A principal missão do chefe de estudos do Colégio Interamericano de Defesa (CID) é contribuir para a formação de profissionais para que, uma vez terminados seus estudos, possam ser designados para funções de assessoria de alto nível em seus países de origem. Esta posição está a cargo do General-de-Brigada do México, Arturo Javier González Jiménez. O diplomado do Estado-Maior de seu país representa a Secretaria da Defesa Nacional do seu país no CID. O General González recebeu Diálogo em seu escritório, em Washington D.C., para falar sobre os corpos docente e discente (alunos da Turma 56) sob sua direção.
Diálogo: Qual é seu principal desafio como chefe de estudos do CID?
General-de-Brigada Arturo Javier González Jiménez: Meu principal desafio é precisamente contribuir para os objetivos do Colégio Interamericano de Defesa, para as diretrizes da direção, que são basicamente cumprir com a nossa missão, que é formar assessores militares e civis de alto nível, tanto nas forças armadas como nas polícias nacionais e, obviamente, em qualquer ministério do governo dos países que integram a Organização dos Estados Americanos.
Diálogo: Que antecedentes são exigidos da pessoa que queira assumir a função de chefe de estudos?
Gen Brig González: Basicamente, o que pude perceber, agora que fui nomeado por meu país para ocupar este cargo é, sem dúvida, a parte fundamental, que é a hierarquia. Normalmente, [o cargo] tem sido ocupado por generais, como podemos observar nos quadros de chefes de estudos que passaram por esta instituição. Isso eu colocaria como primeiro requisito fundamental, já que se exige uma certa autoridade, certa disciplina, uma vez que a maioria de nossos estudantes são coronéis e tenentes-coronéis. Então, exige-se um pouco de autoridade nesse sentido. Mas, sobretudo, também são os aspectos educativos, a experiência na parte educacional, no processo educativo, ou seja, ter algum histórico de ter estudos na área de educação, de estar preparado. E, principalmente, os estudos de mestrado e doutorado, para poder estar no patamar exigido pelo rigor acadêmico aqui no Colégio Interamericano de Defesa.
Diálogo: É obrigatório ter estudado nesta instituição também?
Gen Brig González: Não é um requisito. No entanto, no meu caso, para ser selecionado no meu país, foi fundamental ser um graduado da instituição. Anteriormente, também estive aqui como adido militar, representante adjunto da Junta Interamericana de Defesa. E, com relação aos meus estudos, tenho o domínio de quatro idiomas que são usados aqui no Colégio Interamericano de Defesa, que são o inglês, o francês, o português e o espanhol.
Diálogo: Há quantos estudantes e de que países provêm?
Gen Brig González: São 64 estudantes de 17 países. Em ordem alfabética são Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Uruguai e, obviamente, os Estados Unidos.
Diálogo: São sempre 64?
Gen Brig González: Hoje em dia, o Colégio Interamericano basicamente pode receber um corpo discente de até 70 estudantes. Ou seja, aproximadamente dois estudantes por país membro da Organização dos Estados Americanos. Por que temos, por exemplo, sete estudantes do Brasil? Nove estudantes da Colômbia? Seis do México? Por que temos sete do Peru e oito dos Estados Unidos? Para cobrir, precisamente, os espaços dos países que não enviaram estudantes aqui para o CID.
Diálogo: Quais são os requisitos para ser um aluno do CID?
Gen Brig González: Basicamente, o primeiro deles, para o oferecimento de mestrado, é que tenham o grau de licenciatura em seu histórico acadêmico. Chegam em julho, se formam em junho. E, ao terminarem, automaticamente se vão com seus estudos terminados, previamente a uma prova final onde têm de ser aprovados e, basicamente, vão ao seu país com seu certificado de mestre.
Diálogo: E os civis?
Gen Brig González: Eles vêm representando os ministérios das Relações Exteriores de seus países, as secretarias ou ministérios relacionados com assuntos migratórios, fronteiriços, das polícias federais, das polícias nacionais e, no caso dos Estados Unidos, do Departamento de Estado. Então, para o militar, sim, é um requisito ser graduado de uma escola de Estado-Maior. E para os civis, estudos relacionados à sua própria trajetória de carreira, mas em anos de serviço equiparáveis aos anos de serviço de um militar, aos de um tenente-coronel ou coronel. Deve ter determinados anos de serviço dentro de seu ministério ou secretaria de Estado para ter experiência comparável à de um coronel ou tenente-coronel nas forças armadas.
