Desde agosto de 2018, uma mulher com visão integradora está à frente do Vice-Ministério da Defesa Nacional do Paraguai. Trata-se da Coronel (R) Gladys Pecci, que tem o compromisso de garantir os programas de empoderamento das mulheres nas Forças Armadas do Paraguai. A Cel (R) Pecci recebeu Diálogo em seu gabinete ministerial, para conversar sobre a questão de gênero e direitos humanos na carreira militar.
Diálogo: A senhora é a primeira mulher no seu país a obter essa alta nomeação. O que representa esse cargo para as mulheres das Forças Armadas do Paraguai?
Coronel (R) Gladys Pecci, vice-ministra da Defesa Nacional do Paraguai: É um privilégio, pois o espaço militar está associado em sua maioria à representação exclusiva masculina. Minha nomeação para esse espaço oferece um olhar fresco e inovador sobre o âmbito da defesa, ao mesmo tempo em que cria uma mudança e permite que se abra um caminho profissional para que as mulheres compartilhemos cargos de liderança, que são fundamentais para que exista um equilíbrio de ideias que visem o fortalecimento da defesa nacional.
Diálogo: Na sua opinião, qual é seu maior desafio?
Cel (R) Pecci: Desde o início de minha gestão, eu tive muitos desafios; um deles foi a elaboração do Plano Estratégico Institucional 2019-2023, obtido através de um processo participativo de todas as direções que compõem o Ministério da Defesa Nacional, o qual contém as diretrizes de caráter estratégico que servem de guia e orientação para alcançar os objetivos institucionais.
Diálogo: Como tem evoluído o papel da mulher nas Forças Armadas do Paraguai?
Cel (R) Pecci: Tivemos uma evolução positiva desde 2003, quando as Forças Armadas do Paraguai deram o primeiro passo para incorporar as mulheres em seu plano profissional, as quais optaram pela carreira das armas e hoje em dia alcançam a patente de capitão. Temos muitos casos de inclusão, como o da primeira mulher piloto na Força Aérea, a 1º Tenente Piloto Aviadora Militar Yennifer Pedrozo; a comandante de um navio patrulheiro da Marinha, a Capitão-Tenente Ana Ortiz; e a primeira mulher mergulhadora tática da Marinha, a 1º Tenente Jacinta González. Esse processo de incorporação da mulher nas Forças Armadas trouxe um resultado exitoso com uma projeção interessante, que permitirá, portanto, o aumento do número de mulheres na Força e sua profissionalização militar.
Diálogo: Como o seu gabinete coopera com o programa Mulher, Paz e Segurança do Comando Sul (SOUTHCOM) dos Estados Unidos?
Cel (R) Pecci: O Paraguai reconhece a importância da recomendação contida na Resolução 1325, Mulher, Paz e Segurança, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que ressalta a liderança das mulheres para a obtenção da paz e da segurança internacional, e por isso atualmente contamos com a assessoria e o apoio do SOUTHCOM para avançar nesse tema e nas disposições da resolução. Apenas 5,6 por cento do total dos integrantes das Forças Armadas são mulheres e queremos aumentar essa cifra. O Ministério da Defesa e as Forças Armadas estão sendo muito receptivos para romper paradigmas estruturais estabelecidos, permitindo que as mulheres cumpram determinadas funções, porque consideramos que a democracia se engrandece quando existe a inclusão das mulheres no âmbito da defesa. Da mesma forma, eu me reuni com os comandantes do Exército, da Marinha, da Força Aérea e com o diretor de Operações de Manutenção da Paz, para estabelecer linhas de ação claras, que permitam aumentar a participação feminina nas missões de paz, com um plano específico de capacitação, visto que atualmente temos apenas três mulheres nas missões de paz das Nações Unidas.
Diálogo: Quais são as novidades na questão dos direitos humanos nas Forças Armadas?
Cel (R) Pecci: A Direção de Direitos Humanos depende do Vice-Ministério da Defesa Nacional e, entre as funções dessa direção, está a de difundir o tema dos direitos humanos e do direito internacional humanitário das Forças Armadas. Foi elaborado um programa de capacitação com uma carga horária fixa sobre o tema, de acordo com o plano de desenvolvimento do programa de cursos, e essa é mais uma matéria dentro de cada curso de especialização para nossos oficiais. Nós também lançamos um manual de direitos humanos e direito internacional humanitário que servirá como um material de apoio para desenvolver os programas de capacitação. Esse manual está sendo elaborado com o apoio do SOUTHCOM.