Os tentáculos do narcotráfico na região atingiram todas as esferas da sociedade e, em alguns casos, dominaram governos inteiros que agora patrocinam a atividade e buscam desestabilizar toda a região, segundo a opinião geral de um grupo de analistas consultados pela Voz da América.
Martín Rodíl, especialista em crime organizado e controle do narcotráfico, disse que a Venezuela, nos mandatos do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), deixou de ser um país com presença de grupos dedicados ao narcotráfico para tornar-se um “narcoestado”.
“O que há de novo agora é o papel que a Venezuela representa como Estado: não como um país que tem organizações criminosas, mas como um Estado patrocinando essas organizações”, disse Rodíl no programa Fórum Interamericano da VOA.
Os analistas concordaram que os governos da Venezuela e de Cuba patrocinam o tráfico de cocaína para financiar atividades desestabilizadoras nos países da região para, segundo eles, minar as instituições democráticas do continente.
Hugo Chávez, o fantasma
Para o escritor e jornalista investigativo, especialista em crimes transnacionais e segurança do hemisfério, Leonardo Coutinho, a Venezuela é mais do que um narcoestado.
“Na Venezuela, as destruições partem dos narcotraficantes. O Estado venezuelano pratica o narcotráfico”, explicou Coutinho.
Coutinho insiste em afirmar que Chávez foi o principal arquiteto das novas rotas do narcotráfico e o regime de Nicolás Maduro continua a operá-las.
“Chávez criou uma rota muito forte de cocaína em direção ao Triângulo Norte, à América Central e ao México. Fez isso junto com Cuba, como uma maneira de criar instabilidade na região para afetar os Estados Unidos”, disse o especialista.
Coutinho foi enfático ao advertir que o narcotráfico causa instabilidade, caos e mina as bases institucionais das democracias. “O narcotráfico é uma arma de guerra. Foi assim que Fidel [Castro] conquistou Hugo Chávez.”
Nova mistura: Estado, narcotráfico, invasões
Para o comissário aposentado do Corpo de Investigações Científicas Penais e Criminalísticas da Venezuela, Víctor Amram, o ex-presidente Hugo Chávez foi o criador do que se conhece hoje como o “narcoestado moderno”.
“O que Chávez fez foi aproveitar toda a corrupção da Venezuela, toda a deterioração que já existia, refinando-as e aperfeiçoando-as. Hoje, Chávez é considerado o instigador dessa mistura de todos os canais: drogas, narcotráfico, corrupção, invasão política e invasão militar”, ressaltou Amram.
Luta de todos
Os especialistas concordam que a luta contra as drogas, liderada pelos Estados Unidos, é uma responsabilidade de todo o continente.
O imperativo moral, afirmam, é o combate unificado onde todos os países devem lutar lado a lado contra o inimigo comum: o narcotráfico.
“É preciso parar de dizer que os Estados Unidos estão perdendo a guerra contra o narcotráfico”, disse Rodíl. “Todos nós a estamos perdendo.”
Rodíl acrescentou que a questão do narcotráfico não pode ser uma questão apenas dos Estados Unidos.
“A Venezuela perdeu essa luta no dia em que permitiu que alguém como Hugo Chávez chegasse à presidência e transformasse o Estado venezuelano em um patrocinador das atividades criminosas, entre elas o narcotráfico”, concluiu.