Os porta-vozes das Forças Armadas da Venezuela usam suas contas em X e Instagram para exaltar Nicolás Maduro em sua busca pela reeleição e criticar os líderes da oposição. A conta em X do principal chefe de operações militares da Venezuela, General de Exército Domingo Hernández Lárez, usa as mensagens em que ele informa sobre os destacamentos da milícia no país, para misturá-los com discursos políticos.
Nessa rede social, o oficial do Exército tem mais de 170.000 seguidores. Esses não são apenas membros do partido do regime venezuelano, mas também pessoas que tentam se manter atualizadas com as atividades dos diferentes componentes militares.
Mas, nessa plataforma, assim como no Instagram, é comum encontrar discursos pouco relacionados a assuntos militares. Da mesma forma, aparecem slogans em rejeição às sanções internacionais impostas contra membros do regime de Maduro, como resultado de atos de corrupção e violação dos direitos humanos da população.
Mensagens semelhantes podem ser encontradas nas contas do General de Exército Vladimir Padrino, chefe da Defesa da Venezuela, bem como dos comandantes das oito Regiões Estratégicas de Defesa Integral (REDI), que são responsáveis por conduzir as ações dos militares em suas respectivas jurisdições.
O Gen Ex Padrino, por exemplo, deu ressonância às mensagens sobre as mobilizações do Partido Socialista Unido da Venezuela, realizadas em 16 de maio, em várias partes do país, para rejeitar “as sanções e o bloqueio impostos pelo imperialismo”. Nesse caso, a fonte inicial das mensagens foi Maduro.
Essas ações não são espontâneas. De acordo com Carlos Correa, diretor da ONG Espacio Público, as contas das redes sociais de todos os escritórios do regime venezuelano, bem como as dos funcionários que estão à frente dessas instituições, são usadas como plataformas para a disseminação de propaganda política. Isso também inclui autoridades militares.
“Eles têm como diretriz retuitar as contas de Maduro. Tenho visto isso não apenas em contas pessoais, mas também em contas institucionais”, explicou Correa durante uma conversa com Diálogo, em 18 de maio. “Há um circuito de recirculação de informações.”
Espacio Público monitora a atividade do regime nas redes sociais. De acordo com Correa, mensagens que não estão relacionadas ao trabalho de cada instituição são disseminadas por meio dessas contas. O Gen Ex Hernández Lárez, por exemplo, divulgou um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela para rejeitar as sanções impostas contra os nicaraguenses Daniel Ortega e Rosario Murillo, em 16 de maio.
“Há um monitoramento do que as autoridades dizem. No caso dos militares, o monitoramento é mais rigoroso. Eles tentam mostrar uma certa adesão à estrutura do partido ou no poder”, indicou Correa. “É uma forma de dizer ‘eu estou com isso’, embora eles geralmente tenham muito poucos seguidores.”
Fazendo campanha
A constituição venezuelana estabelece que “a Força Armada Nacional é uma instituição sem militância política”. No entanto, à medida que se aproxima a eleição presidencial, marcada para 28 de julho, está aumentando a frequência de mensagens que se referem à proximidade dos chefes militares com a ditadura e com o candidato à reeleição.
O Gen Ex Padrino republicou uma nota em que Maduro exalta o que ele acredita serem suas virtudes: “Vocês nunca [me] verão com debilidades diante da maldade e da perversidade; não sou fraco, manipulável, nem preguiçoso, tenho energia…”.
Simultaneamente, ele criticou Juan Guaidó e outros ativistas da oposição que, do exílio, alertam sobre os planos destacados pelas Forças Armadas na fronteira com a Guiana. Ele os descreveu como “facciosos que vivem em Washington”.
Tudo isso está acontecendo no contexto de um processo eleitoral no qual o partido governista está em desvantagem. Uma pesquisa da empresa norte-americana ORC Consultores, publicada pelo jornal El Nuevo Herald, de Miami, indica que, no início de maio, o candidato da coalizão de oposição Edmundo González (apoiado por María Corina Machado) já tem 52 por cento da intenção de votos, enquanto Maduro tem apenas 17 por cento.
Lei mordaça
À medida que as eleições se aproximam, está aumentando o controle sobre as redes sociais e as ameaças aos meios de comunicação que expressam qualquer independência. De acordo com o investigador de comunicações, Marcelino Bisbal, desde a época de Hugo Chávez até a ditadura de Maduro, foram introduzidas oito leis que impõem restrições à disseminação de informações. A isso poderia se somar a chamada Lei contra o Fascismo, aprovada em primeira discussão no Parlamento dominado pelo regime.
Essa nova lei abre uma nova porta para o controle discricionário da ditadura sobre as liberdades políticas e a liberdade de expressão na Venezuela, informa o diário espanhol El País. Durante uma entrevista à Diálogo, Bisbal indicou que essa situação de ameaça permanente incentiva condutas de autocensura, tanto na mídia convencional, como nas redes sociais.
“Os jornalistas simplesmente se autocensuram. A pouca informação pública que eles vão administrando se torna uma caixa de ressonância para o que o regime informa”, advertiu Bisbal. “A partir daí, haverá jornalistas que são muito bons, que tentarão contrastar o que uma fonte pública diz com o que realmente está acontecendo nas ruas. Mas também há muito medo e eles estão se autocensurando.”
Para Bisbal, a única maneira de quebrar o controle hegemônico do governo sobre a mídia é por meio de mudanças políticas. “Esse regime não vai voltar atrás nas abordagens à mídia que vem implementando […]. Eles as têm registradas”, ressaltou.