As Forças Armadas do Peru trabalham com profissionalismo e compromisso para contribuir para a paz e enfrentar as ameaças à segurança nacional. O Almirante de Esquadra da Marinha de Guerra do Peru José Luis Paredes Lora, chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas (CCFFAA, em espanhol), enaltece a dedicação de seus homens, que é um fator fundamental para a realização de operações integradas com a Polícia Nacional, as quais facilitam a luta da nação contra o terrorismo e o narcotráfico.
O Alte Esq Paredes participou da Conferência de Defesa Sul-Americana (SOUTHDEC, em inglês) realizada em Buenos Aires, Argentina, nos dias 28 e 29 de agosto de 2018, para analisar o tema das contribuições militares sul-americanas para a paz mundial. O Alte Esq Paredes conversou com Diálogo sobre o papel das forças armadas na contribuição para a paz regional, as operações de paz que seu país realiza e o trabalho conjunto e interagências para responder às ameaças à segurança.
Diálogo: Qual a importância da participação do Peru na SOUTHDEC?
Almirante de Esquadra José Luis Paredes Lora, chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru: É uma participação muito importante, já que se trata de um fórum onde os chefes das diferentes forças armadas da região e, logicamente, do Canadá e dos Estados Unidos, expõem suas experiências e as lições aprendidas na luta contra as ameaças comuns na região. E com isso podemos chegar a algumas conclusões com base nas lições aprendidas e aproveitá-las para aperfeiçoar nossas doutrinas e nossos procedimentos.
Diálogo: O tema principal da SOUTHDEC é a contribuição da América do Sul para a paz. Como as Forças Armadas do seu país contribuem para alcançar este objetivo regional?
Alte Esq Paredes: Contribuímos para a luta contra as ameaças transnacionais trabalhando intensamente, como fazemos com a Colômbia, por exemplo. Temos uma ameaça comum na fronteira, além de outros crimes que ameaçam igualmente outras de nossas fronteiras, as quais são muito extensas e permeáveis. Atualmente, os comandantes de fronteiras se mantêm em permanente coordenação, tanto na atividade de inteligência quanto no intercâmbio de outras informações de interesse e de colaboração permanente com seus homólogos, realizando também operações combinadas e ações humanitárias.
Diálogo: Qual é a participação do Peru nas missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU)?
Alte Esq Paredes: O Peru tem uma experiência de longa data em operações de paz, das quais participamos desde 1958. Atualmente, temos 205 militares destacados como parte do Batalhão de Engenharia na República Centro-Africana, além de outros 27 membros que atuam como pessoal administrativo e observadores em diferentes missões no Sudão, no Sudão do Sul e na República Democrática do Congo. Nosso governo tem como política participar das operações de paz; além disso, temos um representante para as questões de manutenção da paz na ONU e estamos preparando outro batalhão para ser destacado, possivelmente no final de 2018.
Diálogo: Quais são as lições aprendidas com essa participação?
Alte Esq Paredes: Adquirimos muita experiência ao longo desses anos de participação. Nossa permanência no Haiti em ações de consolidação da paz foi bastante prolongada e nos deixou ótimas lições aprendidas. Acreditamos que é importante complementar o destacamento dos nossos batalhões com dispositivos próprios de segurança, visto que isso aumenta a nossa confiança face às diferentes doutrinas e procedimentos adotados em cada país em particular. Uma das experiências mais importantes é ter o pleno conhecimento da cultura, da religião e dos costumes dos países onde os contingentes devem atuar, pois em muitos casos não são iguais aos nossos e, com esse conhecimento, podemos interagir melhor com a população.
Diálogo: Por que é importante que as forças armadas trabalhem de maneira conjunta e combinada, tanto no âmbito nacional como com seus homólogos das nações parceiras, para enfrentar as ameaças em comum?
Alte Esq Paredes: A doutrina conjunta nas Forças Armadas do nosso país é aplicada permanentemente e tem vital importância, o que permite a sinergia, a unidade de comando e a interoperacionalidade dos componentes durante as operações e as ações militares. No caso das forças que têm atualmente sob controle operacional o Comando Conjunto, que são aquelas que operam nas zonas de emergência, o dispositivo é conjunto. O Comando Especial designado tem três componentes em sua organização: o naval, o aéreo e o terrestre, que operam de maneira conjunta e são totalmente interoperáveis. No futuro, as Forças Armadas terão uma visão conjunta em toda a sua extensão, a partir do plano estratégico aprovado em 2017 e que terá duração até 2030. Não existem mais planos por instituições ou armas; existe um plano único que congrega todos os requisitos para completar as capacidades de que necessitamos para as diversas funções designadas pelo Estado em sua política de segurança e defesa.
Diálogo: Qual é o seu desafio fundamental?
Alte Esq Paredes: Quando eu assumi o cargo [em janeiro de 2017], o objetivo era consolidar a paz e contribuir para o desenvolvimento do meu país. E estamos conseguindo fazer isso. Ao longo desses anos, e isso eu afirmo com certeza, a área da zona de emergência diminuiu. Estamos incrementando nossas ações nas diferentes áreas da zona do VRAEM [Vale dos rios Apurímac, Ene e Mantaro] para consolidá-las e facilitar a intervenção de outros setores do Estado, com o objetivo de prestar os vários serviços, como saúde, educação e outras atividades que beneficiam a população; o remanescente do terrorismo nessa área já não é uma ameaça para o Estado. Pouco a pouco temos que ir consolidando as áreas para que todas as outras agências, ministérios ou setores do Estado possam entrar e realizar seu trabalho.
