A Capitão de Fragata da Marinha do Brasil (MB) Carla Monteiro de Castro Araújo recebeu o Prêmio de Defensoras Militares da Igualdade de Gênero da Organização das Nações Unidas (ONU), pelo seu trabalho realizado como conselheira de proteção e gênero na sede da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA). A oficial dividiu o prêmio com a Major do Exército Indiano Suman Gawani, que atuou como observadora militar na Missão da ONU no Sudão do Sul.
A atuação das militares nas ações contra a violação sexual das mulheres e proteção dos direitos civis foi destacada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a cerimônia virtual de premiação, no dia 29 de maio. “O trabalho dessas mulheres é inspirador e tem feito muita diferença”, disse. “A contribuição delas confirmou e reforçou a importância das mulheres nas missões.”
A CF Carla conversou com Diálogo diretamente da República Centro Africana (RCA), onde ficará em missão até julho de 2020. “Meu desempenho na MINUSCA é resultado da minha trajetória dentro da Marinha do Brasil”, enfatizou a oficial. “Sempre trabalhei com gerenciamento e análise de riscos, então, ao chegar na missão, fui verificar o que estava sendo feito e o que necessitava ser melhorado.” Dentista de formação, a CF Carla atuou por 17 anos no Corpo de Fuzileiros Navais da MB, quando desenvolveu sua paixão por missões humanitárias.
Ampliação da presença no terreno
Desde que iniciou o trabalho na MINUSCA, em abril de 2019, a equipe liderada pela CF Carla conseguiu ampliar de 36 para 91 as pessoas-chave espalhadas em 46 pontos estratégicos da RCA, ao invés dos 10 locais iniciais. “Se os nossos militares não estivessem tão motivados e atuantes, não teríamos conquistado tanta mudança no terreno”, afirmou.
O grande objetivo, segundo a oficial, foi capacitar as pessoas-chave para que funcionassem como multiplicadores desse adestramento. “Mais de 3.000 militares receberam o treinamento, de um total aproximadamente de 11.000 que compõem a MINUSCA”, explicou a CF Carla. “Fizemos turmas de francês e de inglês para diminuir a barreira da língua e procuramos treinar militares de todas as nacionalidades dos países fornecedores de tropas, para que fosse mais fácil a comunicação entre seus pares.”
De acordo com a CF Carla, as ações na RCA são divididas em duas frentes: trabalhar com melhores condições, estimulando o aumento do número de mulheres nas missões, e implementar patrulhas mistas nas rondas, com a presença de pelo menos duas mulheres. “Atualmente, temos 5 por cento de mulheres nas tropas da MINUSCA; já observadoras militares são 26 por cento do sexo feminino.”
“Nós mulheres temos uma capacidade natural para nos conectar, entender, confortar, dar suporte e atuar como agentes de mudança para a população local”, enfatizou a CF Carla. “Quando nós estamos no terreno trabalhando lado a lado com o nosso time masculino, somos peça-chave para alcançar uma paz duradoura numa região de conflito.”
A CF Carla destacou a alegria de ter sido premiada no ano em que se comemora os 75 anos de atuação da ONU, os 20 anos da Resolução 1325 do Conselho de Segurança sobre Mulheres, Paz e Segurança e os 40 anos da presença das mulheres na MB. “Dá uma visibilidade importante quando duas brasileiras ganham o mesmo prêmio, em anos consecutivos. Isso pode estimular outras mulheres militares a participarem das missões humanitárias”, finalizou.