A Conferência de Diretores de Colégios de Defesa Ibero-Americanos é um arranjo inter-regional que envolve países da Europa e das Américas, com o objetivo de reunir estabelecimentos educacionais dedicados ao tema da defesa nacional. Em 2022, o evento foi realizado na Escola Superior de Guerra do Brasil, no Rio de Janeiro, de 9 de agosto a 2 de setembro. Em 2023, a conferência será realizada na Guatemala. Diálogoconversou com o Coronel Edgar Leopoldo Fuentes Gómez, diretor do Comando Superior de Educação do Exército da Guatemala e representante do seu país no evento deste ano.
Diálogo: O que a Guatemala traz para uma conferência como esta?
Coronel Edgar Leopoldo Fuentes Gómez, diretor do Comando Superior de Educação do Exército da Guatemala:Nesta conferência, o que trazemos é nossa experiência, nossas lições aprendidas como Forças Armadas do Estado da Guatemala, nossa capacidade de gerar sinergia com outras instituições do Estado, para poder contribuir para a resposta de saúde diante de uma pandemia como a COVID-19.
Diálogo: E como surgiu esta resposta?
Cel Fuentes: Houve realmente uma cooperação interestadual. O que aconteceu na Guatemala, como em vários países do mundo, é que toda a capacidade de infraestrutura do Ministério da Saúde Pública ficou aquém do que era necessário para dar uma resposta massiva à demanda ultra massiva dos infectados pela COVID-19. Então, nossos quartéis se tornaraminicialmente um centro de coleta de doentes. Depois, com as transferências para oshospitais, reagimos como ambulâncias; e mais tarde, já na fase de vacinação, quase todos os quartéis-generais se tornaram centros de vacinação contra a COVID-19. Isto é, devemos reconhecer que toda a infraestrutura de saúde pública foi superada pela pandemia. Então, essa é a resposta, porque estávamos envolvidos em tudo, em toda a extensão do país.
Diálogo: O senhor acha que houve uma utilização excessiva das Forças Armadas da Guatemala nessa resposta?
Cel Fuentes: Não houve uso excessivo das Forças Armadas nesta ocasião ou em ocasiões anteriores. O que houve foi o uso de uma expressão militar em apoio a outras expressões do poder nacional. A população assimilou isso para outros atores, incluindo atores não-governamentais, que assimilarammuito bem e houve uma resposta e coesão muito favoráveis. A percepção de credibilidade do Exército da Guatemala era de 70-72 por cento, agora estamos em 88-90 por cento, me atrevo a dizer. Não tenho os dados concretos à vista, mas nós somos a primeira instituição com mais credibilidadeno país, felizmente.
Diálogo: O Comando Superior de Educação do Exército da Guatemala é equivalente à Escola Superior de Guerra do Brasil, por exemplo?
Cel Fuentes: Totalmente equivalente; temos cooperação mútua com o Brasil. Temos um curso superior de guerra;preparamos nossos oficiais para desenvolver esses tipos de planos de contingência para ajuda humanitária e outros por natureza das forças armadas dos países sobre questões de soberania. Temos um curso de altos estudos estratégicos, onde compartilhamos mais do que as aulas; compartilhamos conhecimentos com profissionais civis, funcionários de outras instituições do Estado, do setor privado e de organizações não governamentais, a fim de fortalecer a comunidade de defesa. A defesa do país é uma responsabilidade compartilhada, embora institucionalmente e legalmente, as Forças Armadas, neste caso o Exército da Guatemala, devem estar na vanguarda e éuma responsabilidade constitucional.
Diálogo: Quem pode fazer esses cursos?
Cel Fuentes: No curso de Altos Estudos Estratégicos, qualquer profissional com diploma acadêmico de bacharelado ou superior, ou seja, de magistrado ou doutorado, pode frequentar essas salas de aula. Há um espaço para 20 a 25 senhoras e senhores profissionais não militares, e a classe é completada com outros 20 militares, ou seja, normalmente a cada seis meses temos um total de 45 alunos e 20 são civis. Nos últimos 17 anos, formamos mais de 800 profissionais, que tiveram um desempenho muito importante no exercício da administração do Estado, desde presidentes, congressistas e ministros de Estado. Estamos gerando uma forte sinergia para isto.
Diálogo: Qual é a participação das mulheres?
Cel Fuentes: Elas têm uma participação de7 por cento e queremos ultrapassar 10 por cento em breve, mas isso também está por vir. Tem que haver uma resposta da própria sociedade, de ter interesse em questões de segurança e defesa. E este é precisamente nosso foco, para socializar a avaliação que devemos fazer das ameaças e riscos, paraposteriormente fortalecer nossa defesa como estamos.