O Panamá encerrou 2022 com uma importante conquista em sua luta contra o narcotráfico, apreendendo um total de 128,6 toneladas de drogas em diferentes operações durante o ano, disse o presidente do Panamá, Laurentino Cortizo, à Assembleia Nacional, em janeiro.
“O Panamá, devido à sua localização geográfica, está facilmente conectado com todos os portos da Europa, Ásia e Oceania”, disse à Diálogo Patricio Candanedo, ex-fiscal antidrogas do Panamá, em 12 de janeiro. Ele indicou que as substâncias ilegais que chegam ao seu país são transferidas através do Tampão de Darién, na fronteira com a Colômbia, uma área onde há o problema de cultivos ilegais de folha de coca e o trânsito de colunas dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
“Nessas intervenções contra o flagelo, as forças da lei e da ordem capturaram 623 traficantes de drogas, sendo 415 panamenhos e 204 estrangeiros”, informou à imprensa Juan Manuel Pino, ministro da Segurança Pública do Panamá.
Segundo o Ministério de Segurança Pública, as drogas apreendidas foram o resultado do trabalho conjunto dos órgãos de segurança envolvidos em mais de 400 operações antinarcóticos realizadas em todo o país. O país centro-americano é considerado a ponte para o transporte de drogas da América do Sul para os Estados Unidos e a Europa.
Candanedo afirmou que quase todas as drogas que entram no Panamá são destinadas a outros países, porque a porcentagem do consumo local é muito pequena. “Panamá não é produtor de drogas; o cultivo existe de forma incipiente”, acrescentou o ex-fiscal.
Nas últimas semanas de 2022, o procurador-geral do Panamá, Javier Caraballo, relatou que criminosos panamenhos haviam ajudado os traficantes de drogas com sede em Dubai para enviar drogas para a Europa. Foram presas 49 pessoas em Dubai, Espanha, França, Bélgica e Holanda por colaborar com o chamado super cartel, uma organização de traficantes de drogas irlandeses, italianos, bósnios e neerlandeses-marroquinos, informou InSight Crime, uma organização dedicada ao estudo do crime organizado na América Latina e no Caribe.
Entre os presos está o panamenho Anthony Alfredo Martinez Meza, conhecido como Hassan, que desde 2017 atuava como coordenador do super cartel. Junto com o irlandês Daniel Kinahan, ele estava encarregado do envio de drogas para a Espanha a partir do porto de Manzanillo, no Panamá.
Segundo Candanedo, como foram encontradas conexões com cidadãos panamenhos nessa organização criminosa, as investigações devem continuar em território panamenho, embora a operação conhecida como Luz no Deserto tenha sido coordenada pela Europol.
“Os grupos criminosos transnacionais que se encontram no Panamá geralmente operam como células, interligadas, mas com autonomia para prestar serviços a diferentes grupos, não apenas quanto a drogas, mas também quanto a tráfico de armas, tráfico de pessoas, mercadorias adulteradas e lavagem de dinheiro”, disse Candanedo. “O cenário destas organizações está nos portos terrestres e aéreos e a principal articulação do trabalho antidrogas é com as autoridades norte-americanas.”
Em dezembro de 2022, o Ministro Pino afirmou que enquanto as instalações portuárias do país permanecerem vulneráveis ao tráfico de drogas, estes números continuarão a aumentar.
Um artigo do portal Panamá América relatou que, entre 2021 e 2022, as autoridades de segurança do país apreenderam nos portos 74.884 pacotes de substâncias ilícitas procedentes da Bélgica, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala e Peru.
Tanto a cocaína quanto a maconha apreendida tinham como destino cidades da Argentina, Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Holanda, Índia, Inglaterra, Líbia, Reino Unido e Turquia.
O Panamá está promovendo a criação de uma lei para extinguir o domínio de bens ilícitos, que procura afetar as organizações criminosas, sob a premissa de que os bens adquiridos com o produto de atividades ilícitas não devem ter proteção legal, publicou o jornal panamenho El Siglo.
“Estas novas ferramentas resolvem questões relacionadas a casos em que as propriedades tenham sido adquiridas ilegitimamente e derivadas da prática de crimes e delitos”, disse ao jornal La Estrella de Panamá Andrés Ormaza, especialista colombiano e diretor do Programa contra o Crime Organizado Transnacional da ONG Pan American Development Foundation, com sede em Washington.
Panamá contra o Clã do Golfo
Segundo a estação de televisão panamenha TVN, mais de 20 pessoas foram presas em 30 batidas durante a Operação Focus, em 14 de dezembro de 2022, que foi realizada pelo Ministério Público em coordenação com a Polícia Nacional e o Serviço Nacional Aeronaval.
De acordo com investigações em andamento pelo Ministério Público, este grupo fornecia apoio logístico ao colombiano Clã do Golfo na mobilização de seus carregamentos de drogas, e utilizava as costas de Colón, Punta Burica e Bocas del Toro para armazenar e guardar as drogas, para seu posterior envio para a Costa Rica.