A indústria de mineração de ouro da Colômbia tem estado historicamente cheia de criminalidade, criando um imenso mercado negro para o metal precioso. Organizações criminosas, incluindo o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupos dissidentes das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e outras gangues criminosas exploram as grandes reservas de ouro da Colômbia, financiando múltiplas atividades criminosas, tais como o comércio ilegal de armas e a lavagem de dinheiro.
Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a exploração ilegal de minas na Colômbia cobre mais de 64.000 hectares, dos quais 27.589 estão localizados em territórios de comunidades indígenas, disse a InSight Crime, uma organização que estuda o crime organizado na América Latina e no Caribe, em um relatório de setembro de 2021. O ouro da Colômbia representa 2 por cento da produção mundial de ouro, mas mais de 70 por cento do ouro extraído na Colômbia é produzido por grupos armados ilegais, diz o Departamento contra o Crime Organizado Transnacional (DTOC) da Organização dos Estados Americanos (OEA), em um relatório de fevereiro de 2022.
A demanda global por ouro e o aumento significativo de seus preços internacionais incentivam os grupos criminosos da Colômbia a expandir as operações ilegais de extração de ouro, prejudicando efetivamente o meio ambiente e as populações indígenas, conduzindo práticas irresponsáveis de extração nas reservas naturais e rios da Colômbia, envenenando as fontes de água que os colombianos utilizam e semeando o terror entre a população.
Grupos criminosos, como as dissidências das FARC, utilizam o ouro explorado para financiar a sua agenda ilícita, lavando dinheiro em escala industrial, tornando esta atividade mais lucrativa do que o narcotráfico, relata o DTOC da OEA. Os grupos criminosos operam em grande parte sem licenças aprovadas pelo governo, ou em áreas que ainda não foram aprovadas para a mineração, indicou a InSight Crime.
Os grupos criminosos, assim como os mineiros ilegais em pequena escala, utilizam mercúrio, uma substância altamente tóxica, durante o processo de extração, permitindo que ele seja liberado no meio ambiente, nas fontes de água da Colômbia, e penetre na cadeia alimentar. As comunidades indígenas, bem como animais em torno dessas fontes de água que dependem do peixe como fonte primária de proteína, se expõem ao envenenamento por mercúrio, relacionado com problemas de saúde irreversíveis, tais como problemas neurológicos e reprodutivos.
O Instituto de Recursos Mundiais, uma organização não-governamental dedicada ao meio ambiente global, com sede em Washington D.C., descobriu em um relatório, no final de 2020, que a mineração ilegal invadiu quase 400 territórios indígenas, ameaçando centenas de tribos indígenas. De acordo com a Organização Nacional das Comunidades Indígenas da Amazônia Colombiana, a tribo nativa Witotos, no sudeste da Colômbia, está “morrendo lentamente”, devido aos altos níveis de mercúrio, informou o site de notícias sobre conservação Mongabay.
Além da poluição da água, as operações ilegais de mineração criam múltiplos problemas ambientais, tais como a poluição do ar e do solo, através da liberação de produtos químicos e o desmatamento em massa em torno das áreas em que existem essas operações. Desde 1990, mais de 5,4 por cento da superfície colombiana foi desmatada, de acordo com o DTOC da OEA. Por exemplo, o desmatamento afetou mais de 2.000 hectares dentro do Parque Nacional Chiribiquete na Amazônia Colombiana, o maior parque nacional da Colômbia, entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022, um aumento significativo em comparação com os 1.948 hectares entre 2019 e 2020, informou a Reuters. Para Rodrigo Botero, diretor geral da ONG colombiana Fundação para a Conservação e o Desenvolvimento Sustentável, os números sugerem que o desmatamento é galopante. “Prevejo que definitivamente há novamente um aumento do desmatamento na região amazônica em relação ao ano anterior”, disse à Reuters.
A violação dos direitos humanos também é comum onde ocorrem operações ilegais de mineração de ouro. O uso de extorsão, violência e trabalho forçado são denunciados. A mineração ilegal e as ações de grupos criminosos como o ELN, os grupos dissidentes das ex-FARC e outras gangues contribuem para a crescente onda de deslocados no país, indica o relatório do DTOC da OEA. As principais vítimas desse deslocamento são as comunidades indígenas. Os enfrentamentos entre membros de comunidades indígenas, que lutam para proteger o meio ambiente e seus recursos naturais, e grupos criminosos resultam frequentemente em ameaças de morte, com 117 ativistas ambientais indígenas assassinados na última década na Colômbia, segundo a ONG internacional Global Witness.
Em abril de 2021, Sandra Liliana Peña Chocué, governadora da reserva indígena La Laguna Sibéria e líder do povo Nasa, foi assassinada a tiros. Peña Chocué era uma figura proeminente dos direitos do povo Nasa, que se pronunciava contra as operações de mineração ilegal e o narcotráfico dentro do seu território. Os grupos armados e as organizações criminosas que se dedicam às práticas extrativistas e ao narcotráfico atacam o povo Nasa para obter controle sobre suas terras, informou um relatório de julho de 2022 do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. No início de 2022, quatro líderes do povo Nasa foram assassinados, acrescentou o relatório.
A destruição das fontes vitais de água da Colômbia, juntamente com a violação dos direitos dos povos indígenas, criou um grande problema para o governo colombiano. À medida que grupos criminosos e empresas criminosas continuem a se envolver em extração ilegal de ouro e invadir os territórios das comunidades indígenas, as taxas de deslocamento e violência aumentarão.
O governo colombiano, no entanto, tem intensificado a luta contra a mineração ilegal, fazendo incursões em minas e destruindo equipamentos deixados no local, inclusive tomando medidas para combater a exportação e a venda de ouro ilegais. As Forças Militares da Colômbia, por exemplo, têm uma brigada do Exército dedicada à luta contra essas operações ilegais, conhecida como Brigada contra a Mineração Ilegal.
Em setembro de 2021, o procurador geral da Colômbia, Francisco Barbosa Delgado, e representantes na Colômbia da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, assinaram um memorando de entendimento para criar uma unidade contra o desmatamento e os crimes ambientais, informou a Procuradoria-Geral da Colômbia em um comunicado. A unidade terá como objetivo assegurar a proteção do meio ambiente e manter a lei e a ordem nas regiões onde ocorrem operações de mineração ilegal.
Por sua vez, o presidente colombiano, Gustavo Petro, durante uma reunião do Conselho de Segurança, em agosto de 2022, disse que sua administração reprimiria a mineração ilegal, afirmando: “Draga ilegal que é encontrada, draga que é dinamitada imediatamente”. A nova política de mineração, disse Petro, se concentrará no meio ambiente e terá as comunidades locais no centro de todas as operações relevantes das forças de segurança, informou o site de notícias digitais MINING.com.