O crime organizado turco, com a ajuda de grupos criminosos latino-americanos, está expandindo a distribuição de cocaína na Europa e no Oriente Médio. As agências internacionais de aplicação da lei apreenderam quantidades recordes da drogaque seria levada da América do Sul para a Turquia, de acordo com um relatório do final de junho da Insight Crime, a organização internacional que se dedica a investigar o crime organizado na América Latina e no Caribe.
Novas rotas
Esses grupos criaram novas rotas a partir da América do Sul, informou online o diário equatoriano El Universo. A rota marítima utilizando grandes contêineres, a partir de portos de vários países, como Equador, Colômbia, Panamá e Brasil, é a preferida pelo narcotráfico internacional.
Em 23 de junho, a Polícia Nacional do Equador apreendeu no porto de Guayaquil 850 quilos de cocaína camuflados entre bananas, em um contêiner com destino à Turquia, informou a Polícia. Os produtos com maior incidência desse comércio ilícito são frutas, diz El Universo.
No porto turco de Mersin, em 16 de abril, as autoridades apreenderam 258 kg de cocaína de um contêiner de bananas, comunicou no Twitter o ministro do Interior da República da Turquia, Süleyma Soylu. O contêiner vinha do porto equatoriano de Guayaquil, informou InSight Crime. “Continuamos a erradicar a maior fonte de financiamento do terrorismo”, afirmou o ministro turco.
Em fevereiro, agentes antinarcóticos do Equador apreenderam 44 pacotes de cocaína em um contêiner com bananas no porto de Guayaquil. A droga tinha como destino aTurquia, informou a Polícia equatoriana.
O número de apreensões de cocaína está aumentando na Turquia. Em 2021, uma dasprincipais descobertas foi a de 1,3 tonelada de cocaína procedente do Equador. Em 2020, as autoridades turcas confiscaram 2 toneladas, em 2019, mais de 1.600 kg, e em 2018, 1,5 tonelada de cocaína, informou a Polícia turca.
A ponta do iceberg
Essas apreensões, segundo especialistas consultados por InSight Crime, são apenas a ponta do iceberg, pois o crime organizado turco, que historicamente domina o tráfico de heroína na Europa, está se voltando cada vez mais para a cocaína, para compensar a queda dos preços do opiáceo.

Fredy Rivera, especialista em segurança e crime organizado e professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais do Equador, disse à Diálogo que as apreensões falam de “uma diversificação dos mercados, da ampliação da porosidade dos sistemas de controle e da abertura de um novo elo através de uma ponte via Turquia”.
Embora o Equador não tenha laços fortes com a Turquia, “a camuflagem [de cocaína em carregamentos de bananas] através de outros países aumentará porque é um dos principais produtos de exportação, e temos que ter em mente que há de fato uma ascensão estratégica do Equador no crime organizado em suas diferentes variantes, basicamente a cocaína”, acrescentou.
Fatores e links
Após as apreensões históricas dasautoridades norte-americanas e europeias, os traficantes começaram a procurar alternativas para levar seus produtos à Turquia, relata Insight Crime. Com a demanda por cocaína em ascensão, os traficantes de drogas turcos atravessaram o Atlântico.
Outro fator no aumento do tráfico de cocaína através da Turquia é o colapso econômico da Venezuela, que levou o regime de Nicolás Maduro a “depender de vínculos com o crime organizado para traficar drogas, ouro e petróleo e assim poder financiar seu orçamento”, disse ao diário espanhol El País Eduardo Buscaglia, acadêmico da Universidade de Columbia,em Nova York.
Os elos para fazer chegar as drogas à Turquia “são complexos”, disse Rivera. “Os operadores das organizações criminosas turcas são operadores externos, com alianças, homens de frente, advogados e funcionários corruptos na América Latina.”Entre eles, estão os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), segundo El País.
A Turquia também interessa ao cartel mexicano de Sinaloa para lavar seus rendimentos ilegais. Esse grupo “se tornou uma empresa criminosa multinacional, diversificando-se em todos os tipos de delitos. A Turquia representa um país de baixo custo, porque é uma importante economia regional, bem conectada com aEuropa”, explicou Buscaglia.
Combater pela raiz
Para reduzir a ameaça global do narcotráfico serão necessárioscompromissos políticos sustentados dos governos parceiros, apoiados pela assistência dos EUA para abordar todos os elos da cadeia, de fornecedores aconsumidores. Isto significa frear a produção de drogas ilícitas, interditar osenvios de drogas, lidar com o financiamento ilícito e reduzir a demanda de drogas em todos os lugares, indica o Departamento de Estado dos EUA em seu site.
A coordenação interagências e a cooperação internacional na luta contra o narcotráfico no Caribe e na América Latina “é vital”, declarou Rivera. “É necessária uma cooperação direta, precisa e diversificada, com uma boa análise das vulnerabilidades e necessidades, com muito mais intercâmbio de inteligência, confiança e reconhecimento dos esforços feitos pelos Estados para combater este flagelo”, concluiu.