Em meados de novembro, o regime ilegítimo de Nicolás Maduro aumentou o salário dos militares para amortizar o impacto da hiperinflação, informaram os portais de notícias El Pitazo (Venezuela) e Infobae (Argentina).
Segundo o Vice-Almirante (R) Jesús Briceño García, ex-comandante da Marinha da Venezuela e assessor externo da Comissão de Defesa da Assembleia Nacional, um general de brigada receberia US$ 17 mensais, enquanto um subtenente, com a mesma antiguidade, receberia no máximo US$ 14.
A nova tabela estabelece um salário básico de 2,7 milhões de bolívares para um capitão-tenente ou 2º tenente recém formado. Esse valor seria equivalente a cerca de US$ 5. O rendimento mensal desses oficiais subalternos poderia chegar a US$ 7,5, caso merecessem a primazia por antiguidade e profissionalização. No caso dos tenentes-coronéis ou capitães de fragata, o máximo rendimento a que poderiam aspirar corresponderia a US$ 13,8.
A remuneração dos militares continua sendo insignificante em um país onde o valor da cesta básica para alimentar uma família de quatro pessoas chega a US$ 270 por mês.
Luis Manuel Esculpi, ex-deputado da Assembleia Nacional e analista de assuntos militares da fundação venezuelana Espacio Abierto, que promove o desenvolvimento da cultura e a formação política, informou que esse aumento não satisfez as expectativas dos próprios militares, o que se traduziu em um aumento nas solicitações de baixa e, em alguns casos, deserções.
Ele lembrou que em anos anteriores a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) era um atrativo para as pessoas das classes mais baixas da sociedade, pois permitia certo nível de profissionalização, e os militares em serviço gozavam de benefícios como boa alimentação, serviços hospitalares de primeira qualidade, acesso a créditos para a aquisição de moradias, veículos e eletrodomésticos.
“Anteriormente, os oficiais tinham facilidades, como refeitórios e moradia nas guarnições. Agora, a comida é muito ruim, quando existe. Isso está afetando a permanência dos tenentes e capitães e minou a base da força”, disse ele.
De acordo com Esculpi, diante dos salários deficientes e da eliminação de fato dos benefícios mencionados, os chefes de unidades tiveram que ser condescendentes com certas condutas que eram proibidas nos quartéis.
“Podemos ver sargentos que são taxistas nas horas vagas. E a novidade é que as esposas dos oficiais agora passaram a vender bolos, hallacas [pamonha venezuelana] e pernis, para complementar os salários. E estão tendo acesso aos quartéis”, acrescentou.
Segundo o V Alte Briceño, esse foi o quinto aumento dado no interior da FANB em 2020.
A diferença entre os salários dos militares e dos demais funcionários públicos é notória. Segundo Douglas León Natera, presidente da Federação Médica da Venezuela, um profissional de saúde com 20 anos de experiência não receberia mais de US$ 5 mensais. E os médicos e demais equipes dos hospitais foram os mais expostos a contagiar-se e morrer durante a pandemia da COVID-19.
O V Alte Briceño advertiu que isso faz parte de uma “estratégia política”, cujo propósito é “disseminar o ódio na sociedade civil contra todos os militares”.
“Essa é uma estratégia do regime para destruir a instituição. Mas, a realidade é que os membros das Forças Armadas vivem tão mal quanto qualquer outro integrante da sociedade civil”, garantiu.