O Almirante de Esquadra Carlos Eduardo Abilleira Aris, comandante em chefe da Marinha do Uruguai, quer transformar a sua instituição militar em uma entidade mais eficiente e operativa. Para tal, ele se concentra na consolidação do Comando de Fuzileiros Navais e na unificação dos centros de Controle de Tráfego Marítimo.
O Alte Esq Abilleira participou da XVIII Conferência Naval Interamericana (CNI) realizada em Cartagena, Colômbia, entre os dias 23 e 26 de julho de 2018. Na ocasião, ele conversou com Diálogo sobre a sua participação na CNI e o trabalho coordenado com os países vizinhos para controlar os flagelos do narcotráfico e das atividades criminosas, entre outros temas.
Diálogo: Qual é a importância da participação do Uruguai nessa conferência?
Almirante de Esquadra Carlos Eduardo Abilleira Aris, comandante em chefe da Marinha do Uruguai: Para a maioria dos países participantes, esse tema tem uma importância substancial e creio que ele nos impacta a todos de uma maneira similar. A diferença dos enfoques está no fato de que o narcotráfico, que foi o tema da nossa proposta nessa conferência, afeta os países de maneiras diferenciadas, alguns com maior grau de intervenção interna, porque são produtores [de drogas], outros têm problemas por contribuírem ou facilitarem a comercialização e outros sofrem com esse flagelo na escala final, que tem a ver com o consumo. O Uruguai não é um país produtor no que refere ao narcotráfico, mas colabora e cumpre o seu compromisso internacional de cooperar com o esforço para tentar eliminar essa ameaça à paz, segurança e saúde das nossas populações.
Diálogo: Por que o senhor considera importante que as marinhas conversem sobre esse tema?
Alte Esq Abilleira: Justamente porque o narcotráfico utiliza todos os meios de transporte em seus negócios: aéreos, terrestres e marítimos. O meio marítimo tem a grande vantagem para o narcotráfico de ser capaz de transportar grandes volumes e, dentro do sistema que regula o comércio marítimo, os navios, que são responsáveis pelo transporte de mais de 80 por cento das cargas em nível global, oferecem a oportunidade de adulterar e ocultar as cargas ilegais (drogas) nas próprias cargas legais ou em seus contêineres.
Diálogo: Qual é a importância da CNI para a Marinha do Uruguai em relação à luta contra o narcotráfico e às ameaças comuns?
Alte Esq Abilleira: Essa conferência traz uma enorme contribuição. Particularmente, quero destacar um elemento com o qual todos os comandantes estamos de acordo, de que precisamos melhorar as informações sobre o tráfego marítimo e a inteligência. Concordamos que a maior possibilidade para que tenhamos sucesso está em que essa informação de inteligência venha de forma oportuna, quer dizer, em tempo real.
Diálogo: Como a Marinha do Uruguai apoia as forças navais da região nessa luta frontal?
Alte Esq Abilleira: Temos diferentes organizações; integramos redes de controle de tráfego marítimo, através das quais intercambiamos e passamos as informações referentes ao trânsito dos navios e suas cargas. Também realizamos exercícios e utilizamos diferentes tipos de unidades de maneira operacional, dependendo do cenário ou do teatro de operações. Utilizamos procedimentos e tentamos padronizá-los não apenas para melhorar a interoperacionalidade, mas também para atender a casos complexos, como os rios em áreas limítrofes, onde os acordos e a cooperação bilateral são fundamentais.
Diálogo: O navio-escola Capitán Miranda está em fase de reforma. Quais são os avanços feitos a esse respeito?
Alte Esq Abilleira: O navio passou pelo que se denomina uma reforma de vida longa. Ele recebeu novos motores e todos os sistemas da sala de máquinas foram reformados, inclusive o sistema de controle, que, do mesmo modo que os sistemas de ponte de navegação, foram duplicados para permitir a instrução dos guardas-marinhas que embarcam na sua viagem de graduação, entre outras transformações em nível de estrutura e casco. Com essas mudanças temos a esperança de contar com um navio com equipamentos mais modernos, pois ele foi construído em 1930, e isto nos permitirá utilizá-lo por muitos anos mais.
Diálogo: Qual é o seu enfoque mais importante atualmente?
