Seis aeronaves A-29 da Força Aérea Brasileira (FAB) voaram do Brasil até a costa oeste dos Estados Unidos para participar do exercício aéreo Green Flag-West. Os aviões, popularmente conhecidos como Super Tucanos, realizaram dois voos diários, entre os dias 31 de maio e 14 de junho, período da duração do exercício, partindo da Base Nellis da Força Aérea dos EUA, localizada a aproximadamente 30 minutos de carro da famosa Strip de Las Vegas, no estado de Nevada. O destino era o Fort Irwin, no deserto de Mojave, na Califórnia, onde um exercício correlato foi realizado concomitantemente.
O objetivo da participação brasileira no Green Flag foi o preparo e a atualização doutrinária dos militares da FAB por meio do intercâmbio operacional e da troca de experiências com as forças aéreas de outros países, a fim de atualizar as táticas, técnicas, procedimentos e doutrina em missões ar-solo conjuntas, de acordo com o Major Aviador da Força Aérea Brasileira João Paulo Gomez Lima da Silva, comandante da missão do Brasil nos EUA. Durante o exercício, foram executadas missões de Apoio Aéreo Aproximado pelos pilotos brasileiros dos Super Tucanos e missões de Guia Aéreo Avançado pelos militares do Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, em apoio às forças do Exército dos EUA no Fort Irwin.
Super Tucanos
Foi a primeira vez que os A-29 saíram do Brasil para participar de um exercício combinado. “A participação [dos brasileiros] demandou muita coordenação e preparo. Foi um trabalho duro, que levou mais de um ano para ser concretizado, mas que valeu muito a pena. Os resultados foram excelentes“ , disse à Diálogo o Major da Força Aérea dos EUA Kelsey Finley, oficial dedicado aos assuntos relacionados ao Brasil das Forças Aéreas Sul. Foi também a primeira vez que a FAB participou do Green Flag. “Vale ressaltar que, depois da Segunda Guerra Mundial, essa foi a primeira oportunidade que o Brasil teve de participar de um treinamento conjunto com a USAF [Força Aérea dos EUA] em missões de apoio às tropas do Exército americano”, disse o Maj João.
Os Super Tucanos exerceram a função de Apoio Aéreo Aproximado, auxiliando as tropas do Exército americano em solo a conter e neutralizar ameaças que pudessem impedir o avanço da frente de batalha. “Isso não é algo tão incomum no cenário atual, sendo uma missão amplamente empregada pelos A-10. Os esquadrões de A-29 da FAB já realizavam esse tipo de emprego, entretanto, estamos em fase de atualização doutrinária para os cenários atuais e equipamentos mais modernos”, explicou o oficial brasileiro.
Green Flag
O Green Flag é um treinamento realista de integração de combate ar-terra envolvendo forças aéreas dos Estados Unidos e nações parceiras. O exercício é realizado várias vezes por ano e principalmente em conjunto com o Centro de Treinamento de Combate do Exército dos EUA em Fort Irwin. É um exercício de apoio aéreo conjunto administrado pelo Centro de Guerra Aérea da Força Aérea dos EUA e a Base da Força Aérea americana de Nellis, por meio do Esquadrão de Treinamento de Combate Número 549 (549th Combat Training Squadron – CTS 549th, em inglês).
Durante a execução do exercício, membros da equipe do Green Flag guiam, monitoram e instruem unidades visitantes na condução das operações aéreas em apoio às forças terrestres. Para auxiliar neste esforço, o CTS 549th mantém um quadro de especialistas qualificados em missões ar-terra que voa com os esquadrões visitantes durante a maioria dos exercícios. Quando este pessoal não está ativamente voando nos exercícios, fornece supervisão e garante o alto nível de integração entre as forças aéreas e terrestres.
Em média, 75.000 militares de todas as forças dos EUA, incluindo a Guarda Nacional e os reservistas, participam de dois exercícios Green Flag por ano, em que mais de seis mil horas de voo são realizadas e cerca de 700 toneladas de explosivos são utilizadas. As forças aéreas de outros países participam de um ou mais exercícios de coalizão específicos deste tipo anualmente nos EUA. “O Green Flag ocorre várias vezes ao ano. Por se tratar de um primeiro contato, necessitamos processar todos os conhecimentos adquiridos, atualizar nossa doutrina de Apoio Aéreo Aproximado para, então, avaliar as condições para uma nova participação”, comentou o Maj João sobre futuras participações da FAB no exercício.
O Brasil enviou 70 militares para o exercício, a maioria integrantes dos esquadrões que voam A-29 na FAB. Participaram, ainda, militares do Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, desempenhando a função de Controlador de Ataque Terminal Conjunto (Joint Terminal Attack Controller), controlando as aeronaves para os ataques em suporte às forças terrestres. “Os brasileiros contribuíram bastante demonstrando que existe a possibilidade de uma aeronave como o A-29 cumprir essa gama de missões em um cenário complexo, gerando sinergia entre aeronaves de baixa/média performance e as tropas no solo”, concluiu o Maj João.