Proteger as fronteiras terrestres e fluviais do Panamá é a tarefa incansável dos mais de 6.000 homens e mulheres do Serviço Nacional de Fronteiras (SENAFRONT). Sua missão é não dar trégua às organizações criminosas transnacionais, gangues criminosas e fluxos de migrantes não autorizados que buscam se infiltrar no Panamá.
Seu novo diretor, o Comissário Jorge Luis Gobea Trejos, nomeado em julho de 2023, especialista em segurança contra o terrorismo e combate a ameaças transnacionais, está interessado em fortalecer os acordos em matéria de segurança e defesa do país, reforçar os compromissos assumidos com as forças militares e de segurança dos países amigos e trabalhar em estreita colaboração na luta contra organizações criminosas transfronteiriças.
Para discutir essas questões, o diretor Gobea se reuniu com Diálogo nas instalações do SENAFRONT, na Cidade do Panamá.
Diálogo: Qual é o maior desafio do SENAFRONT em termos de segurança nacional?
Comissário Jorge Luis Gobea Trejos, diretor do Serviço Nacional de Fronteiras do Panamá: Em termos de segurança nacional, os desafios do SENAFRONT estão concentrados em todas as ameaças transnacionais e transfronteiriças que afetam diretamente o tecido social e a estabilidade nas áreas de fronteira e no Panamá. Estamos diretamente concentrados na luta contra toda essa atividade criminosa e suas mutações no ambiente atual, especialmente nas áreas de fronteira.
Diálogo: O controle do tráfico de migrantes no Golfo de Urabá, na fronteira da Colômbia com o Panamá, é exercido pelo cartel do Clã do Golfo, por meio de organizações de fachada. Como o SENAFRONT está se preparando para combater essa situação na fronteira?
Comissário Gobea: Podemos dizer que há duas situações diferentes: uma situação na zona cinzenta, que fica na área da Colômbia, e outra situação assim que os migrantes cruzam o território nacional. O esforço do SENAFRONT em profundidade está na intenção de colocar tropas e patrulhas que percorrem constantemente as áreas que são usadas pelos migrantes e os fluxos migratórios que tentam cruzar para o Panamá. Entendemos a realidade e estamos preocupados com a segurança dos migrantes e que, uma vez que entrem em nosso país, não caiam nas mãos das redes dessas organizações criminosas.
Diálogo: Que iniciativas de trabalho conjunto e combinado o SENAFRONT está realizando com as demais agências de segurança do país para frear as organizações criminosas?
Comissário Gobea: O SENAFRONT tem a filosofia de segurança cooperativa e a praticamos dentro e fora de nossa instituição e de nossas fronteiras. Somos instituições irmãs, instituições de segurança que nasceram juntas, crescemos juntas e entendemos que o trabalho conjunto é a chave para o sucesso na contenção das ações e da influência do crime organizado no Panamá.
Diálogo: Qual é o balanço das operações que realizam quanto à luta contra o narcotráfico e outras atividades ilícitas?
Comissário Gobea: Temos orgulho do Serviço Nacional Aeronaval (SENAN), uma organização governamental que é a ponta de lança contra as operações do narcotráfico e que afeta diretamente suas rotas ilícitas no Pacífico e no Atlântico, e com a qual trabalhamos em conjunto. Nosso trabalho em terra complementa as atividades fluviais e costeiras realizadas pelo SENAN em nível nacional. Somos um dos países e referências na região em termos de interdição, resultados operacionais e cooperação. Trabalhamos diretamente com a Colômbia e a Guarda Costeira dos EUA para combater diretamente o flagelo do narcotráfico em todas as suas formas.
Diálogo: Como o SENAFRONT está integrado e que tipo de capacidades vocês têm?
Comissário Gobea: O SENAFRONT é formado por cinco brigadas, quatro delas territoriais, que têm áreas de operações definidas e uma brigada funcional de Forças Especiais. Nosso sucesso é dar às brigadas territoriais a capacidade de complementar as ações diretas com uma brigada especializada que luta de frente contra as ameaças transnacionais, contra o crime organizado nacional e internacional que busca usar o território nacional para suas atividades.