Diálogo: Assim que o senhor assumiu o comando, exortou os membros das Forças Armadas, especialmente os que estavam no VRAEM, a trabalhar com o único objetivo de tornar o Peru um país livre de ameaças. Que ações específicas foram adotadas para pacificar essa região?
Alte Esq Paredes: No campo militar, praticamente derrotamos o terrorismo. Restam alguns remanescentes ligados ao narcotráfico, atividade altamente lucrativa que faz com que o valor do quilo da folha de coca nessa região supere o valor dos cultivos tradicionais como o cacau, o café e outros que são produzidos em menor escala. No entanto, o VRAEM é uma região muito agreste, onde há uma importante extensão de plantações de folhas de coca. Aproximadamente 70 por cento da produção nacional de folhas de coca se concentra nesses vales. No Peru, a extensão aproximada gira em torno de 40.000 hectares, dos quais apenas 20.300 são da área desses vales. Essa extensão equivale a aproximadamente 50 por cento do terreno de produção em nível nacional, mas é altamente produtiva devido às condições geográficas. Há ali um trabalho que precisamos fazer e que estamos coordenando com as organizações envolvidas no Plano Estratégico para o Desenvolvimento do VRAEM 2018-2019, que busca fechar as lacunas econômicas e sociais da região e que estará pronto para ser aprovado e colocado em prática muito em breve.
Diálogo: As Forças Armadas acabaram de realizar uma operação com a Polícia Nacional no VRAEM em agosto de 2018, quando desferiram um golpe contra o material logístico dos remanescentes do grupo terrorista Sendero Luminoso. Qual é a importância desse trabalho coordenado?
Alte Esq Paredes: Os remanescentes da organização terrorista estão localizados em uma zona de acesso muito difícil devido à geografia agreste, que é a zona dura, localizada nos distritos de Vizcatán del Ene e Canayre, os quais estão separados pelo rio Mantaro, onde as Forças Armadas realizam um trabalho muito coordenado com a Polícia Nacional e com as suas duas direções especializadas: a DIRCOTE [Direção Contra o Terrorismo] e a DIRANDRO [Direção Antidrogas], organizações que têm muita experiência em operações contra esses delitos. A partir de 2017, implementamos um grupo integrado de operações especiais formado por 400 militares qualificados em forças especiais das Forças Armadas e da Polícia Nacional, a cargo do Comando de Inteligência e Operações Especiais (CIOEC) do Comando Conjunto das Forças Armadas, voltados especificamente para alvos de alto valor. Isso nos permitiu integrar a informação de inteligência e realizar operações que trouxeram resultados muito bons, como a intervenção em diversos acampamentos da organização terrorista na zona de Vizcatán, onde foi possível atingir seriamente a sua logística e os seus apetrechos, como armamento, munição e equipamentos de comunicação.
Diálogo: Interoperacionalidade e operações conjuntas são parte das suas estratégias para cumprir a missão do CCFFAA. Qual é a importância do trabalho conjunto e interagências entre as Forças Armadas para responder às ameaças à segurança?
Alte Esq Paredes: Sabemos muito bem que as operações conjuntas têm vital importância, o que nos permite a interoperacionalidade, que é uma capacidade importantíssima para conduzirmos as operações. Qualquer aquisição de qualquer instituição das Forças Armadas que se encontre dentro do plano estratégico terá que passar previamente pelo CCFFAA, para que os órgãos técnicos a validem e para que tenha total interoperacionalidade com os sistemas que temos atualmente. Nós trabalhamos a questão interagências e obtivemos ótimas experiências a esse respeito. O fenômeno do Niño Costeiro de 2017 foi um trabalho interagências, onde o Comando Conjunto conduziu as operações durante a emergência, como primeira resposta, mas foi um trabalho importante de todos os setores do Estado. Atualmente estamos realizando o mesmo trabalho interagências nas regiões afetadas pelas geleiras e pelo frio extremo nas zonas altas dos Andes e da Amazônia, e também na zona do VRAEM, com os diversos ministérios e organismos do Estado.
Diálogo: Qual é a sua mensagem para os comandantes sobre o tema da contribuição para a paz global e regional?
Alte Esq Paredes: O SOUTHDEC, além de nos nutrir com todas as lições aprendidas, nos possibilitou ter uma aproximação com os comandantes das forças armadas da região, para podermos realizar um trabalho coordenado e consolidar as ações de apoio mútuo para enfrentar as ameaças comuns que afetam as nossas fronteiras, além de colaborar com os sistemas de gestão de risco de desastres. As ameaças são as mesmas, mas elas têm as suas particularidades em cada país, e não podemos combatê-las sozinhos. Precisamos estar integrados, buscar a sinergia entre os países da região e atuar sob a premissa da predisposição ao apoio mútuo para combatermos juntos as ameaças e os riscos que enfrentamos.