Diálogo: Em que idioma as aulas são ministradas?
Gen Brig González: As aulas são dadas em quatro idiomas, de maneira simultânea. Ou seja, o professor Roberto Pereira, da Argentina, dá suas aulas em seu idioma materno, que é o espanhol, e temos a área de intérpretes que o interpretam em outros três idiomas, com fones de ouvido, de forma simultânea. Se trouxermos algum conferencista convidado do Brasil, o conferencista convidado ministrará sua conferência em português e os alunos a escutarão no idioma de sua preferência, utilizando o serviço de intérpretes que temos aqui no Colégio.
Diálogo: Como consegue lidar com tantas culturas distintas?
Gen Brig González: É um processo de adaptação. É assim que eu o chamo. Inclusive, uma de minhas conferências, quando tinha acabado de chegar para assumir o cargo de chefe de estudos, foi precisamente preparar uma apresentação especial para todos os inscritos no curso da turma anterior, a ’55, onde minha meta foi justamente passar por este processo de adaptação, inclusive eu. A adaptação vem de nós mesmos como estudantes, como dirigentes e equipe aqui no Colégio, tanto a adaptação que se dá também no processo familiar, onde a família também precisa de um processo de adaptação bastante forte. Todos nós que vimos a este país, em nossa primeira oportunidade de visita, passamos por este processo. Independentemente de nós mesmos, a família, creio eu, é a que mais sofre, sobretudo quando não se tem uma compreensão do idioma e da cultura, das leis do país. Então, nesse sentido, creio que todos temos que passar por este processo de adaptação para podermos nos adequar ao sistema americano, às leis, aos processos, que são diferentes em cada um de nossos países que integram a Organização dos Estados Americanos.
Diálogo: O senhor já falou um pouco dos alunos. Pode falar um pouco também dos professores? Ou seja, que antecedentes deve trazer consigo um aspirante a professor no CID?
Gen Brig González: Basicamente, que sejam doutores para poderem ensinar no grau de mestrado, que é o que, hoje em dia, se oferece aqui no Colégio: mestrado em ciências, em defesa e segurança interamericana. Esse é o nome que recebem os estudos hoje aqui no CID. Também temos o cuidado de termos uma representatividade dos países mas, obviamente, são contratados de diversas procedências. Nós os temos contratado, em sua maioria, por intermédio da Junta Interamericana de Defesa, assim como os países proporcionam o que chamamos contribuição nacional. Este ano temos, por exemplo, a contribuição nacional do Brasil de dois professores: o dr. Paulo Edvandro Costa Pinto e o professor Carlos Eduardo Acevedo. Eles são considerados uma contribuição nacional do Brasil ao corpo docente do colégio. Também temos o apoio dos Estados Unidos que indica, a cada um ou dois anos, um professor do Departamento de Estado que também deve ter conhecimento do sistema interamericano. Temos professores adjuntos a quem os mesmos professores permanentes do corpo docente convidam. Neste caso, temos o professor Manuel Lora, do Peru, que também é um professor adjunto. Temos a dra. Mirles, de Cuba. Temos o dr. Eduardo Roberto Pereira, da Argentina, e o professor Daniel Macís, que é um dos mais antigos que temos aqui no corpo docente, que representa os Estados Unidos, mas tendo nascido na Costa Rica. Então, como requisitos fundamentais, [um aspirante] deve ser doutor em alguma das áreas que são oferecidas aqui no Colégio. Temos a área econômica que é proporcionada pela dra. Reyes, de Cuba. Temos matérias de pensamento estratégico, enfocadas nas áreas militares que são ministradas pelo dr. Pereira, que tem a experiência de ter exercido a função de almirante-de-esquadra em seu país. Ou seja, é um militar reformado que hoje é doutor e professor do corpo docente. Temos também o dr. Costa Pinto, com área de especialização em direitos humanos e direito internacional. Quer dizer, é uma seleção também por parte do Colégio, da direção, dos países a quem também convidamos a participar nas áreas onde haja disponibilidade. E, obviamente, os convidamos para que também indiquem professores.