A nova presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, nomeou no dia 13 de novembro uma nova cúpula militar e negou ter chegado ao poder através de um “golpe de Estado”, como afirma o ex-presidente Evo Morales, asilado no México.
“Não há um golpe de Estado na Bolívia, há um reposicionamento constitucional”, afirmou Áñez em uma coletiva de imprensa no Palácio Quemado, a casa do governo, um dia depois de ter assumido o poder. A dirigente reiterou que convocará eleições “no prazo mais curto possível”.
“O único golpista desse país foi Evo Morales”, disse Áñez, afirmando que o ex-presidente esquerdista indígena desconsiderou o veredito popular em um referendo que foi contra a reeleição por prazo indefinido em 2016 e na eleição de 20 de outubro, quando conquistou uma vitória polêmica que a oposição atribuiu a uma “fraude”. O escrutínio deflagrou as violentas manifestações em massa que levaram à sua renúncia.
“Não aceitarei qualquer outra saída que não seja a de eleições democráticas”, afirmou a presidente direitista, que era a segunda vice-presidente do Senado quando tomou as rédeas do país no dia 12 de novembro.
A advogada, de 52 anos, assumiu o poder em uma controvertida sessão legislativa, sem quórum regulamentar, preenchendo o vazio de liderança criado com as renúncias de Morales e dos demais funcionários na linha sucessória.

Sua proclamação foi avalizada pelo Tribunal Constitucional, enquanto os chefes militares e policiais lhe declararam sua lealdade.
No dia 13 de novembro, nomeou uma nova cúpula militar de cinco oficiais, designando como comandante em chefe das Forças Armadas o General de Exército Sergio Carlos Orellana, em uma cerimônia que contou com a presença de cerca de 50 oficiais.
O “Estado precisa de nós, agora mais do que nunca, para manter a paz”, disse o Gen Ex Orellana em um discurso, no qual pediu aos seguidores de Morales que “deixem de lado suas atitudes intransigentes”.
A governante também nomeou um novo chefe do Estado-Maior da Defesa, além de novos comandantes em chefe do Exército, da Marinha de Guerra e da Força Aérea. Áñez elogiou “a atitude democrática das Forças Armadas e da Polícia”, que abandonaram Morales.
A nomeação do Gen Ex Orellana implicou a passagem para a reserva do General de Exército Williams Kaliman, nomeado chefe das Forças Armadas há um ano por Morales e que se negou a enviar suas tropas para reprimir as manifestações da oposição e os motins policiais deflagrados no dia 8 de novembro.
A presidente disse ainda que está “trabalhando na questão” do seu gabinete ministerial e fez uma advertência aos partidários de Morales para que cessem os protestos nas ruas. “A partir de agora, não permitiremos que ponham obstáculos à nossa frente”, declarou.
No entanto, na mesma hora tiveram início confrontos entre seguidores de Morales e policiais a umas três quadras do palácio do governo, cujos arredores estavam bloqueados pelos policiais.
Áñez também convocou “os funcionários públicos para retornarem imediatamente a seus postos de trabalho”, após três semanas de bloqueios nas ruas e paralisações. Entretanto, ela advertiu que fará mudanças nas chefias das instituições do Estado: “todos os cargos públicos deverão ser postos à disposição do novo governo”.