A mídia digital independente e as organizações da sociedade civil uniram forças na Venezuela para enfrentar a desinformação através da recém-criada Coalición Informativa C-Informa.
“Os cidadãos na Venezuela cada dia são mais vítimas da desinformação, seja devido à censura do regime à mídia tradicional ou digital, ao desaparecimento forçado de dezenas de jornais e estações de rádio, ou simplesmente porque os diferentes fatores de poder assim o desejam, expressou C-Informa em um comunicado, em 14 de novembro de 2022. “E este é o principal motivo da Coalición Informativa: dar a conhecer como certos atores no país são produtores, distribuidores e atores de notícias falsas, mal-intencionadas ou confusas, com o fim de promover seus diferentes interesses”, acrescentou C-Informa.
A equipe é formada pelas organizações não governamentais (ONGs) venezuelanas Medianálisis, Efecto Cocuyo, El Estímulo, Cazadores de Fake News e Probox, com o suporte do Consórcio para Apoiar o Jornalismo Independente na Região e a assessoria da ONG Chequeado, da Argentina, e DataCrítica, do México.
Desinformação e autocensura
“A Venezuela tem um ecossistema informativo restrito, com meios de comunicação fechados e outros bloqueados na esfera digital”, disse à Diálogo León Hernández, porta-voz da ONG Medianálisis. Segundo Hernández, além de retirar as licenças da mídia de rádio e televisão, o regime, ao processar e assediar jornalistas, incentiva a autocensura.
“Em meio a esta dinâmica, entram em jogo os embustes e unidades de conteúdo falso que circulam em redes, às vezes orquestrados a partir de laboratórios de desinformação”, acrescentou Hernández.
Por esta razão, o porta-voz da Medianálisis assegura que os venezuelanos estão passando por um panorama de desinformação que é “bastante complexo”, com “políticas de opacidade de informação, interrupções no serviço de internet em várias regiões e incerteza diante de várias situações, incluindo a COVID-19”.
“Poderíamos dizer que a Venezuela vive em ‘fakecracia’, pois há mentiras no discurso público das autoridades, que se somam ao pouco acesso à informação pública em assuntos fundamentais para o cidadão, como os gastos públicos e a situação epidemiológica”, disse Hernández.
A participação da Rússia
Os especialistas em desinformação sobre a Venezuela também mencionam a participação da Rússia neste contexto. Em seu relatório Rússia e Venezuela, aliadas para desinformar, divulgado em outubro de 2022, a ONG Transparência Venezuela adverte que o aparato de comunicação do regime venezuelano tem estado a serviço da propaganda russa. “Na Venezuela, os meios de comunicação do sistema público se tornaram replicadores habituais dos conteúdos produzidos pelas plataformas russas”, indica o relatório.
Segundo Transparencia Venezuela, as peças informativas da rede de televisão russa RT en Español são regularmente utilizadas em programas noticiosos locais, particularmente os da estatal Venezolana de Televisión. As narrativas e imagens da RT também são utilizadas como fonte preferencial para retratar eventos noticiosos internacionais em edições de notícias da Venezuela, diz o relatório.
Hernández também ressalta a influência russa na Venezuela. “A situação da Rússia, que se expande ideologicamente para seus aliados e espalha desinformação para seus oponentes, não exclui o círculo latino-americano”, afirmou. “Houve nas redes sociais do país unidades de conteúdo falsificado sobre a situação do confronto Ucrânia-Rússia”. Além disso, acrescentou o porta-voz, todo o fluxo de informações apoia a perspectiva russa a partir dos meios de comunicação estatais que estão voltados para favorecer a política do regime.
Investigação
A C-Informa começou a publicar seus trabalhos investigativos em 15 de novembro. Os trabalhos incluem jornalismo investigativo e divulgação de informações em diferentes formatos digitais, para facilitar o acesso dos cidadãos, destacou a Coalición Informativa. “As organizações e meios de comunicação agrupados na C-Informa definiram que desvendarão como funcionam as diferentes máquinas de desinformação na Venezuela”, disse em seu comunicado. “Eles também analisarão tendências, momentos e feitos noticiosos que estejam rodeados de desinformação e que, por esta razão, podem acabar afetando os habitantes do país em suas tomadas de decisão, óticas da situação do país ou formas de dar sua opinião”, concluiu.