivo, detalhou a BBC Mundo.
Ao contrário dos satélites, que requerem lançadores espaciais que custam centenas de milhões de dólares, os balões podem ser lançados a baixo custo e nem sempre são fáceis de detectar com a tecnologia de vigilância tradicional, analisou o diário argentino La Nación.
“Eles são muito mais suscetíveis às mudanças de correntes e difíceis de administrar. Mas, como já vimos, o objetivo destes instrumentos é monitorar e espionar, não só os inimigos, mas também seus amigos aliados; quanto mais informações tiverem sobre eles, melhor”, acrescentou Alonso.
A China não vai parar de usar este tipo de balões estratosféricos. Mesmo que tenha satélites, eles fazem parte de sua estratégia para atingir sua meta centenária, afirmou Alonso. “A China está se preparando para esse 2049, em que procura celebrar em grande estilo o centenário da revolução comunista, com uma posição consolidada no mundo”, concluiu.