Diálogo: Que tipo de intercâmbios o SENAFRONT realiza com os Estados Unidos?
Comissário Gobea: Temos um relacionamento com nossos aliados, principalmente com o Comando Sul (SOUTHCOM), em todos os níveis – político, operacional e tático. Mantemos permanentemente equipes que trabalham no crescimento operacional das Forças Especiais, equipes que prestam assessoria administrativa e operacional para melhorar a eficiência do SENAFRONT. Toda essa cooperação está focada nos objetivos nacionais do país, em beneficiar o que o Panamá quer para o futuro e como podemos contribuir para essa segurança cooperativa, regional e hemisférica e melhorar nossas capacidades.
O SENAFRONT é o primeiro escudo de defesa do país. Não temos apenas posições no limite fronteiriço, onde realizamos operações e negamos o uso do nosso território ao crime organizado transnacional e às insurgências que buscam nosso território como refúgio seguro. O Panamá é soberano em seu território e isso se deve às nossas alianças com nosso parceiro estratégico, os Estados Unidos, ao apoio decisivo do SOUTHCOM e das Forças Especiais, que criaram capacidades em nosso pessoal e nos preparam para os desafios do futuro.
Diálogo: O que há de novo no treinamento das unidades do SENAFRONT sobre direitos humanos e o direito internacional humanitário?
Comissário Gobea: Desde as etapas mais básicas de formação do SENAFRONT, os direitos humanos e o Direito Internacional Humanitário são um tema transversal. Qualquer tipo de especialização ou capacitação realizado no SENAFRONT incluirá horas dedicadas a esses tipos de assuntos, que são para nós garantidores e respeitadores da lei.
Diálogo: Que novas capacidades e tecnologias vocês têm para frear a crescente ameaça do terrorismo, da imigração irregular e da proteção de fronteiras?
Comissário Gobea: O mais importante é a interoperabilidade e o trabalho conjunto, que são instrumentos de cooperação interna e regional. Essa é a melhor maneira de trabalhar. Podemos ter equipes, mas se nós, como equipe, não soubermos como trabalhar, estaremos limitados; temos a força em nível nacional para poder trabalhar em equipe, para entender que todos nós temos recursos, que há recursos limitados, mas os recursos que são disponibilizados e a utilização de um esforço principal e comum produz resultados.
Diálogo: Em termos de gênero, que progresso o SENAFRONT fez?
Comissário Gobea: Eu liderei o grupo de reflexão sobre gênero, para tentar abrir oportunidades para nosso pessoal feminino. Temos que abrir oportunidades e criar espaços para que elas pssam se desenvolver. O pessoal feminino tem uma vasta experiência, em sua maioria são mães e as mães têm uma perspectiva diferente sobre segurança; elas têm uma perspectiva diferente sobre como fazer o trabalho nas comunidades e é isso que estamos explorando. Mantemos uma promoção exclusivamente feminina, porque estamos dando a elas uma formação exclusiva, preparando-as e especializando-as para o trabalho e os desafios de segurança que enfrentamos.
Diálogo: As unidades do SENAFRONT participaram do 2º curso interinstitucional PANAJUNGLA. Que novas habilidades o pessoal está desenvolvendo nesse treinamento?
Comissário Gobea: No início do ano, apresentamos a proposta de reviver o PANAJUNGLA, um curso emblemático, que não era realizado há 33 anos. Elaboramos o currículo, treinamos os instrutores e lançamos o primeiro curso, que foi um sucesso. Agora estamos exportando esse conhecimento em nível interinstitucional e vamos exportá-lo internacionalmente em outubro, quando convidaremos aliados e parceiros da região, inclusive membros do Grupo Sete das Forças Especiais [dos EUA], que trabalham diretamente conosco.