Representantes de governos, especialistas em segurança cibernética e militares das forças armadas de países que integram a Junta Interamericana de Defesa (JID) participaram, em meados de novembro, da Conferência Hemisférica de Defesa Cibernética 2023. O evento foi realizado na cidade de Washington, D.C., nos Estados Unidos. Com o tema “Fortalecendo os escudos cibernéticos: rumo à cooperação hemisférica em defesa digital”, a conferência reforçou a importância da colaboração e do intercâmbio de experiências entre autoridades internacionais voltadas ao aprimoramento da segurança digital.
As discussões envolveram aspectos que vão desde a prevenção de ataques cibernéticos e estratégias de defesa bem sucedidas nos países integrantes da JID, bem como os prejuízos e ameaças globais envolvidos diante de tais situações. Entre as propostas formuladas, o destaque foi a divulgação do “Guia de Ciberdefesa”, documento produzido de forma colaborativa entre os países conferencistas.
No âmbito do Programa de Defesa Cibernética da JID, os participantes da conferência também avançaram nos debates em torno da proposta que prevê o estabelecimento de um Marco Hemisférico de Cooperação Cibernética. De acordo com o diretor-geral da JID, Major-Brigadeiro do Ar Flávio Luiz de Oliveira Pinto, da Força Aérea Brasileira, a intenção é promover a confiança mútua no setor entre os atores estatais e privados dos Estados membros, contribuindo para o fortalecimento da maturidade cibernética em cada um destes.
“O marco contribui para aumentar a capacidade individual e coletiva de resistência e recuperação frente a possíveis ataques cibernéticos, proporcionando um hemisfério mais seguro e, em consequência, com maior capacidade de proporcionar o desenvolvimento desejado por todos. É importante registrar que a JID é uma entidade integrante da estrutura da Organização dos Estados Americanos. São esforços complementares, desenvolvidos em torno do propósito comum de contribuir para a democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento”, disse o diretor-geral da JID.
Colaboração internacional
Um dos representantes do Brasil na conferência foi o General de Brigada Luís Carlos Soares de Sousa, que atua no Comando de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro (EB). O oficial ressaltou que o setor cibernético é desafiador, e que são necessários esforços constantes de cooperação entre os países a fim de propiciar um espaço cibernético cada vez mais seguro. “No caso do Brasil, temos, aproximadamente, 214 milhões de pessoas e 242 milhões de dispositivos conectados à internet. Com a diversidade de serviços disponibilizados digitalmente, o Brasil se tornou o segundo maior alvo de ataques cibernéticos no mundo, e o aumento de tecnologias disruptivas vai ampliar cada vez mais a atuação de setores ligados à segurança cibernética.”
Para o Gen Bda Luís Carlos, a conferência contribui para o fortalecimento da segurança cibernética dos países participantes na medida em que permite maior visibilidade do assunto em nível global e regional, além de possibilitar a troca de informações, o compartilhamento de melhores práticas e experiências gerenciais e técnicas em diferentes níveis. Segundo ele, as principais motivações dos cibercriminosos podem ser financeiras, com prejuízos às instituições, empresas e pessoas; operacionais, que podem levar a interrupções no fornecimento de serviços e/ou perda de informações e de reputação; com divulgação de informações confidenciais, como dados pessoais ou informações comerciais, que podem prejudicar a imagem das vítimas.
“No setor cibernético, a colaboração é fundamental. Cabe destacar que essas questões enfrentadas no ambiente cibernético estimulam as instituições públicas e privadas na busca constante por sistemas mais eficientes, robustecidos e resilientes, assim como permite o fortalecimento, a integração e o compartilhamento das melhores práticas entre as diversas instituições. O estabelecimento de laços com nações amigas nos permite acessar outras formas de pensar a questão da segurança, além de conhecer casos de uso, iniciativas e estratégias adotadas por essas nações”, acrescentou o Gen Bda Luís Carlos.
Reforçando o viés colaborativo do evento, o Maj Brig Flávio também pontua que a conferência motiva os atores envolvidos a trilharem caminhos que proporcionem a manutenção da integridade, confidencialidade e a disponibilidade dos sistemas nos respectivos países. “Sabemos que a maior motivação para ataques cibernéticos diz respeito ao extravio de informações pessoais e ao sequestro de sistemas para pagamento de resgate, os conhecidos ransomwares. Essa ameaça também pode extrair dados de governos, organizações e indústrias, buscando obter alguma vantagem econômica ou política. Por essa razão, a JID trabalha para proporcionar aos seus Estados membros essa consciência situacional.”
Atuação brasileira
Outro ponto destacado na apresentação do Gen Bda Luís Carlos na Conferência Hemisférica de Defesa Cibernética 2023 foi o Exercício Guardião Cibernético, realizado no Brasil, que consistia em ataques simulados contra setores importantes da economia nacional, como Águas, Energia, Transporte, Comunicações, Finanças, Nuclear, Defesa, Governo Digital, Biossegurança e Bioproteção. A edição deste ano do exercício militar reuniu 520 participantes de 150 instituições, incluindo integrantes do Fórum Ibero-Americano de Defesa Cibernética, que reúne 13 países. No decorrer das atividades, foram realizados simulações e desafios aos participantes, compostos por agências e empresas públicas e privadas, órgãos e instituições acadêmicas parceiras.
O oficial do EB reconhece que o roubo de informações sigilosas é uma ameaça constante nos setores público e privado, o que demonstra a relevância da participação de diversas áreas da sociedade no treinamento. “Atualmente, existem grupos de criminosos cibernéticos com grande capacidade ofensiva e técnicas sofisticadas, capazes de realizar ataques cujo objetivo pode ser a espionagem ou roubo de informações sigilosas. Nesse contexto, cresce a importância do Exercício Guardião Cibernético, realizado e organizado anualmente pelo Comando de Defesa Cibernética, que visa fortalecer e integrar instituições públicas e privadas por meio da ampliação da capacidade de defesa cibernética, do fortalecimento da consciência situacional em nível gerencial, e da ampliação de técnicas e procedimentos”, afirma o Gen Bda Luís Carlos.