Proteger dois mares, nove fronteiras marítimas e enfrentar as ameaças internas e externas da Colômbia são as principais tarefas do comandante da Marinha Nacional da Colômbia, Almirante de Esquadra Gabriel Alfonso Pérez Garcés. Isso é possível, disse em conversa com Diálogo, graças ao alto nível de profissionalismo do pessoal, ao prestígio nacional e internacional, aos meios tecnológicos e à frota naval e fluvial adequada. Além disso, afirma que a instituição conta com uma ampla capacidade de apoio para a população em numerosas situações de ajuda humanitária.
O Alte Esq Pérez falou do comando sobre os avanços da Marinha na luta frontal contra as organizações criminosas, sua experiência militar e os avanços tecnológicos que eles estão preparando.
Diálogo: As operações da Marinha têm dado duros golpes ao narcotráfico. Que tipo de operações combinadas e conjuntas realizam para alcançar o sucesso?
Almirante de Esquadra Gabriel Alfonso Pérez Garcés, comandante da Marinha Nacional da Colômbia: Para ter sucesso na luta contra as drogas, a Marinha realiza operações conjuntas com o Exército Nacional e a Força Aérea Colombiana nas áreas sob sua jurisdição. Também realiza operações coordenadas com a Polícia Nacional e operações interinstitucionais com outras entidades do Estado colombiano, tais como a Procuradoria Geral da Nação, a Direção Nacional de Impostos e Alfândegas e a Unidade de Informação e Análise Financeira, entre outras.
Essa sinergia institucional se configura como uma Ação Unificada do Estado e das Forças Militares, o que permite alcançar os objetivos estratégicos estabelecidos pela Direção Estratégica Nacional, para afetar as estruturas do narcotráfico em todas as suas cadeias, incluindo o cultivo, o processamento, o transporte e os rendimentos provenientes da comercialização de drogas ilícitas.
Além disso, a instituição promove e participa da concepção de estratégias bilaterais e multilaterais para incrementar tanto o intercâmbio de informações de inteligência, como a construção de uma consciência situacional marítima comum e compartilhada, para antecipar qualquer tipo de ameaça associada ao domínio marítimo.
Essas estratégias incluem a arte e o projeto operacional da Campanha Naval contra o Narcotráfico Orión, da qual participam mais de 40 países e 102 agências ou instituições de natureza heterogênea, incluindo marinhas de guerra, forças aéreas e terrestres, agências de inteligência e de aplicação da lei, bem como corpos de polícia e alfândegas, entre outros. Outros exemplos de operações binacionais e multinacionais contra o narcotráfico, nas quais a Marinha da Colômbia está ativamente envolvida, são: “Tucane Royal”, com a França, “COL-HOL”, com a Holanda, e “Kraken”, com os Estados Unidos, Panamá e Costa Rica, entre outros.
Diálogo: Qual é o valor agregado da Campanha Naval contra o Narcotráfico Orión?
Alte Esq Pérez: O valor agregado é a geração de confiança e a conscientização do conceito de responsabilidade compartilhada entre todos os participantes. A responsabilidade compartilhada torna possível definir o objetivo estratégico da campanha, que é a ruptura do narcotráfico, enquanto a confiança fortalece e dinamiza os processos multilaterais de coordenação operacional marítima, somando esforços e capacidades para o objetivo estratégico comum.
O impacto do valor agregado da Orión se reflete em seus resultados após quatro anos de implementação: 2.292 traficantes de drogas capturados e 546 toneladas de cocaína apreendidas. De acordo com a Força-Tarefa Conjunta Interagencial Sul (JIATF Sul) dos EUA, essa dilaceração evitou 5.460 mortes por overdose e 273.000 novos usuários nos EUA, ao mesmo tempo que afetou negativamente as finanças e os rendimentos ilegais do narcotráfico em aproximadamente USD 18,4 bilhões.
Diálogo: Como a Marinha está se preparando para impedir a passagem de “narcossubmarinos”?
Alte Esq Pérez: Como parte da estratégia de luta contra as drogas denominada Rede Naval, Soma de Esforços e Capacidades, a Marinha criou o Centro Internacional Marítimo de Análise contra o Narcotráfico (CIMCON), cujo objetivo é gerar conhecimento e compreensão do comportamento do sistema ilegal do narcotráfico, para apoiar os processos de inteligência e de tomada de decisões operacionais. Entre outras atividades, o CIMCON analisa em detalhes os meios de transporte marítimo de drogas ilegais, incluindo o de semissubmersíveis e submersíveis.
