As forças de segurança brasileiras desarticularam, no mês de abril, duas quadrilhas com protagonismo no tráfico internacional de drogas, continuando a dar um duro golpe ao crime transnacional. Como resultado dessas ações, 66 criminosos foram presos, entre eles membros do alto escalão das organizações criminosas.
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul realizou a Operação Kraken para combater uma quadrilha que atuava principalmente dentro desse estado e possuía relação com traficantes de cocaína da Bolívia ligados ao cartel mexicano de Sinaloa. Esses bolivianos usavam até semissubmersíveis para enviar drogas para o México e os Estados Unidos, segundo reportagem do portal brasileiro G1.
“O que elas [as quadrilhas] buscam é se consolidar com a busca de droga direta na Bolívia para o Rio Grande do Sul e sul do Brasil, e eles já têm movimentos para começar a fazer uma colocação de drogas também em outros países”, afirmou ao G1 o delegado regional de Canoas, Rio Grande do Sul, Mário Souza. O dinheiro da venda ilegal de entorpecentes financiava a compra de armas pesadas usadas em assaltos. A falsificação de documentos e a lavagem de dinheiro, por meio da aquisição de pedras preciosas, joias, carros e casas de luxo, também eram práticas da organização.

Cerca de 1.300 policiais civis, militares e rodoviários do Rio Grande do Sul e mais quatro estados brasileiros foram mobilizados para participação na iniciativa, realizada em 19 de abril, que cumpriu em um dia 65 mandados de prisão, resultando em 58 prisões efetivas. As autoridades apreenderam mais de R$ 50 milhões (mais de US$ 9,7 milhões) em bens e dinheiro.
“A operação Kraken rompe paradigmas no que se tinha até o momento no combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. Os reflexos desse trabalho certamente serão verificados por vários anos e as técnicas utilizadas servirão de base para trabalhos futuros”, disse Souza, conforme o site da Polícia Civil do Rio Grande do Sul.
Do Brasil à Europa
Outro esquema internacional de tráfico de drogas foi interrompido pela Operação Descobrimento, ocorrida também em 19 de abril. As ações se desenrolaram em cinco estados brasileiros e em Portugal, com a prisão de sete suspeitos no total.
De acordo com o G1, entre os detidos há empresários, políticos, integrantes de uma facção criminosa de São Paulo e a protagonista de um dos escândalos de corrupção mais deplorável do Brasil, a doleira Nelma Kodama, que foi presa em Lisboa. Anteriormente condenada na Operação Lava Jato em 2014, Kodama era agora um alvo da Operação Descobrimento, uma ação contra uma rede criminosa que traficava cocaína para Portugal nas fuselagens de aviões privados, diz a organização InSight Crime. Kodama é suspeita de trabalhar com Marcelo Mendonça de Lemos, um membro de alto escalão do Primeiro Comando da Capital, no suposto esquema de contrabando de cocaína, de acordo com investigadores da polícia federal que conversaram com o órgão de comunicação UOL.

O grupo começou a ser investigado em fevereiro de 2021, quando um avião pertencente a uma empresa portuguesa foi flagrado em um aeroporto no estado da Bahia, no nordeste do Brasil, com mais de meia tonelada de cocaína.
Após o flagrante em 2021, a Polícia Federal do Brasil, com a colaboração da Administração para o Controle de Drogas dos EUA, da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária Portuguesa e do Ministério Público Federal brasileiro, pôde esclarecer como se dava a articulação entre os traficantes brasileiros e portugueses, desvelando uma estrutura que envolvia não só os fornecedores de cocaína, mas também mecânicos de aviação, pilotos e doleiros que faziam a movimentação financeira.
O Brasil é um país de trânsito e destino significativo para a cocaína, diz o Departamento de Estado dos EUA em seu Relatório de Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos de 2022. Suas fronteiras porosas com países fonte – Colômbia, Peru e Bolívia – são três vezes maiores do que a fronteira dos EUA com o México. A maior parte da cocaína que entra no Brasil é destinada ao seu mercado interno ou ao trânsito para a Europa.
As autoridades brasileiras, segundo o relatório, aumentaram as operações de combate às drogas, obtendo resultados positivos em 2021, com mais de 83 toneladas de cocaína apreendidas pela Polícia Federal do Brasil.