Força na unidade, cooperação, inteligência e paciência foram alguns dos recursos que as Forças Armadas da República Dominicana usaram a seu favor para desmantelar várias organizações criminosas transnacionais que haviam estabelecido narco economias paralelas em todo o território nacional.
Com o apoio do Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) e da Administração para o Controle de Drogas dos EUA (DEA), as autoridades dominicanas desferiram golpes nas organizações de narcotráfico por meio da Operação Cayman II, considerada a maior realizada no sul do país. A Cayman II foi o ponto culminante de uma investigação de um ano que resultou, primeiro, em apreensões significativas de cocaína (mais de 5 toneladas) e, finalmente, em incursões em várias propriedades e prisões de muitos criminosos, em meados de abril de 2024.
Mais de 500 soldados das Forças Armadas da República Dominicana participaram do Cayman II, sendo destacados nas províncias de San Juan, Barahona, Peravia, Pedernales e Santo Domingo, por terra, ar e água.
“O Caribe desempenha um papel muito importante no tráfico internacional de drogas proveniente da América do Sul. É através das Antilhas, particularmente da República Dominicana, que temos visto o incremento do narcotráfico nos últimos anos”, disse à Diálogo, em 2 de junho, German Licona, advogado e consultor de segurança hondurenho. “Muitas das drogas que vêm de países asiáticos buscam essa mesma rota, inclusive contornando a rota que cruza a América Central, pois evita passar pelo México ou Guatemala, onde há maior vigilância.”
Inteligência compartilhada
Esse resultado foi possível graças ao intercâmbio de inteligência e à instalação de um centro de operações com tecnologia de ponta, que serviu de base para que as agências envolvidas mapeassem de forma abrangente como estavam operando as estruturas do narcotráfico, explicou o jornal dominicano Diario Libre. Além disso, foram implementadas técnicas modernas de investigação que tiveram como consequência outras importantes apreensões desde o início da fase I da operação, em janeiro de 2023.
De acordo com Diario Libre, o Ministério Público informou que identificou pelo menos seis estruturas dedicadas ao tráfico internacional de drogas na região, formadas por clãs familiares que passam suas atividades criminosas de geração a geração. Esses clãs se dedicam a essa atividade ilícita usando a República Dominicana como ponte para os narcóticos provenientes da Colômbia e traficados para os Estados Unidos, Porto Rico e Europa, acrescentou.
Essas estruturas organizam a logística e o transporte e executam operações transnacionais de narcotráfico por via marítima. Além disso, as narco famílias controlavam grupos dedicados a roubar carregamentos de drogas em alto mar, informou o jornal dominicano El Día.
“Nos últimos anos, houve mais capturas de grandes estruturas de drogas que tinham seu setor operacional nessa região. É apropriado que haja um apoio internacional permanente, a fim de reduzir significativamente o tráfico de drogas”, acrescentou Licona. “Também é importante levar em conta que muitas drogas já estão sendo processadas nos mesmos países centro-americanos, transformando-os em produtores, como no caso de Honduras, onde foram identificadas zonas de produção e laboratórios de drogas.”
De acordo com a Direção Nacional de Controle de Drogas (DNCD) da República Dominicana, as forças de segurança utilizaram quatro aeronaves para localizar os suspeitos e realizar destacamentos especiais em lugares de difícil acesso. Outras quatro embarcações vigiavam o litoral das províncias de Barahona e Pedernales e Ilha Beata.
Os membros desses clãs também foram encontrados com evidências de transferências financeiras com parceiros na Colômbia, informou a mídia dominicana Listín Diario, sem especificar a qual cartel ou grupo de narcotráfico pertencem os membros do conluio.
Cooperação internacional
Essa intensa luta contra as redes criminosas de narcotráfico na República Dominicana tem o apoio incondicional dos EUA, um parceiro sempre pronto para fornecer recursos e capacidades às agências de segurança locais.
Durante o ano de 2024, por exemplo, o Departamento de Assuntos Internacionais contra o Narcotráfico e Aplicação da Lei (INL) dos EUA entregou à DNCD equipamentos especializados para a persecução e o combate ao narcotráfico e outros crimes relacionados. Entre as novas ferramentas de trabalho estão um polígono de tiro virtual, escopos de visão noturna, equipamentos eletrônicos, maquinário para obras civis e suprimentos militares, informou a DNCD em março.
Além disso, somente durante 2023, a DEA contribuiu com cerca de US$ 4,7 milhões para a DNCD em sistemas de segurança, equipamentos eletrônicos e de monitoramento, suprimentos, capacitações, bem como outras ferramentas para fortalecer a luta contra o narcotráfico nacional e internacional.
O Ministério da Defesa da República Dominicana recebeu em fevereiro de 2024 uma aeronave avaliada em mais de US$ 8 milhões, administrada pelo Departamento de Defesa dos EUA, em apoio à luta compartilhada contra o tráfico ilícito de narcóticos por organizações criminosas transnacionais e aos esforços do país para prestar assistência humanitária em casos de desastres, informou a sede consular dos EUA.
A Operação Cayman II permitiu determinar que as seis estruturas desmanteladas do crime organizado conseguiram transportar, desde 2021 e separadamente, aproximadamente 28 toneladas de cocaína por ano da América do Sul para a ilha, informou a mídia local Noticias SIN, em 16 de abril. Seu modus operandi era enviar barcos para o território colombiano, retornar com as drogas para as províncias do sul da ilha e, em seguida, enviá-las para os Estados Unidos, Porto Rico ou Europa.