Alte Esq Abilleira: Tornar a nossa tarefa mais eficiente, ou seja, realizar as mesmas tarefas com orçamento e pessoal reduzidos, em virtude de certas reestruturações e da redução das forças armadas, que deverão ainda se adaptar a um orçamento menor. Assim sendo, como foi mencionado anteriormente, estamos passando por uma reestruturação das forças de infantaria, unificando as forças de infantaria da Prefeitura (com atribuições de polícia marítima similares às da guarda costeira) com as forças de infantaria do Comando da Frota (que tinham funções de defesa acional), em um único Comando de Fuzileiros Navais, para que possam servir a ambos os propósitos, tanto para a defesa em missões típicas dos fuzileiros navais como em missões relativas ao narcotráfico e ao apoio à Polícia Marítima.
Esse ano planejamos unificar os três centros de Controle de Tráfego Marítimo. Temos três centros separados que coordenam e supervisionam todo o tráfego marítimo em nossa jurisdição: um é subordinado ao Comando da Frota, para controlar suas unidades destacadas e cobrir as missões de busca e resgate; o outro é subordinado à Direção de Tráfego Marítimo da Prefeitura, para controlar e assistir a entrada e saída dos navios nos portos e apoiar a navegação costeira; e o terceiro é o Centro de Controle Naval do Tráfego Marítimo, que funciona dentro do programa do plano CODEFTRAMI [Coordenação para a Defesa do Tráfego Marítimo], com todas as marinhas da região da Área Marítima do Atlântico Sul (AMAS), para garantir a segurança dessas linhas de comunicação.
Diálogo: Desde que o senhor assumiu o comando, em fevereiro de 2018, qual é o seu desafio mais importante?
Alte Esq Abilleira: Efetuar essas transformações e tentar conseguir aquelas que mencionei do Corpo de Fuzileiros Navais e do controle do tráfego. Também precisamos adquirir novos meios, sobretudo de superfície, já que nossa capacidade de patrulhamento com navios além das 200 milhas está muito deficitária. Pensamos em uma configuração muito mais econômica, como os patrulheiros oceânicos. Da mesma maneira, nos preocupa a questão da tecnologia, pois temos que adquirir tecnologia principalmente para salvaguardar melhor as fronteiras e sermos mais efetivos na questão do narcotráfico.
Diálogo: Quais são os acordos, exercícios ou atividades que a Marinha do seu país realiza com a Argentina e o Brasil para controlar os flagelos do narcotráfico e as ações criminosas?
Alte Esq Abilleira: Especialmente a AMAS, que mencionei antes, uma organização criada em 1959 para realizar missões inerentes ao narcotráfico. Nessa organização intervêm não apenas os países ribeirinhos do Atlântico Sul da América do Sul, que são o Brasil, o Uruguai e a Argentina, mas também o Paraguai. Essa rede funciona permanentemente e o coordenador é um oficial almirante com rotatividade no cargo a cada dois anos. Atualmente a coordenação está sob a responsabilidade do Uruguai, desde março de 2018, e em março de 2020 será transferida para o Brasil. Temos uma doutrina comum de emprego que não somente inclui a análise de informações, mas também a participação das marinhas em exercícios anuais. Temos o ACRUX, sobre operações ribeirinhas, e realizamos operações bilaterais como, por exemplo, as operações Fraterno, com o Brasil, e o exercício naval combinado PASSEX.
Diálogo: Como Estado participante do Tratado Antártico, vocês realizam operações na Antártida?
Alte Esq Abilleira: Nós apoiamos a Base Científica Antártica General Artigas na Ilha Rey Jorge e a Estação Científica Antártica Ruperto Elichiribehety. Damos apoio logístico por mar através de nossos navios antárticos, o ROU 4 Artigas e o ROU 26 Vanguardia, que são embarcações de múltiplos propósitos e capazes de fazer todo o abastecimento para que as bases funcionem por um ano.
Diálogo: Qual é a sua mensagem para os almirantes da CNI, para que trabalhem de maneira conjunta?
Alte Esq Abilleira: Precisamos aprofundar as nossas relações e participar dessas conferências. Ao conhecer-nos pessoalmente, abrimos novas possibilidades de confiança para criarmos laços mais amplos de amizade, que possibilitam a criação de outros acordos de cooperação e, principalmente, o intercâmbio oportuno de inteligência, sem a típica relutância que as agências especializadas têm entre si.