O Peru tem uma longa história de participação nas missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). O país é membro fundador do órgão e, em 1988, durante a gestão do peruano Javier Pérez de Cuéllar como secretário-geral da ONU, as Forças de Paz das Nações Unidas receberam o Prêmio Nobel da Paz. A participação do Peru nessas missões remonta a 1958, quando o país enviou tropas para o Líbano. Desde então, membros do Exército, da Marinha e da Força Aérea participam de missões de paz em países como Israel, Namíbia, Costa do Marfim, Chipre e Haiti.
Diálogo conversou com o General-de-Brigada Fernando Hernán Fitzcarrald Guerrero, chefe de assuntos internacionais do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru, sobre a destacada participação dos militares peruanos em missões de paz ao redor do mundo e da Companhia de Engenharia Peru na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA, por sua sigla em francês), entre outros temas.
Diálogo: Como iniciou e se consolidou a participação do Peru nas missões de paz da ONU?
General-de-Brigada Fernando Hernán Fitzcarrald Guerrero, chefe de assuntos internacionais do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru: Nosso país sempre foi sensível aos ingentes esforços que a Organização das Nações Unidas vem empreendendo em sua evolução histórica para contribuir para alcançar e fortalecer os nobres objetivos da paz e convivência pacífica, aos quais aspiram todos os povos do mundo, como condição indispensável para propiciar o desenvolvimento econômico e social dos povos. A participação atual das Forças Armadas peruanas nas Operações de Manutenção da Paz da ONU se enquadra no Memorando de Entendimento firmado entre as Nações Unidas e o governo da República do Peru em 11 de novembro de 2003.
Diálogo: Qual é o objetivo do Peru ao participar de missões de paz?
Gen Bda Fitzcarrald: Buscamos ter uma maior participação das Forças Armadas peruanas nas Operações de Paz convocadas pelas Nações Unidas e assim cumprir com os compromissos assumidos pelo Estado no contexto internacional relativos à paz mundial e ao respeito pelos direitos humanos. Além disso, outro objetivo é implementar os mecanismos para fomentar e incrementar a participação do pessoal militar feminino em missões de paz, como oficiais do estado-maior e observadores militares aí destacados. Outro aspecto importante é fomentar a imagem do país a nível internacional, permitindo difundir ao pessoal militar e civil de outros países destacados em missões de paz nossa cultura, nossa gastronomia, nosso folclore, entre outras coisas.
Diálogo: Quantos militares peruanos participam de missões de paz?
Gen Bda Fitzcarrald: Em novembro de 2004 o primeiro contingente peruano composto por 205 efetivos das três instituições armadas viajou para a República do Haiti, inicialmente posicionado na cidade de Jacmel, Haiti. Durante a participação da Companhia Peru, foram enviados mais de 20 contingentes com um total de 6.125 militares homens e 114 militares mulheres destacados no Haiti. Além disso, contamos com uma companhia de engenharia posicionada na MINUSCA com 205 efetivos; contamos também com oficiais nos postos de observadores militares e membros de Estado-Maior nas missões na República Democrática do Congo, República Centro-Africana, no Sudão do Sul, em Darfur e Abyei. Adicionalmente, estamos concluindo o processo de implementação de uma companhia de infantaria de 250 efetivos para sua atuação nas operações de paz, que já se encontra registrada como parte dos compromissos que os Estados assumem perante as Nações Unidas.
Diálogo: Qual tem sido a contribuição do Peru para as missões de Paz?
Gen Bda Fitzcarrald: A contribuição do Peru para as missões de paz tem sido por meio de pessoal e material para não só garantir a proteção da população, mas também apoiar o processo de transição, facilitar a ajuda humanitária, a promoção e proteção dos direitos humanos, apoiar a desmobilização e reintegração. Nossas Forças Armadas têm cumprido de maneira destacada sua participação nas diferentes missões das quais participamos.
Diálogo: Recentemente foi utilizado um contingente da Companhia de Engenharia Peru na MINUSCA. O senhor poderia falar sobre isso?
Gen Bda Fitzcarrald: Depois de sua chegada em 7 de janeiro de 2016, os 205 membros das Forças Armadas que integram a Companhia de Engenharia Peru iniciaram a implantação e instalação de todo o material e equipamentos como parte da MINUSCA. A Companhia de Engenharia Peru está composta por 145 membros do Exército, 41 da Marinha e 19 da Força Aérea, que desempenharão tarefas de construção e manutenção de aeródromos, estradas e pontos no referido país, como parte do trabalho designado pelo órgão internacional, sendo substituídos anualmente por um período de 10 anos, como parte dos acordos com as Nações Unidas. É preciso lembrar que em 6 de janeiro de 2016 a Companhia de Engenharia Peru foi deslocada para Bangui, capital da República Centro-Africana, onde realizou o processo de indução e administração; posteriormente, foi deslocada para a cidade de Bouar onde se concentrou no trabalho designado pelas Nações Unidas. A participação de nosso país na MINUSCA é feita sob o marco do Memorando de Entendimento entre o Estado peruano e as Nações Unidas, mediante o qual o país manifestou seu compromisso para contribuir nas operações de paz do referido órgão internacional.
