Cuba e Venezuela firmaram diversos acordos militares secretos em 2008, essencialmente entregando o controle dos militares venezuelanos a Cuba, disse à Diálogo o General de Exército reformado da Venezuela Antonio Rivero, ex-oficial sênior exilado em Miami desde 2014. Três desses acordos confidenciais entre o Ministério das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba e o Ministério da Defesa da Venezuela incluíram o fortalecimento da defesa, o desenvolvimento de inteligência e o fornecimento de assistência técnica aos militares venezuelanos.
“A presença de tropas cubanas [na Venezuela] foi consolidada através de 15 acordos secretos entre Cuba e Venezuela [em 2008] para transformar as Forças Armadas da Venezuela, tornando a sua estrutura igual à existente em Cuba”, disse o Gen Ex Rivero, que também já foi o líder da proteção civil e do gerenciamento de emergência durante o regime de Hugo Chávez, e que falou à Diálogo sobre os acordos. “Inicialmente houve muita resistência nos quartéis, mas Chávez investiu bilhões de dólares em armamentos dos russos, com mediação de Cuba, e dessa forma os militares venezuelanos começaram a abrir espaço para a ‘cubanização’ da força militar.”
De acordo com o Gen Ex Rivero, a criação de um plano de desenvolvimento militar de cinco anos entre Cuba e Venezuela incluiu o aperfeiçoamento dos conceitos de defesa, a criação de uma unidade investigativa de radioeletrônica e um sistema de radares voltado para a defesa, além do intercâmbio de inteligência. O plano incluiu ainda o treinamento especializado das tropas venezuelanas em Cuba, bem como uma unidade militar cubana na Venezuela.
Os três acordos foram assinados e iniciados pelo General de Exército Álvaro López Miera, vice-ministro das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba e líder do Estado-Maior, e pelo General de Exército da Venezuela Gustavo Reyes Rangel Briceño, ministro da Defesa entre 2008 e 2009.
A partir de então, disse o Gen Ex Rivero, Cuba começou a assumir o controle das Forças Armadas da Venezuela e os oficiais cubanos desenvolveram doutrinas, manuais de treinamento e comandaram os treinamentos, o que fez com que alguns militares venezuelanos se sentissem como se estivessem servindo às forças armadas de outro país. O Gen Ex Rivero lembrou sua participação em um curso de construção de túneis em novembro de 2018, para “criar refúgios e comandos subterrâneos nos moldes da filosofia de guerra do Vietnã”, disse, referindo-se à rede de túneis utilizada pelos vietcongues para combater as forças dos EUA.
“O instrutor, um coronel das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, disse: ‘De agora em diante, todo o conteúdo desse curso será confidencial, um segredo de Estado’”, declarou o Gen Ex Rivero. “Então eu me levantei e perguntei: ‘Como um oficial estrangeiro como o senhor me ensinará sobre sigilo e segurança de Estado em meu país?’”
O ex-1º Tenente do Exército da Venezuela José Antonio Colina, que fugiu para Miami em 2003, corroborou as declarações do Gen Ex Rivero. “Depois que Hugo Chávez corrompeu as Forças Armadas, os cubanos começaram a invadir o setor militar”, disse à Diálogo o 1º Ten Colina. “Eles teriam trancado de 200 a 300 oficiais juniores por três dias nos centros militares de treinamento […], onde agentes do G2 cubano [serviços de inteligência] diziam que tínhamos que ajudar Chávez a devolver a felicidade aos venezuelanos, como em Cuba, que tínhamos que ‘democratizar’ a Venezuela […], e que as Forças Armadas precisavam mudar sua visão e sua missão.”
Unidade militar cubana no local
Entre os acordos que o Gen Ex Rivero mencionou à Diálogo está aquele que previa a criação do Grupo de Cooperação e Ligação (GRUCE, em espanhol), uma unidade formada por oficiais cubanos permanentemente baseados na Venezuela. Considera-se que o grupo tem “o objetivo de facilitar e coordenar a prestação de assistência à Venezuela para solucionar questões militares e técnicas em suas Forças Armadas, garantindo a gestão do trabalho dos especialistas militares da República de Cuba, cuja missão é prestar assistência na assimilação, operação, reparos, modernização e uso combativo dos materiais de guerra disponíveis para as Forças Armadas da República Bolivariana da Venezuela.”
Segundo o Gen Ex Rivero, o GRUCE comandou as tropas venezuelanas em um exercício de treinamento de cinco dias em nível nacional, em dezembro de 2017, para preparar os militares contra eventuais operações do “inimigo” – ou seja, os Estados Unidos. O plano de treinamento militar mencionou a crescente demonstração de força e “hostilidade” por parte das nações vizinhas, sob o pretexto de exercícios multinacionais tais como o AMAZONLOG 2017. O plano de treinamento enumera as potenciais atividades inimigas, acrescentando que “operações contra a presença de colaboradores cubanos nos [Centros de Diagnósticos Integrados – clínicas com equipes de saúde cubanas] e em outras missões, incluindo militares, não devem ser descartadas”.
“O Grupo de Cooperação e Ligação de Cuba [é] uma unidade militar cubana no Forte Tiuna, em Caracas, que essencialmente distribuiu os destacamentos cubanos por toda a Venezuela, em comandos das unidades operacionais e estratégicas do país, consolidando, portanto, a ocupação cubana na Venezuela”, disse o Gen Ex Rivero.