O regime iraniano continua buscando expandir sua revolução islâmica globalmente, inclusive na América Latina. Como parte dessa estratégia, promove as memórias de seus líderes para envolver os agentes locais, como indica a ONG Instituto de Investigação da Mídia do Oriente Médio (MEMRI), com sede em Washington.
Até agora, em 2023, de acordo com MEMRI, Teerã lançou uma extensa campanha maciça para divulgar a tradução para o espanhol das memórias de seus líderes, como o livro Célula Nº 14, que relata as experiências do líder supremo Ali Khamenei durante sua detenção e exílio no Irã, antes da revolução islâmica (1979).
“Há décadas, o Irã tem um plano estabelecido para se infiltrar na América Latina, difundir o islamismo radical e preparar células terroristas”, disse à Diálogo, em 16 de setembro, Jorge Serrano, especialista em segurança e membro da equipe consultiva da Comissão de Inteligência do Congresso do Peru,. “A promoção de sua cultura e literatura radical faz parte desse plano.”
Depois do Seminário de Governança Islâmica Ideal, em 1982, com mais de 300 clérigos de 70 países no Irã, foi revelada a ambição nacional da ditadura teocrática de exportar a revolução islâmica usando a cultura e a política e o grupo terrorista Hezbollah para disseminar o Islã radical e atacar o Ocidente e os inimigos de Teerã, disse Serrano.
“Homens-bomba”
A Célula Nº 14 é produto da parceria entre a editora Lighthouse International e a organização Shahid Soleimani, apoiada pela Embaixada do Irã na Colômbia, indicou MEMRI. A editora Lighthouse International (Fanoos Daryaei em farsi), de propriedade de Khamenei, e sua subsidiária colombiana de língua espanhola, El Faro Internacional, está sob a direção de ex-alunos da Universidade Internacional Al-Mustafa em Qom, no Irã, e é uma ferramenta conhecida por doutrinar clérigos estrangeiros.
“Todas as embaixadas do Irã no mundo, assim como as embaixadas de Cuba, Rússia, Venezuela e China, têm um propósito além de sua especialização. Sua verdadeira função é operar como centros de inteligência, realizando atividades clandestinas no país anfitrião”, disse Serrano. “No contexto da promoção do Islã radical por meio da cultura, as embaixadas se tornam um aliado importante nesse esforço.”
A Lighthouse International também está ligada ao Islam Oriente, um site administrado pela Universidade Al-Mustafa e dirigido por Mohsen Rabbani, que esteve envolvido no atentado a bomba contra a Asociación Mutual Israelita Argentina (AMIA), em Buenos Aires, em 1994, quando um carro-bomba se chocou contra o centro comunitário judaico.
Em junho, o embaixador iraniano na Nicarágua, Majid Salehi, disse ao site islâmico Rahyafteha que a Célula Nº 14 é “um guia para os jovens da América Latina aprenderem sobre as lutas, a resistência e as ações dos jovens revolucionários iranianos”.
“Isso é um perigo, porque é um ramo radical e fundamentalista do Islã”, alertou Serrano. “As embaixadas iranianas oferecem bolsas de estudo para atrair jovens latino-americanos para Teerã, onde eles se radicalizam no Islã. Alguns se tornam potenciais homens-bomba com dispositivos de sincronização. Os temas culturais e literários facilitam isso.”
Os jovens convertidos retornam a seus países de origem, como Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México, Nicarágua, Peru e Venezuela, para atuar como agentes locais do Islã radical. Eles conhecem o terreno, dominam o idioma e passam despercebidos, acrescentou Serrano.
Eles também retornam para liderar centros e mesquitas financiados pelo Irã, para disseminar a mensagem revolucionária iraniana em várias instituições, influenciando redes culturais, sociais e políticas. Vários deles são ativistas de extrema esquerda ou vêm de movimentos neonazistas, detalha na internet o think tank Foro do Oriente Médio, com sede na Filadélfia,.
O sistema de influência e soft power do Irã opera por meio de seus centros culturais e subsidiárias, que estão presentes em praticamente todos os países da América Latina. Além de Cuba, Nicarágua e Venezuela, a rede iraniana se estende na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Equador, México e Peru.
“Na campanha presidencial de 2011 no Peru, foi identificada a presença de uma célula ligada ao Irã, que distribuía materiais de divulgação religiosa e da ideologia dos clérigos iranianos, em uma província remota no planalto interior do país, perto do VRAEM [Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro]”, afirmou Serrano.
Entendimento
A presença do Irã não traz nada de positivo para os povos latino-americanos. Suas ações também buscam dar poder a ditadores como os da Venezuela, Cuba e Nicarágua, promover negócios obscuros e envolver-se em geopolítica de alta tensão. O Irã está avançando sem controle no continente, informa na internet o jornal americano The Hill.
“É essencial interromper e dificultar a disseminação da influência iraniana na região”, ressaltou a revista Manara, sediada em Cambridge, Inglaterra. “Isso significa impedir o uso de centros culturais, educacionais e religiosos para disseminar sua ideologia e expandir suas redes criminosas.”
“Para combater a estratégia de longo prazo do Irã, um estado criminoso e terrorista, é fundamental conhecer e entender o que Teerã está fazendo. Sem entender a ameaça, é impossível desenvolver um plano eficaz de curto e médio prazo, para abordar as ações do Irã”, concluiu Serrano.