Agentes da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal fizeram, em 4 de novembro, a maior apreensão de drogas já registrada no estado do Pará, e uma das maiores em portos do Brasil. A operação aconteceu no Porto de Vila do Conde, em Barcarena. Foram quase 3 toneladas de cocaína. As investigações apontam que a droga teria como destino a cidade europeia de Sines, em Portugal, e estava escondida em um contêiner, dentro de sacas de farelo de soja. A ação contou com a ajuda de um cão farejador.
Embora o Porto de Santos, no estado de São Paulo, o maior porto da América Latina, seja o que ainda registra a maior movimentação de drogas no país, o relatório global do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), divulgado no início de julho, confirmado por dados da PF, revela que o tráfico tem migrado para portos menores do país. Segundo dados da PF, no porto de Belém, capital do Pará, que não registrou apreensão de drogas entre 2009 e 2018, em 2019 foram encontrados 1.462 quilos de drogas e em 2021 mais 1.430 kg. Já em Vila do Conde, foram 1.871 kg em 2021, muito menos do que a apreensão de 4 de novembro.
“Essa foi uma das maiores apreensões de cocaína em portos no Brasil. A ação foi resultado de um trabalho de investigação permanente feito pelas instituições. Ninguém foi preso nessa apreensão, mas foi aberto inquérito policial para se colher elementos de prova que apontem a autoria do crime”, disse a PF em um comunicado.
A rota Pará-Portugal
A rota Pará-Portugal já é bastante conhecida pelos órgãos de segurança federal da região, por ser muito utilizada para acessar a Europa por meio fluvial. Em 5 de outubro, a PF havia realizado a Operação Euterpe, com o objetivo de cumprir mandados em cidades paraenses contra o tráfico internacional de drogas, que contou com a participação da Polícia Judiciária de Portugal e o Serviço Europeu de Polícia (Europol), com o apoio da Receita Federal do Brasil. A PF cumpriu 22 mandados de busca e apreensão. A ação fez parte do inquérito policial que apurava a exportação de 320 kg de cocaína apreendidos em Portugal, no fim de junho.
A cocaína levada para Portugal estava escondida em uma grande carga de açaí, embarcada também no Porto de Vila do Conde. Na ocasião, a polícia portuguesa prendeu em Portugal dois paraenses em flagrante por tráfico internacional de drogas, quando tentavam receber o suprimento. A partir daí o Europol entrou em cooperação com a PF e a Polícia Judiciária de Portugal para continuar as investigações e desmantelar o grupo criminoso. Foram detidos Marco Antônio Faria Júnior, que tem negócios em Barcarena, e Nilson de Souza Castro Neto, conhecido como Nilsinho, que nas redes sociais se descrevia como nutricionista e ostentava uma vida de luxo e viagens. Uma terceira pessoa foi detida uma semana depois ao tentar voltar para o Brasil.
“Os mandados de busca e apreensão desta manhã [em 5 de outubro] ocorreram em residências e empresas com suspeita de fazer parte de um grupo criminoso que leva grandes quantidades de cocaína à Europa. Foram apreendidos aparelhos eletrônicos e documentos que possam reforçar a investigação e indicar a possível participação de outras pessoas nos crimes”, informou a PF em um comunicado.
Em 7 de outubro, um quarto paraense foi preso ao desembarcar no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, vindo de Madri, Espanha. Natural também do município de Barcarena, ele era considerado foragido, suspeito de participação no esquema do envio de cocaína misturada em carga de açaí à Europa. No momento do desembarque, ele apresentou o passaporte com nome de outro brasileiro. De acordo com informações repassadas pelas autoridades federais, trata-se de Allan Carvalho Cardoso, de 27 anos, proprietário da empresa A.C. Cardoso, registrada como exportadora de açaí.
De acordo com informações divulgadas pelo principal jornal do Pará, o Liberal, os presos e os suspeitos podem ter envolvimento em um esquema bem maior, comandado por Ruben Oliveira, conhecido como Xuxas, considerado o maior traficante português, e Sérgio Carvalho, conhecido como Major Carvalho, chamado de “Escobar brasileiro”, que foi preso em junho, em Budapeste, capital da Hungria.