Diálogo: O senhor pode detalhar as tarefas que o contingente peruano desenvolve em apoio à República Centro-Africana?
Gen Bda Fitzcarrald: A companhia de engenharia realiza as tarefas de manutenção e construção de pistas de pouso não pavimentadas, bem como o reparo de heliportos, além de outros trabalhos de construção horizontal, manutenção de estradas e pontes encomendados pelas Nações Unidas, a fim de contribuir para a paz e o desenvolvimento da República Centro-Africana. Entre as ações complementares que os militares peruanos realizam na África estão as de limpeza de terreno, inclusive a compactação e nivelamento [de terra] para a construção de um aeródromo; a reabilitação, construção e manutenção de pistas não asfaltadas; e o reparo, a construção e manutenção de heliportos e o transporte de materiais de construção.
Diálogo: Qual foi o avanço dos aeródromos na República Centro-Africana por parte do contingente empregado em 2016?
Gen Bda Fitzcarrald: Inicialmente, a Companhia de Engenharia Peru empregada na República Centro-Africana recebeu a missão de construir e dar manutenção a 35 campos de aviação. Contudo, no decorrer de sua utilização, foram-lhe atribuídas outras tarefas. Neste ano temos a responsabilidade de construir dois aeródromos e a de construir e dar manutenção a 490 quilômetros de estradas em diferentes áreas dos setores de responsabilidade da missão. Este trabalho, do ponto de vista de engenharia, envolve o emprego de um grande volume de recursos humanos e materiais em um âmbito geográfico agreste, com temperaturas elevadas, presença de grupos armados, entre outros.
Diálogo: Quais têm sido os principais desafios enfrentados pelo contingente peruano na construção dos aeródromos e estradas e como ele os enfrentou? O senhor pode nos dar alguns exemplos?
Gen Bda Fitzcarrald: Os principais desafios que a Companhia de Engenharia Peru enfrenta incluem a situação de instabilidade do ponto de vista da insegurança existente na área da missão, devido à presença de grupos armados hostis e de uma geografia acidentada, bem como as diversas doenças endêmicas presentes, particularmente a malária, as mesmas que vêm afetando nosso pessoal, que, entretanto, com uma profilaxia adequada e medidas de tratamento preventivo, têm sido minimizadas até agora.
Diálogo: Quais são os resultados da avaliação da MINUSCA e das missões por parte do Conselho de Segurança?
Gen Bda Fitzcarrald: Durante os dois anos de presença na República Centro-Africana, o contingente peruano vem cumprindo de forma eficaz e eficiente as tarefas designadas pela missão, motivo pelo qual e em coordenação com o Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO, por sua sigla em inglês) se prevê a utilização de mais pessoal militar na referida missão, a fim de incrementar o bom trabalho realizado por nossa unidade.
Diálogo: Que aporte a experiência das Forças Armadas do Peru no combate ao terrorismo e a cooperação com outras forças parceiras trazem para as missões de paz?
Gen Bda Fitzcarrald: A experiência de combate de nossas Forças Armadas em sua luta permanente contra o terrorismo serviu para nos dar a casuística e a experiência profissional para realizar um bom trabalho nas missões de paz, onde nosso país tenha sido requisitado, estabelecendo um precedente perante as Nações Unidas, motivo pelo qual o DPKO previu para o futuro a utilização de outra força semelhante à que existiu no Haiti até o ano de 2015.
Diálogo: Deseja acrescentar algo para compartilhar com os leitores da Diálogo?
Gen Bda Fitzcarrald: O Comando Conjunto, em coordenação com a Marinha de Guerra do Peru, iniciou o processo de planejamento para viabilizar a participação das seguintes unidades desta instituição armada:
- Uma companhia de fuzileiros navais mecanizada.
- Um navio de reaprovisionamento logístico com um helicóptero embarcado.
- Uma fragata de mísseis com um helicóptero embarcado.
- Esse processo leva tempo, pois é preciso planejar os aspectos logísticos, orçamentários, de equipamentos, organização, adequação às normas da ONU e outros. Por isso a data provável de oficialização da oferta será no ano de 2018.