A frota chinesa que periodicamente ameaça as Ilhas Galápagos, no Equador, vai mais além da pesca predatória com a qual saqueia os oceanos da América Latina. Os navios lançam no mar toneladas de lixo que devastam a vida silvestre, contaminam as águas e destroem um ecossistema que abriga mais de 7.000 espécies endêmicas.
Garrafas, recipientes com óleo para embarcações e sacos de juta com etiquetas chinesas se acumulam nas praias. Estima-se que 30 por cento do lixo recolhido na costa das ilhas vem dessas frotas chinesas que pescam na frente do mar insular do Equador, revelou um estudo do biólogo Juan Pablo Muñoz-Pérez, da Universidade San Francisco de Quito, publicado no dia 14 de fevereiro de 2022 no portal ambiental Mongabay.
E embora não existam fotos da tripulação chinesa lançando lixo no mar, os pesquisadores e pescadores encontram recipientes com etiquetas chinesas em boas condições e dentro da data de validade. “O lixo do Peru e do Equador é arrastado pelas correntes marinhas a partir do continente, mas é quase impossível que uma partícula chegue da China flutuando contra a corrente até Galápagos”, acrescentou Muñoz-Pérez.

O plástico está entre os materiais que causam mais danos à fauna. Os pesquisadores detectam plástico nas vísceras dos peixes e encontram iguanas e lobos marinhos presos no lixo e tartarugas asfixiadas por sacolas plásticas.
Segundo dados do Parque Nacional Galápagos publicados no Twitter, somente durante a jornada de limpeza realizada no dia 12 de fevereiro por 100 voluntários, foram recolhidos 820 quilos de lixo no parque. “Os dejetos classificados foram entregues aos governos municipais para seu descarte final”, acrescentou.
Perigo de extinção
Ao problema do lixo se soma a sobrepesca, que põe as espécies em risco de extinção. “A pesca da lula gigante enfrenta um perigo claro e presente de crescimento contínuo e não controlado do esforço de pesca exercido pela frota chinesa”, publicou no Facebook Alfonso Miranda Eyzaguirre, presidente do Comitê para a Gestão Sustentável da Lula Gigante no Pacífico Sul, um grupo composto por agentes líderes da indústria pesqueira do Chile, Equador, México e Peru.
Miranda Eyzaguirre denunciou durante a X Reunião da Comissão da Organização Regional de Administração Pesqueira do Pacífico Sul, realizada no dia 28 de janeiro no Peru, que 631 embarcações chinesas estariam atualmente pescando lulas gigantes de forma irregular no Pacífico Sul, prejudicando o Peru, o Chile e o Equador.
Essa frota chinesa repete anualmente um percurso que chega até o arquipélago. Em maio, os barcos começam a cruzar através do Estreito de Magalhães, no extremo sul do Chile, até o Oceano Pacífico. Dali navegam até o limite do mar territorial peruano, param para pescar e em seguida passam para os limites da zona econômica exclusiva das Galápagos, no Equador, de acordo com um relatório do Noticiero Universal, do Uruguai.
No dia 8 de setembro, as Ilhas Galápagos completarão 44 anos como Patrimônio Natural da Humanidade declarado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, em inglês). Foi o primeiro lugar colocado pela UNESCO na Lista do Patrimônio Mundial, em 1978.