O regime de Ortega-Murillo na Nicarágua exibiu prisioneiros de consciência em “audiências informativas”, no Complexo Judicial de Manágua, entre 30 de agosto e 1º de setembro. Esses procedimentos foram difundidos pela mídia oficial, rotulando os prisioneiros como “terroristas, golpistas e traidores da pátria”, e ressaltando que a maioria deles apoiou de uma forma ou de outra os protestos sociais multitudinários de 2018. Com esses eventos, os parentes dos prisioneiros confirmaram o estado físico deteriorado em que se encontram seus entes queridos.
“Através dos familiares […] tivemos informações sobre as diferentes torturas a que estão sujeitos: privação de luz solar, privação de alimentos, privação de comunicação com seus familiares; a maioria dos que têm crianças não tem permissão para qualquer tipo de comunicação”, disse à Diálogo Juan Carlos Arce, advogado de defesa do Coletivo de Direitos Humanos Nicarágua Nunca Más, em 18 de setembro. “Nas prisões de Ortega é praticada a tortura, nas prisões de Ortega as pessoas são submetidas a condições desumanas, nas prisões de Ortega morrem as pessoas.”
A Polícia Nacional da Nicarágua expôs em 31 de agosto Ana Margarita Vijil, Suyén Barahona e Dora María Téllez, líderes da União Democrática Nicaragüense; Álvaro Vargas, vice-presidente do Conselho Superior da Empresa Privada (COSEP); Luis Rivas Anduray, ex-presidente do Banco de la Producción de Nicarágua; Félix Maradiaga, ex-pré-candidato à presidência; a ativista Tamara Dávila; o membro da oposição, Irving Larios; o advogado Róger Reyes; e Juan Lorenzo Holmann, gerente geral do jornal La Prensa.
“Não o reconheci, ele parece completamente deteriorado; nunca imaginei que meu pai fosse ficar tão magro, fraco e convalescente”, explicou Renata Holmann pelo YouTube ao site Confidencial de Nicaragua. “Meses antes, ele havia sido submetido a uma cirurgia no coração […]; eles repararam sua válvula mitral e este problema não teve acompanhamento. Além disso, eles descobriram um problema grave em sua aorta, que o médico disse que teria que ser constantemente monitorado.”
Em 30 de agosto, o regime nicaraguense exibiu os pré-candidatos presidenciais Miguel Mora Barberena, Juan Sebastián Chamorro e Medardo Mairena; os antigos trabalhadores da Fundação Violeta Barrios de Chamorro: Walter Gómez Marcos Fletes e Pedro Vásquez; o presidente do COSEP, Michael Healy; e o especialista em temas eleitorais, José Antonio Peraza.
“[Os prisioneiros] mostram sintomas de uma forma de tortura conhecida no campo forense como tortura branca. Esta forma de tortura visa a supressão sensorial”, explicou à Diálogo Yader Morazán, advogado especializado na Administração da Justiça da Nicarágua. “O que se observa e descreve como olhares perdidos, com as pupilas dilatadas, é uma conseqüência da súbita saída de uma célula que é da mesma cor […]; é por isso que eles se esforçam para ver seu entorno.”
“As audiências informativas são uma invenção do regime, não existem na legislação penal nem na legislação processual”, acrescentou Arce. “O que existe é uma exibição feita pelo regime dos presos políticos, destinada a gerar e incutir mais medo no âmbito de uma política de terrorismo de Estado.”
O Mecanismo para o Reconhecimento de Prisioneiros Políticos, um esforço coletivo de defensores de direitos humanos, para ter uma lista atualizada e verificada de prisioneiros de consciência desde abril de 2018, registrou 195 prisioneiros políticos até 31 de agosto de 2022. Esta organização reconhece a existência de uma subnotificação do número total, “devido à falta de acesso à informação pública e como consequência do ambiente de repressão e ameaça, bem como do Estado policial que existe na Nicarágua”.
“Esta não é uma perseguição circunstancial, tendo em vista a farsa eleitoral que se aproxima. O regime sabe perfeitamente que não há nada que impeça seu objetivo de assumir todos os governos municipais. Estamos diante de uma evidente decisão de aniquilá-los política e fisicamente”, destacou a ONG Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. “Apelamos a todas as organizações da sociedade civil nicaraguense, de direitos humanos e aquelas que monitoram a crise a partir do exterior, para que avaliem e priorizem essa situação em sua agenda de acompanhamento […] e promovam ações de acordo com a gravidade e urgência que o caso merece.”