Como resultado desse processo, a Marinha melhorou suas capacidades, procedimentos e treinamento para a detecção e interdição de semissubmersíveis e submersíveis a partir de pequenas anomalias de radar na superfície do mar, bem como para o reconhecimento e vigilância de áreas geográficas de difícil acesso, onde esses tipos de dispositivos são fabricados, alistados, carregados e lançados. Essa melhoria leva à disponibilidade de maior quantidade e melhor qualidade de informação de inteligência naval relevante, à subseqüente detecção e interrupção de semissubmersíveis e submersíveis e ao desmantelamento de organizações envolvidas em sua fabricação.
Diálogo: Uma das ações da Marinha é combater a pesca ilegal. Que progresso estão fazendo contra esse flagelo?
Alte Esq Pérez: Uma das cinco atividades que a Marinha inclui no chamado “Pentágono Naval” é a segurança ambiental, que visa proteger os mares e rios, prevenir a poluição, combater o tráfico ilegal de espécies, controlar rigorosamente a exploração irracional de recursos e proteger as espécies em perigo de extinção ou sobre as quais existem proibições, o que inclui todas as ações necessárias para combater a pesca ilegal.
Através do plano Artemisa Naval, a Marinha protege a biodiversidade e os recursos naturais, conduzindo operações navais com o apoio da Ação Unificada do Estado, o que permite uma atitude pró-ativa e decisiva para evitar a presença de lanchas a motor envolvidas em atividades de pesca ilegal.
Graças a isso, nos últimos quatro anos, foram apreendidas mais de 119 toneladas de pesca ilegal e foram detidas 55 embarcações, que, em conjunto, têm um potencial de pesca de 1.856 toneladas por ano.
Diálogo: Como a Marinha está contribuindo ao esforço nacional para garantir a segurança dos cidadãos nas próximas eleições presidenciais?
Alte Esq Pérez: A Marinha está trabalhando de forma conjunta, coordenada e interagencial com outras instituições militares e governamentais, para garantir a segurança dos cidadãos nas próximas eleições presidenciais. Essa tarefa é realizada sob as diretrizes emitidas pelo Ministério da Defesa Nacional, através do plano Ágora, e pelo Comando Geral das Forças Militares, através do plano Democracia 2022. Para esse fim, a Marinha implementou medidas de segurança marítima, fluvial e terrestre com mais de 5.800 tripulantes, visando antecipar e mitigar qualquer intenção de afetar o desenvolvimento normal das eleições presidenciais.
Diálogo: O senhor foi o oficial de ligação da Marinha da Colômbia na JIATF Sul. Como essa experiência o ajudou a fortalecer o trabalho interagencial da Marinha?
Alte Esq Pérez: A experiência como oficial de ligação na JIATF Sul me ajudou a fortalecer o trabalho interagencial da Marinha em três aspectos principais.
O primeiro está relacionado à compreensão da importância de criar pontos de coordenação, os quais são indispensáveis para um fluxo seguro e expedito de comunicações entre as forças, instituições, agências e organizações com as quais estamos trabalhando.
O segundo é a necessidade prioritária de definir um interesse comum, ou um objetivo para o qual todos os participantes da organização se comprometam a dispor de recursos humanos, econômicos e militares.
Por último, mas não menos importante, é essencial construir a confiança entre os participantes, especialmente quando se trabalha com agências não-militares, onde a confiança é construída sobre a cooperação e a coordenação, e não sobre o exercício do comando e do controle.
Diálogo: Que progressos estão sendo feitos no Plano de Construção e Otimização Naval, PROCYON (em espanhol)?
Alte Esq Pérez: O PROCYON visa preservar as capacidades estratégicas da Marinha para a defesa e a integridade territorial, através de um esforço para construir e adquirir novas plataformas e manter e otimizar as existentes até o final de sua vida útil. O plano também se baseia no conceito de uso da frota e sua manobra, ou seja, é concebido a partir da necessidade operacional e considera o equilíbrio entre as capacidades de defesa e segurança exigidas pelo Estado, para atingir seus objetivos e proteger seus interesses.
O PROCYON integra e arrasta os vetores de desenvolvimento industrial, tecnológico e acadêmico, a partir das bases existentes da indústria de construção naval e de defesa nacionais, com impacto direto nos setores priorizados pelo governo, tais como as indústrias do movimento (automotiva, de construção naval e aeroespacial) e as indústrias da Quarta Revolução Industrial 4.0. Esse plano está sendo avançado dentro do horizonte de progresso definido no Plano de Desenvolvimento Naval, com uma visão até 2042, com ênfase inicial no planejamento orçamentário para garantir os recursos a médio e longo prazo.
Para ver a entrevista completa com o Almirante de Esquadra Gabriel Alfonso Pérez Garcés, comandante da Marinha Nacional da Colômbia, clique no seguinte link: https://dialogo-americas.com/pt-br/articles/almirante-de-esquadra-gabriel-alfonso-perez-garces-comandante-da-marinha-nacional-da-colombia/#.YqC-jsXMLZ4